#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

[rango] OS PAPÉIS CULTURAIS E AFETIVOS DA COMIDA

:: txt :: Juliana Dias ::

Os hábitos alimentares, afirma o antropólogo norte-americano Sidney Mintz, são veículos de profunda emoção. Para o autor, a comida e o comer são centrais no aprendizado social por serem atividades vitais e essenciais, embora rotineiras. As atitudes em relação à comida são aprendidas cedo e bem. Na visão de Mintz, esse comportamento alimentar é nutrido por adultos afetivamente “poderosos”, que conferem um poder sentimental duradouro. Assim, ele explica que o lugar onde crescemos e as pessoas com quem convivemos vão aos poucos construindo um material cultural. Esse material dá forma ao nosso comportamento alimentar que “se liga diretamente ao sentido de nós mesmos e à nossa identidade social” (2001, p 31). A maneira como nos alimentamos revela constantemente a cultura em que estamos inseridos.

Ao longo dos anos os hábitos alimentares podem mudar completamente. E essa mudança desvela as facetas do comer, pois para Mintz esse comportamento pode, simultaneamente, ser o mais flexível possível e o mais arraigado de todos os costumes. “Há uma estranha congruência entre conservadorismo e mudança que nos acompanha no estudo da comida”, explica o autor, que se dedicou a estudar a função social da alimentação, a partir de espécies únicas como açúcar e soja. Apesar das evidentes mudanças no gosto e nas preferências de cada pessoa, a memória e o peso do primeiro aprendizado alimentar, e algumas das formas sociais aprendidas, talvez permaneçam para sempre em nossa consciência, como sugere o antropólogo. Para comprovar sua tese, ele cita a madeleine de Proust como o caso mais famoso.

O francês Marcel Proust atribuiu ao olfato e paladar o poder de convocar o passado. O escritor do clássico Em busca do tempo perdido dedicou à madeleine, bolinho de limão em forma de concha, e ao chá, o resgate de sua memória de infância. Essa experiência marca sua vida de maneira indelével, pois ele retoma com vigor o seu exercício da escrita. Antes desse encontro gustativo, sua carreira estava fadada ao fracasso. Ele vivia recluso e doente num quarto em Paris, mas a comida lhe restaurou as forças. A descrição sobre esse momento testemunha o quanto a memória está ligada ao que comemos: “Mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa. Esse prazer logo me tornara indiferentes às vicissitudes da vida (…)” (1983, p. 31).

Na recém-lançada obra póstuma O Cozinheiro do Rei (Ed. Madras), de Zé Rodrix, encontramos a força da experiência proustiana num menino índio, de aproximadamente 5 anos, chamado Pedro Karaí. Se Proust revive com madeleines na França, Karaí renasceu com mingau de tapioca com farinha de peixe na tribo dos Mongoyós, à beira do Rio de Contas, no sertão da Bahia.

Em uma brincadeira rotineira de pular no rio, o menino bateu com a cabeça numa rocha. Ficou desacordado, perdeu os sentidos e vivenciou a morte de perto. Ele também estava num momento crítico, entre a vida e a morte, tal qual Proust, quando alguma coisa que ele não via, “exalava um cheiro delicioso que penetrava as narinas e lhe enchia a boca de água”. O olfato e o paladar convocaram o breve passado do menino, como intuiu Proust, ao ser tocado pela madeleine com o chá. No caso brasileiro, a visão foi incluída nessa experiência multissensorial. A comida vai além de saciar o estômago.

A receita que mudou o olhar de Karaí foi preparada por sua mãe, um desses adultos “poderosos”, citados por Mintz, que marcou o filho com um poder sentimental duradouro. Remete também à comida como medicamento, o cuidado e o amor expressos numa refeição preparada especialmente para alguém. Na descrição, identifico também elementos do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), ao falar sobre o acesso a alimentos de qualidade, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde (MALUF, 2007, p. 17).

A descrição de Rodrix, músico e compositor, é rica, poética e emocionante como a de Proust, só que com a comida brasileira, o que remete implacavelmente a nossa identidade social, confirmando a tese de antropólogo: comida é memória; comida é cultura. A mandioca, considerada pelo folclorista Câmara Cascudo, Rainha do Brasil, foi o elo de ligação com a memória do pequeno índio, trazendo uma nova perspectiva sobre o que significa comer e, assim como no caso do escritor francês, marcou sua trajetória radicalmente. Rodrix faleceu em 2009, e uma de suas canções mais conhecidas é “Casa no Campo”.

A seguir, o relato de Karaí, o qual considero nossa genuína experiência proustiana:

“Minha mãe trazia nas mãos uma cuia de cabaça cheia de alguma coisa que eu não via, mas que exalava um cheiro delicioso, que me penetrava as narinas e me enchia a boca de água. Quando ela colocou em frente à minha boca, erguendo-me o pescoço para que pudesse nela encostar meus lábios, a visão da superfície cinzenta e brilhante me encheu os olhos de lágrimas. O mingau de tapioca com farinha de peixe, feito com todo o cuidado sobre as brasas de uma fogueira do dia anterior, escorreu por minha boca, acariciando-me a língua e revestindo de delícias as paredes da minha garganta. Entrou por meu organismo adentro, enchendo meu estômago de alegria e paz, fazendo-me perceber, pela primeira vez na vida, o que era a fome e sua satisfação. Pensei, com minha cabeça de menino índio, que a coisa mais bela da vida era dar de comer a quem tem fome.

“Nunca havia sentido apetite (…). Mas de repente me interessava muito esse fenômeno estranho, que cresce como uma dor e uma falta, e se esgota não apenas pela quantidade, mas principalmente pela qualidade mais difícil de reter: o sabor. Misto de cheiro e paladar, com grande influência da visão que dela se tenha, a comida é o sabor aprisionado, que se libera gradativamente em contato com o nosso corpo, enchendo de prazer cada um de nós, até que a falta de novo se instale em cada um, e de novo precise ser preenchida (…). De uma maneira determinada, tudo estava incluído no cheiro, na visão e no gosto daquele mingau de tapioca com farinha de peixe, primeira inclusão de meu corpo em um universo no qual viveria minha vida e do qual extrairia, em doses às vezes díspares, às vezes insuportáveis, o terror e a felicidade que a todos acompanham nossa viagem pelo mundo”. (2013, p. 29-30).

Ao trazer essas experiências para o contexto da divulgação de informações sobre alimentação e da Educação Alimentar e Nutricional, devemos nos lembrar do diálogo entre Proust, Karaí e Mintz. As experiências proustianas se repetem permanentemente, em diferentes cenários culturais. Esse adulto, responsável por transmitir o material cultural comestível, pode ser representado por diversos atores sociais, como a família (pai, mãe, avós e tias); merendeiras; cozinheiros; e nutricionistas. Só não deveria ser representado por indústrias alimentícias que estão de olho nessa relação duradoura, somente pelo lado do consumo.

Na interseção entre alimentação e educação, as ideias do sociólogo Carlo Petrini, fundador da associação Slow Food, sustentam que o aprendizado deve ser saboroso e com corpo inteiro, não apenas com o intelecto. No documento Manifesto pela Educação (SLOW FOOD, 2010), destaco alguns princípios que se alinham com a experiência proustiana, e podem servir de inspiração para colocar em prática o sabor do conhecimento pela comida e pelo comer.

Para o Slow Food, a educação “é um caminho íntimo, que envolve a dimensão cognitiva, experiencial, afetiva e emocional; alimenta-se do contexto no qual se encontra, valorizando memória, saberes e culturas locais; desenvolve a consciência de si mesmo, do próprio papel e das próprias ações; e promove mudanças, gerando pensamentos e comportamentos novos e mais responsáveis”. Nesse diálogo, convido também o educador Paulo Freire ao sugerir que não se deve separar o cognitivo do emocional no aprendizado: “estudamos, aprendemos, ensinamos e conhecemos (…) com o nosso corpo inteiro. Com os sentimentos, com as emoções, com os desejos, com os medos, com as dúvidas, com a paixão e com a razão crítica (1998, p. 8). Mintz, Proust, Karaí, Petrini e Freire postos numa mesma conversa nos mostram a centralidade de alimentação para o indivíduo e a sociedade; e como os sentimentos que nos alimentam são capazes de acessar a realidade e, por vezes, transformá-la.

Referências bibliográficas
FREIRE, Paulo. Professora sim, Tia não: Cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’ água, 1998.
MALUF, J,S, R. Segurança alimentar e nutricional. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 2007.
MINTZ, S. Comida e antropologia: uma breve revisão. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 16, n º47, p 31-42. 2001.
________SLOW FOOD. Manifesto pela Educação. VII congresso Nacional, Albano Terme, 16 de maio de 2010. Disponível em http://www.slowfoodbrasil.com/campanhas-e-manifestos/711-manifesto-slow-food-pela-educacao.
PROUST, Marcel. No Caminho de Swann. Trad. Mário Quintana. São Paulo. Ed. Abril Cultural, 1982.
RODRIX, Z. O cozinheiro do rei: as aventuras e desventuras de Pedro Karaí Raposo, entre o Rio de Contas e a Corte de 17773-1823. São Paulo, Madras, 2013.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

[agência pirata] A REPÚBLICA FEDERATIVA DO FACEBOOK

:: txt :: Aurélio Munhoz ::

  Incendiários debates marcam a vida agitada no universo virtual do Facebook há algumas semanas. Entre tantos, o antagonismo das posições dos usuários sobre a escatologia verbal de Rachel Sheherazade a respeito da agressão da comunidade a um adolescente nas ruas do Rio de Janeiro, o circo de horrores exibido pelas empreiteiras/ clubes de futebol na execução das obras da Copa do Mundo de 2014, bem como o beijo gay que marcou a última novela da principal emissora de TV do País.

  O alto grau de octanagem destes debates e sua amplitude confirmam a relevância dos três temas para a sociedade (violência, sexualidade e escândalos na esfera pública), mas vão muito além disso. Comprovam o inacreditável sucesso da rede social que, com apenas dez anos de existência, é dona de um portfólio formado por um bilhão de almas no planeta e mais de 80 milhões no Brasil. O Facebook é, com toda justiça, a jóia da coroa do mundo virtual.

  É com estas credenciais que o império construído por Mark Zuckerberg se consolida como uma espécie de versão virtual – elevada, porém, à milionésima potência – do Speakers’ Corner, o despojado pedaço de chão localizado em uma das muitas curvas do famoso Hyde Park, em Londres.

  Lá, postados em banquetas trêmulas de madeira ou em escadinhas de metal, malucos de todos os matizes falam (quase) tudo o que querem a uma platéia 99% interessada em ouvir suas chorumelas, mas apenas 1% disposta a empunhar suas bandeiras.

  No Speakers’ Corner planetário em que se constitui o FB, o limite é o infinito. Talvez seja justamente esta capacidade de garantir visibilidade em escala inimaginável a cidadãos ignorados pelo mass media que, somada à sanha verborrágica da Nação, explique seu sucesso no Brasil e ajude a entender porque os usuários postam em suas páginas uma paleta de propósitos com tons tão variados: fofocas, desabafos, brincadeiras, confissões, ofensas, desejos, cretinices, medos, frustrações, provocações, cantadas, sacanagens, mentiras e, enfim, verdades e grandezas profundas da condição humana.

  Neste rol infindável de motivações, o Facebook tanto pode ser um divã de psicanalista virtual quanto um diário de bordo que os usuários fazem questão de compartilhar com seus iguais (e muitas vezes também com os diferentes) na tentativa de perpetuar suas conquistas, expor convicções, amenizar as dores provocadas pelas chagas da alma que a vida lhes impõe ou apenas exercer uma pretensa vocação para a chacota.

Mundo paralelo

  Pois bem. Este artigo sugere que exatamente porque a linguagem escrita é a forma de expressão maior do FB – e que fazemos uso dela com tamanha e tão difusa profusão – a rede social criada por Zuckerberg ganha status da tradução contemporânea mais fidedigna da Nação que somos. Ou que queremos ser.

  Mais curioso ainda é que os perfis de muitos usuários brasileiros do Facebook tornam atualíssima a principal contribuição teórica do avô dos historiadores brasileiros, Sérgio Buarque de Hollanda. No clássico dos clássicos “Raízes do Brasil”, obra que completa 74 anos em 2014, Sérgio discorre sobre os brasileiros e foca sua análise em uma característica intrínseca ao seu modo de ser: a cordialidade.

  Para o autor, porém, cordial nada tem a ver com fidalguia, mas com a palavra latina cor, cordis; coração, em bom Português. O que significa que, para Sérgio, o tal do homem cordial não é exatamente um sujeito gentil, mas uma pessoa movida a emoções, não aos ditames da razão. A gangorra dos sentimentos, em suma, tão característica dos passionais brasileiros.

  Na extensão desta linha de raciocínio, antecipando o que o antropólogo Roberto da Matta sentenciaria quase 50 anos depois em “a Casa e a Rua”, o autor considera ainda que o homem cordial mistura público e privado no mesmo tacho e não é muito afeto a esta tantas vezes desprezada civilidade nacional.

  Dito isso e considerando sua teoria como válida, impossível não pensar que o perfil de boa parte do público que navega pelo Facebook – até pela abordagem dos temas citados – nada mais é que a reprodução destes tantos aspectos difusos dos brasileiros, dissecados pelo mestre Sérgio Buarque de Hollanda.

  É assim, por exemplo, quando brasileiros de todas as regiões e classes (comprovando que a passionalidade não tem divisas, nem faz distinções de saldos bancários) substituem o cérebro pelo fígado no trato de questões sociais complexas, como os temas citados: violência, sexualidade e corrupção. E, ao fazê-lo, cometem frequentemente o equívoco de tomar suas opiniões como expressões da verdade e, ainda, de ignorar, satanizar ou ridicularizar as posições divergentes.

  Isto ocorre porque, inaptos para reunir todos os elementos da vida social capazes de lhes propiciar uma análise realista e objetiva do mundo, rendem-se às emoções e bebem de fontes contaminadas pelo senso comum mais raso possível (não raro os “hoaxes”, boatos de internet reproduzidos à exaustão) e que, por isso mesmo, são incapazes de traduzir uma realidade per si profundamente densa. É um achismo temperado com uma vocação irresistível à intolerância.

  Deste cenário ao equívoco da contradição é um pulo. E, para chegar a esta conclusão, basta um exemplo: a abordagem de muitos usuários do Facebook sobre a criminalidade. Muitas das pessoas que condenam a violência nas grandes cidades e a ação muitas vezes truculenta da polícia são as mesmas que defendem seu uso amplo contra todos os que destoam das regras sociais e das leis penais, inclusive com o uso da Pena de Talião e da pena de morte como formas mais eficazes de combate à criminalidade.

  Porém, note-se: defendem o uso da violência não pelas próprias mãos, mas pelas dos outros, já que pouquíssimos são os que se dispõem a fazer o trabalho sujo de, por exemplo, trucidar marginais em praça pública. Menos ainda quando são desafiados a fazê-lo, por exemplo, caso o marginal em questão seja um filho ou amigo. Ou seja: a violência que este grupo defende é apenas contra o outro; contra a própria família e os amigos, nunca.

  Não falta quem guarde um desapreço crônico ao esforço de praticar os fundamentos que a vida em sociedade exige. É que dá muito trabalho fazer a lição de casa: pensar, debater, reconhecer erros. É duro mudar condutas. Muito mais fácil e divertido é condenar, ignorar, satirizar e hostilizar os que pensam de modo diferente e que ao pertencem ao nosso grupo de interesse.

  É o que temos na República Federativa do Brasil. E, por extensão, no nosso mundo virtual paralelo, a República Federativa do Facebook. O segundo não exatamente feito sob medida para o primeiro. Mas com a sua cara. A mesma que precisamos reinventar (começando por nós mesmos) para sermos a Nação socialmente desenvolvida e igualitária que, um dia, queremos – e precisamos – ser.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

[do além] TERRA PROMETIDA DA GAROA


:: txt :: Adoniran Barbosa ::

  Dias antes do aniversário de 460 anos de São Paulo, minha filha escreveu um artigo acusando a cidade de ser ingrata com o artista que melhor a cantou e citando a existência de um museu em minha homenagem no kibutz Bror Chail, em Shaar Hanegev, região próxima a Jerusalém. Não há, porém, na minha humilde visão, nada fora do lugar. É estranho que o compositor e cantor que melhor expressou a cidade de São Paulo tenha o seu principal museu em Israel. Mas também não estamos diante de um Rock in Rio em Lisboa.

  Na verdade, como muita gente, tenho antepassados judeus. Os mais atentos devem ter percebido as evidências de minha ligação com a tribo de Israel. Em Saudosa Maloca, por exemplo, eu já fazia uma referência velada ao judaísmo. O verso que brinca com o jeito popular paulistano de falar que diz Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas lembra da importância de ter o dim dim para se chegar à felicidade.

  Na canção Tiro ao Álvaro, o trecho Teu olhar mata mais do que bala de carabina/ Que veneno estriquinina/ Que peixeira de baiano... remonta à terrível experiência de se viver sob o jugo dos olhares dos oficiais nazistas.

  Outro exemplo está em Trem das Onze. Dessa vez, mais explícito: trata-se de um debate sobre a família judaica. Minha mãe não dorme/ Enquanto eu não chegar é um retrato claro da relação de um filho único com a mãe judia. Essa história de queé uma crítica ao sistema de transporte para as áreas periféricas é papo de professor de geografia de cursinho pré-vestibular.

  De mais a mais, São Paulo e Israel não são tão diferentes assim. No campo religioso, a cidade de Aparecida seria a Jerusalém de São Paulo. Olhando pra capital, certas áreas da zona leste não envergonhariam a Cisjordânia e algumas áreas da zona sul lembram bastante a desolação da Faixa de Gaza. E não esqueçamos que as torcidas organizadas aprenderam muito com a Intifada.

  Assim, não fico triste pela falta de homenagem. Já estou adaptado a Israel e logo, logo, componho um samba chamado Samba do Abrahão, sobre um convite furado para o Shabat em Bat Yam. De modo que não devemos fazer deste blog um Muro das Lamentações. Pra isso, já temos a Avenida Paulista e a seção de comentários dos leitores dos jornais.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

[agência pirata] QUANDO A "REVOLUÇÃO" MUDA DE RUMOS

:: txt :: Aleksandr Karpets ::
:: trdç :: Ricardo Cavalcanti-Schiel ::

Fora uma reação natural às ações autoritárias do governo, esta revolta insana foi consequência da incapacidade e da impossibilidade de resolver, de forma racional, os problemas catastróficos acumulados na Ucrânia após a desarticulação da União Soviética. Problemas que se agravaram com a chegada ao poder de Yanukovich. Por um lado, a revolta demonstrou a debilidade do seu governo e, por outro, que os líderes e as massas não têm nenhuma compreensão racional do que acontecerá depois, do mesmo modo como não sabem a que realmente aspiram, no caso de um eventual triunfo.

O problema principal está nas contradições que se acumularam no país durante quase um quarto de século: o saque dos bens nacionais por parte dos novos ricos, o aparecimento e o forte aumento da injustiça social, uma enorme desigualdade econômica e política e, como consequência de tudo isso, uma incrível decomposição moral de toda a sociedade, o que provocou a corrupção generalizada em todos os níveis.

Esse problema não tem solução nem em um protesto de rua, nem dentro dos procedimentos legais do Estado, incluindo todo tipo de negociação ou “mesas”, que servirão não mais que como válvulas de escape.

Em primeiro lugar, a solução do problema é impossível porque o atual Estado ucraniano é uma organização política da oligarquia financeira e econômica e da burocracia que representa seus interesses. O objetivo dessa organização é a exploração de outros grupos sociais, ora manipulando-os, ora reprimindo-os, para manter-se no poder. A mudança dos personagens no governo, o cumprimento formal de alguns procedimentos democráticos e inclusive a mudança de várias leis dentro de um Estado desse tipo não significam muito, já que não mudam a essência do modelo.

Em segundo lugar, a mudança fica impossível porque, com a crise econômica global, a situação degradou-se consideravelmente. Um relativo bem-estar e um boom consumista às vésperas da crise, graças ao sistema de crédito, geraram a ilusão da chegada ao “paraíso capitalista”. A crise destruiu essa ilusão, levando o país de volta à sua realidade, submergindo-o na pobreza e no desemprego. Da mesma maneira que no resto da resto de Europa, isso agudizou as contradições econômicas e sociais. A degradação rápida das condições econômicas de uma imensa maioria dos ucranianos foi acompanhada de um igualmente rápido enriquecimento dos clãs oligárquicos e de certas figuras.

Além disso tudo, chegou ao poder o grupo mais reacionário de toda a história da Ucrânia independente, grupo que instalou uma ditadura do capital de origem criminosa, e que se apóia na força da polícia e de delinquentes comuns, à semelhança de alguns regimes latino-americanos do século XX. Se o “fundador” do sistema oligárquico criminoso, o primeiro presidente da Ucrânia independente, Leonid Kuchma, compreendia e respeitava a existência de certos limites que não deviam ser ultrapassados — o que demonstrou os acontecimentos não violentos da “revolução laranja” de 2004 —, os representantes do clã de Yanukovich simplesmente não veem esses limites. Kuchma pôde aposentar-se politicamente, e agora é conhecido como mecenas, vendendo a imagem de um “avozinho generoso” que ajuda as crianças. As figuras do atual governo não podem deixar o poder, porque entendem que, se o abandonam, serão alcançados pelo castigo por aquilo que fizeram.

A construção de um regime fascistóide começou imediatamente depois da chegada de Yanukovich ao poder. Essas são algumas das etapas: a mal chamada reforma judicial, que permitiu ao governo tomar o controle total da justiça do país; um golpe constitucional no outono de 2010, que permitiu ao governo, e a Yanukovich pessoalmente, usurpar o poder, arregimentando prerrogativas excepcionais para as quais não fora eleito; a imposição de um novo Código Fiscal, contendo um ataque contra a pequena e média empresa, acompanhada da repressão policial dos seus tímidos protestos; a imposição de um Código de Trabalho abusivo e de um Código de Moradia expropriador, com o objetivo de suprimir ao máximo os direitos sociais e trabalhistas dos cidadãos; e, logo em seguida, uma série de expropriações arbitrárias de dinheiro e de imóveis em favor do capital oligárquico, que, como dissemos, é a base econômica e social do governo. A isso tudo acompanhou-se um permanente enriquecimento dos clãs oligárquicos, incluindo o mais próximo ao governo, chamado “A Família”, junto com a concentração dos bens públicos nas mãos de um pequeno grupo de novos ricos.

Antes de 19 de janeiro deste ano, os protestos se limitavam a declarações exaltadas, promessas, ameaças, festa e cantos na Praça da Independência de Kiev, que hoje é midiaticamente conhecida como Euro-Maidan (“maidan” é praça em ucraniano). Os “líderes” estavam preocupados com seus futuros ganhos eleitorais. Dava a impressão de que eles tinham medo de tomar decisões e depois ter que arcar com elas. A massa repetia o refrão delirante de uma “revolução apolítica”. A assembleia popular de 19 de janeiro, a poucas horas dos enfrentamentos, acabou com um escândalo: diante da verborreia dos “líderes”, o povo vaiou e exigiu a apresentação de um plano concreto de ações e a nomeação de um dirigente capaz de encabeçar o processo e tomar as responsabilidades.

Falou-se muito de formas não-violentas de protesto, das quais a mais forte deveria ser a greve geral. Ela foi prometida em reiteradas oportunidades, mas nunca se concretizou, por conta da mesma incapacidade organizativa e ideológica dos “líderes” “pró-europeus”.

Um dos traços mais repugnantes do atual governo é o fato que as forças da ordem pública começaram a incorporar maciçamente delinquentes e o lumpesinato na luta contra os ativistas. Os delinquentes, contratados pelo governo, realizaram vários ataques contra pessoas, bens públicos e privados, para que, em seguida, os manifestantes fossem acusados de tais fatos. A delinquência urbana aumentou enormemente. Os próprios manifestantes tiveram que organizar “guardas populares” para manter a ordem no centro da cidade.

A apoteose da reação ao governo seguiu-se, sem dúvida, à aprovação, em 16 de janeiro, da lei que proibia todo tipo de protesto cidadão. Esse foi um ato absurdo e ilegal, aprovado em poucos minutos pela unanimidade dos obedientes deputados. A mensagem parecia dizer o seguinte: somos uma elite, podemos decidir e fazer o que quisermos e o seu dever é obedecer ou ir presos. Essa atitude demonstra uma total incapacidade do poder ucraniano em ver a realidade, superestimando sua capacidade de controlar o país.

Nesses dias, muitos falam de uma aplicação na Ucrânia do sistema russo-bielo-russo, onde qualquer protesto se reprime já no seu surgimento. Mas isso não é possível. Na Rússia, o governo conta com uma potente base econômica, principalmente pela exportação de matéria-prima. A taxa de aprovação de Putin, depois de quase 15 anos de governos consecutivos com estabilidade, supera os 50%. Na Bielo-Rússia, apesar dos problemas, as empresas industriais e agrícolas funcionam, há praticamente pleno emprego, a saúde e a educação continuam gratuitas e estatais, os programas sociais, culturais e esportivos funcionam bastante bem, e Lukashenko tem o apoio da grande maioria da população. O atual governo da Ucrânia não tem forças nem meios comparáveis aos russos ou bielo-russos. Além disso, Yanukovich e seu grupo não têm o mesmo nível de aprovação cidadã que gozam Putin e Lukashenko.

Durante muito tempo, a Ucrânia, apesar da complexa situação econômica e política que se seguiu à desarticulação da URSS, se manteve em paz cidadã, à diferença de quase todos os vizinhos da região. Yanukovich e seu governo já entraram para a história como os que conseguiram quebrar essa tradição, levando o país à beira de uma guerra civil.

Causa surpresa e admiração o fato de que, em uma sociedade que há pouco parecia definitivamente sumida na corrupção, na indiferença e no individualismo, apareçam hoje tantas pessoas dispostas a lutar por uma ideia, chegando às últimas consequências.

Os protagonistas dos combates de rua são nacionalistas radicais, mas justamente eles parecem refletir agora os ânimos das massas indignadas. Durante os choques de 1º de dezembro de 2013, chamavam os ultranacionalistas violentos de “provocadores”. Agora, ninguém mais se atreve a criticá-los. O motivo dessa mudança é evidente: o poder cruzou um limite, e isso radicalizou os cidadãos. Um claro exemplo são as imagens de 19 de janeiro, durante os primeiros combates no centro: um senhor de idade, quase um velhinho, de aspecto claramente “não radical”, parecido com um operário, levantando um ferro de construção gritava: “—Basta! Vão à merda! Basta de aguentar essa corja! Agora é guerra!”

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

[noé leva a dor] BRASIL

:: txt :: Paulo Wainberg::

Brasil, meu rapaz,
Você anda bebendo demais,
Olha o mal que isto te faz,
Você está ficando pra trás.

Brasil, meu amigo,
Não faça isto contigo,
Você parece um mendigo,
Está tão ruim que nem te digo.

Brasil, meu irmão,
Pega a cuíca e violão,
O teu negócio é canção,
Futebol, carnaval e paixão.

Brasil, pobre coitado,
Você não tem solução,
Adora ser roubado,
Só dá bola pra ladrão,
Esqueceu o que é a dor,
Leva fé em deputado,
Acredita em senador,
Você vai de mal a pior,
Brasil encantador,
O teu povo varonil
Quebra feito vinil,
Vai pra puta que pariu,
Troca-troca no covil,
Quem olha de cima não diz,
Brasil, como você é infeliz.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

[noéntrevista] TONY DA GATORRA!


:: ntrvst :: Júlio Freitas ::
:: phts :: Jaqueline Mel ::

 Querida pomba e prezado urubu, nós fomos até a casa desta grande figura no último sábado, Tony da Gatorra já tocou na Europa, tem disco em parceria com Gruff Rhys, do Super Furry Animals, esteve no programa Agora É Tarde, naquele dia do fim do mundo, etc, etc, etc, ele nos contou que vendeu a gatorra que iria tocar no programa Matador de Passarinho ao cinegrafista, entre muitas outras coisas; chegamos junto com o temporal que causou a queda de um poste, mas este autor do tema "Espírito Luz" alumiou nossas cabecinhas que estão por vivenciar a Era de Aquário.

::ESTEIO::

Olha, aqui em Esteio o pessoal, pelo meu modo de ver eu acho que é muito individualista, eu mesmo não frequento muito o ambiente musical na minha cidade, mais é fora mesmo, quando eu faço alguma coisa aqui por minha conta mesmo eu não tenho muita aproximação com os músicos daqui e tem bons músicos, mas cada um se preocupa consigo mesmo, eu nunca tive apoio aqui em Esteio, nem da prefeitura nem ninguém, a não ser da ACM, que tem o patrocínio da Petrobrás, que deu uma força pra mim no ano passado.

::CONHECE O ZECA, IRMÃO DO ÍNDIO?::

Qual?

Não, eu conheço por Marx, esse aí que é o cara da ACM que a gente tava falando, ele que patrocinou e inclusive me deu apoio nesse documentário que eu tenho, é o Marx, filho do Índio, claro, meu amigo, ele mesmo, eu conheço!



::SÃO PAULO::


Olha, a minha vontade mesmo seria morar em São Paulo, porque o meu trabalho todo é lá, inclusive shows, os meus produtores são tudo de São Paulo que é aonde eu vendo mais gatorras, mas no momento não deu.

::PROTESTOS E GREVE::

Eu acho positivo, o pessoal tem que protestar mesmo, exigir direitos, o governo se omite em dar os direitos ao cidadão, eu espero que venha cada vez mais forte, que as pessoas não fiquem acanhadas por dizer aquilo que têm direito.

::NOVIDADES::


Ah, sim, sim, eu tô lançando agora, aliás, já foi gravado no ano passado o disco que é "Tony da Gatorra e os Ufonistas", e vai ser lançado em São Paulo até o fim deste mês ou março, e também em Minas Gerais e Belo Horizonte, grande expectativa, acredito também, vou te dizer, em primeira mão, que talvez saia em vinil, não CD, vai ser disco mesmo, vai ser uma coisa bem forte né, vai ser uma coisa assim...grande expectativa, eu acredito até que nesse disco vai acontecer o sucesso que espero já há 15 anos.



::ANTES DA GATORRA::


Antes eu tocava como amador, eu andava sempre com as bandas, arrumava equipamento, eu toquei bateria, sou baterista também, já tive duas baterias convencionais até fazer a primeira gatorra, eu a construí em 1994, depois comecei meu trabalho, nem esperava em negociar a gatorra mas acabei até agora vendendo 17 gatorras.

::TÉCNICO EM ELETRÔNICA+BATERIA=GATORRA::


Exatamente, é um instrumento de percussão e exige muita técnica ali, porque se eu não fosse técnico em eletrônica eu não poderia executar, foi estudando livros mesmo que eu comecei a evoluir o sistema do circuito, até conseguir fazer a gatorra exatamente como eu queria, os timbres, inclusive na parte de mecânica, ajustagem, ferramentaria, porque eu também trabalhei de mecânico, eu era torneiro mecânico, então tudo isso aí me ajudou a concluir a gatorra.



::MÚSICAS::


Minhas músicas são feitas como protesto pela inclusão social no Brasil, contra o carrancismo, exploração pelos politiqueiros, eu sou contra, inimigo deles, aliás, eles são meus inimigos, não eu deles, pessoal que só visa dinheiro e lucro e são verdadeiros mercenários, ficam escravizando e roubando toda uma população, então eu quando tive a chance de ter um microfone, o que eu sempre gostei, ao ver essa calamidade foi poder dizer o que muitos não podiam dizer, eu sempre procuro falar nos meus shows, até na Europa, denunciar a covardia e injustiça no Brasil.

::O PÚBLICO NO EXTERIOR::


O público lá (Europa) tem diferença muito grande do Brasil, lá eles dão força e acreditam na cultura, na música, e eles curtem mesmo, no Brasil não se curte música, aqui é um auê, rebola-bola, eles querem é só coisa que dá alegria e dança, sem cultura, tipo música pagã, é só rebola-bola e abaixa aqui e ali, e lá na Europa eles valorizam a música no sentido da cultura, da evolução, de comunicação, eu senti isso de perto, inclusive eu fui um dos melhores talentos do Brasil na Europa, sou mais reconhecido lá do que aqui.



::TOCOU COM MACEDUSSS?::


Não, eu não toquei com eles, eles não fazem muito o meu estilo, mas eu os conheci, estiveram no meu último show, até tirei uma foto lá, queriam tocar junto comigo, mas a gente não pôde fazer isso aí, fica fora do padrão, eles entenderam, a gente conversou, me dou com eles, são amigos meus, tudo bem né, estiveram lá no Mancha, exatamente onde eu leiloei uma gatorra.

::MARCELO BIRCK::

Toquei várias vezes com ele, já fizemos gravação, o Marcelo Birck é professor, me levou à escola pra fazer uma palestra com os alunos a respeito de reforma agrária, tem uma música minha que é "Voz dos Sem-Terra", eu sou a favor da reforma agrária, o governo Lula covarde prometeu pra população do Brasil e não fez, o problema da fome no Brasil é porque não tem reforma agrária, tem que ter muito peito pra fazer isso, pra acabar com o latifundiário e os ruralistas que mantêm e contêm toda a terra. 
Aí eu fiz a palestra e toquei lá na escola que o Marcelo Birck lecionava, já fizemos vários shows em Sapucaia, aqui na Casa de Cultura de Esteio, em Porto Alegre, ele fez parceria comigo numa música que eu tenho no meu disco mais recente, que é o "Paiz Sem Lei".

::RÁDIOS::

As rádios de Porto Alegre não dão chance pra músico nenhum, sabe, é só jabá, se não pagar não tem história, nenhuma rádio roda as minhas músicas, quando roda raramente é na Ipanema, porque eu não pago nada, o restante das rádios não dá apoio pra ninguém, não existe rádio popular que ajuda a cultura, os músicos, só procuram quem tem gravadora, ou alguém que larga uma bola mensal pro locutor, pro radialista, caso contrário não tem chance, só roda as músicas que eles querem, não que não sejam boas, mas às vezes não vale nada, mas as bandas realmente boas não aparecem na mídia, e eles escondem a qualquer pano, tipo a minha, que eu quero largar uma mensagem verdadeira, não é música pra dançar nem pra alegrar ninguém, mas uma música que diz algo real.

::BANDAS INDEPENDENTES::


Ah, eu conheço várias bandas, até amigos meus aqui de Esteio, que estão na luta aí há mais de 10 anos, mas é como eu falei, né, a pessoa não tem oportunidade aqui no Brasil pra conseguir alguma coisa, só se tiver dinheiro pra pagar a mídia, não importa que a pessoa toque bem ou tenha boa música, boa composição, tem que ter é dinheiro mesmo e pagar pra dizer que é boa, tem muitas bandas de Porto Alegre que são boas, que eu conheço, por exemplo, a Flamejantes, ninguém conhece essa banda, mas é excelente como outras que tem aqui em Esteio, mas é o que eu digo, os caras não têm chance de mostrar a qualidade.

::ROGÉRIO SKYLAB::


A gente se encontrou exatamente no mesmo dia no Danilo Gentili, já o conhecia de vista, mas ele me conhecia mais ainda, e ele como estava no programa do passarinho, Matador de Passarinho, do Canal Brasil, ele aproveitou e me convidou para uma entrevista, me levou pro Rio de Janeiro, isso foi muito legal.

::OUTROS PROGRAMAS DE TV::


Eu não fui ao SBT nunca, estive na Record, no Raul Gil em 2004, eu até gravei em fita, quando deu eu estava em casa, foi de uma semana pra outra, aí eu passei pra DVD, quando eu tinha a gatorra nº2, pra tu ver só, uma vermelha que eu vendi lá em São Paulo, o programa era o "Novos Talentos".

::ESPÍRITO LUZ::


Olha, tchê, o meu conhecimento é natural, entende? O que a pessoa percebe naturalmente, é "Espírito Luz" o nome dela, essa música é muito real, o que eu falo na letra, o pessoal gosta muito em São Paulo, eles pedem até pra tocar 2, 3 vezes.

::O PREFEITO::

Ah, o cara daqui é um mercenário encastelado, não recebe ninguém, não é popular, já fui lá e fiz tipo um barraco, chamei todo mundo de vadio, acomodado e omisso, isso aí eu fiz mesmo, inclusive eu processei o próprio prefeito pelo descaso das obras que não fazem aqui em Esteio e exigi indenização e tudo, eu fui lá e ele se esconde, encastelado; mercenário tu sabe como é que é.

Como chove muito aí, já até quero vender a casa, transborda e inunda tudo, estou quase negociando aqui e pretendo morar em Torres, é mais perto de São Paulo, pelo menos fica na reta.



::TVE E A FUNDAÇÃO PIRATINI::


Faz tempo que eles queriam terminar com isso aí, é que aquilo ali é verba que vem do governo, eles querem o dinheiro para si e não querem sustentar a emissora, é o governo do estado que mantém, eu não duvido nada que aqui no Brasil se termine com a cultura.

::ERA DE AQUÁRIO::


É o sonho da humanidade, que seria união, mas tá difícil, acreditei até que fosse acontecer no ano 2010, mas bem que eu gostaria, é a era da prosperidade, a grande esperança da humanidade, o único caminho, com a união e a paz no mundo, sem guerra nem nada, acredito que é um sonho um pouco distante ainda.

::GRAVAÇÕES::

Geralmente é o pessoal que entra em contato comigo, esse disco que a gente vai lançar agora, segundo o produtor, que é o próprio dono da gravadora, ele quer lançar mesmo em vinil, se isso acontecer realmente vai ser aquilo que a gente espera muito, um grande sucesso, um grande salto, daí vai acontecer do pessoal me conhecer no Brasil, porque praticamente ninguém me conhece, quem me conhece é a minoria; eu digo ir pra mídia forte através desse disco, "Tony da Gatorra e os Ufonistas", que é um disco de grandes mensagens, uma coisa totalmente diferente, jamais ouvida antes, um som com aparelhos que nem existem no Brasil, o equipamento é importado e o trabalho feito nesse disco é uma coisa surreal, então o pessoal vai se espantar, eu já tinha comunicado até no facebook a respeito, eles estão em grande expectativa do lançamento desse disco aí, que vai acontecer agora em seguida.

Os Ufonistas são esses que participam do disco, são todos músicos profissionais, inclusive um é o Beto da Gatorra, que comprou a gatorra nº 15 e gravou juntamente comigo, e os outros são projetistas, técnicos em eletrônica, engenheiros...

::COMPOSIÇÕES::


Eu faço sempre a respeito da realidade do Brasil, principalmente quando se refere à injustiça, então vem a inspiração muito fácil, é um país totalmente injustiçado, escravizado, explorado, sendo roubado, ludibriado, humilhado, é um horror, 190 milhões trabalhando pra meia dúzia de vagabundos que estão lá no Palácio do Planalto, acomodados nas sua poltronas, enquanto a maioria da população não têm assistência médica, não têm hospitais com leito, a educação com colégios sucateados, a segurança não existe, então minhas músicas sempre se referem a esse lado, mas o que eu procuro fazer é dizer o que a maioria não pode para aquela pelegada de Brasília, que tão roubando toda uma população, são tudo uma cambada de mercenários, oportunistas e aproveitadores das pessoas humildes.



::COPA::


A copa é mais uma insanidade, um espetáculo criminoso que está sacrificando a população, que vai ter que pagar a conta pros elefante brancos, e nesse meu disco mais recente "Paiz sem Lei" tem uma música que é "Protesto à Copa", até toquei no Danilo Gentili, e eu falo que isso só interessa aos milionários capitalistas, que vão encher os bolsos de dinheiro às custas dos coitados e ingênuos, então é divertimento pros gringos.

::TRAGÉDIA EM SANTA MARIA::


No Brasil quem tem dinheiro não pode ser preso, quem tem dinheiro compra a justiça, eu acho aquilo ali um caos, a cara da injustiça no país, onde os culpados, assassinos mataram 242 estudantes, inclusive eu já fiz show em Santa Maria para estudantes, lá é o berço estudantil do Brasil, as maiores faculdades são de Santa Maria; aquilo ali é uma calamidade e vai ficar por isso mesmo, pra pender quem tem dinheiro é quase impossível, porque os próprios que se dizem governantes são tudos uns bandidos, mercenários, uns covardes, mas assassino, ao meu modo de ver, deveria estar numa cadeia, no mínimo em prisão perpétua com uma bola de ferro amarrada nas pernas, fazendo trabalho forçado até morrer.

::LICENÇAS LIVRES X COPYRIGHT::

A livre expressão, a comunicação em geral, não tem que ter licença de forma alguma quando a pessoa quer expressar aquilo que precisa, um trabalho decente, eu processei a Ordem dos Músicos, que são uma cambada de ladrões da época da ditadura, ganhei a liminar, tenho até documento que a juíza federal de São Paulo me deu pra fazer show em qualquer parte e ninguém pode me impedir agora; exigiam carteira de músico, então eu não aceitei isso, não tenho carteira, não me interessa, porque tu só tem que dar dinheiro pra eles.

A pessoa quando quer fazer um livro ou outra coisa, não tem que pedir licença pra ninguém, ela tem o livre-arbítrio pra fazer aquilo que bem entende dentro do bom sentido, sem prejudicar o outro.



::PIRATARIA É CRIME?::


Não, cara, a pessoa tem que observar o lado social, do porquê que acontece a pirataria, geralmente é mais por necessidade, de quem precisa daquela parte, tanto é que os CD's mais vendidos são os piratas, não adianta a pessoa impor ou proibir, seja pirata ou não, é divulgação do artista.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

[...] RETORNO À SBØRNIA


 "eu sinto o galope numa velocidade vertiginosa que rasga o tempo e nos lança numa zona sem fronteiras, onde o principio e o fim se encontram. Onde o amor e o ódio, a verdade e a mentira o instante e a eternidade são pedaços ...de um pedaço....de um pedaço....de um pedacinho de um pedaço."


 Nico Nicolaiewsky

09/06/1957 — 07/02/2014

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

[pontodevista] MEU UMBIGO, MINHA VIDA

:: txt ::Wladymir Ungaretti::

Meu umbigo, minha vida. Este é um texto construído a partir do relato da experiência de um amigo. Procurei ser o mais fiel possível às suas observações, todas realizadas após terminar uma relação de namoro. Relato feito algum tempo depois de passar a tempestade. Sem ressentimentos ou mágoas. Com o humor leve por estar livre. Evitei relatar histórias (fatos) que serviram de base para tais conclusões. Cada afirmativa dele era seguida ou antecedida pelo relato de um ou mais episódios. Segundo ele existem pessoas tão egocêntricas que são incapazes de perceberem algumas das oportunidades que se colocam diante delas ao longo da vida. Ou se decidem por opções marcadas por uma certa pobreza de espírito. Desperdiçam, perdem o “time” de avançarem em direção a um outro patamar de entendimento da própria vida, das relações, tanto em um sentido mais amplo como mais restrito, inclusive e principalmente no plano da afetividade. Não são capazes de um outro tipo de apreensão do mundo. O respectivo umbigo dita o ritmo e o “olhar”. Por serem o centro do universo fazem do outro um objeto pelo qual não tem nenhum respeito, tanto no plano privado como público. Adoram as manifestações públicas de poder e que de alguma forma humilhem o parceiro. São pessoas de baixíssima auto-estima; e que, por isso mesmo, elevam um pouco a sua destruindo, sistematicamente, a do outro. Pessoas infelizes que não possuem boas histórias para contar, até mesmo pelo fato de que tornam quem se aproxima, infeliz. Minha vida, meu umbigo. Não conseguem construir e viver grandes amores. São pessoas atormentadas. Constroem relações de alta carga de neura. São “feiques” ao ponto de se tornarem fascinantes, inteligentes, sociáveis e amorosas. São falsamente possessivas e até ciumentas. Principalmente quando o parceiro que, vive o mundo real, deixa por alguns segundos de mirar o umbigo, dela. Leva um tempo para que a nossa ficha caia. E, às vezes não cai e a pessoa pena uma vida inteira. Ou fica enredada em um vai-e-vem, torturante. Vivendo por tempos na esperança de que a pessoa olhe para frente. Para quem está a seu lado. São pragmáticas que, oportunisticamente, aliam este interesse “amoroso” (desrespeitoso) à solução material de suas respectivas vidas. Uma certa e falsa docilidade está intimamente associada ao grau de submissão do parceiro aos seus interesses. Aproveitam-se da fragilidade momentânea e eventual do outro. Ou optam por alguém realmente já frágil e nada resolvido, igualmente um depressivo. Se este panorama estiver então associado a um quadro, hoje, denominado de bipolar o cara está roubado. Entrou numa fria. Enquanto estiver apaixonado acha até engraçado e lúdico uma certa passionalidade. Mesmo quando desrespeitosa. Quebra a rotina. Mas tendo uma certa sacada a paixão passa bem ligeiro. E até, segundo ele, a chave de boceta perde a força. Vira uma chavinha. Este amigo que tem uma certa qualificação intelectual e profissional, uma determinada história, em nenhum momento, procurou se colocar acima desta pessoa durante todo o relato. Assinalou, por diversas vezes, que tinha jogado todas as fichas na ideia de construir uma relação duradoura e definitiva, disposto a conviver com alguns dos eventuais defeitos dela e a fazer concessões. Ele tem uma certa idade e bagagem afetiva e existencial. Ainda segundo ele foi uma importante experiência. Concluiu dizendo que saiu fortalecido para a próxima história e não nega que, redobradamente, desconfiado.

(Reproduzi com o máximo de fidelidade as conclusões tiradas por este amigo e, propositadamente, omiti o relato de uma dezena de episódios, que ainda segundo ele, embasariam estas mesmas conclusões. Fui apenas o veículo.)

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