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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

[do além] COLESTEROL ESCANDALOSO


:: txt :: Marlon Brando ::

Semana passada, meu nome frequentou as redações de jornais, revistas e telejornais. A morte da atriz Maria Schneider foi o gatilho para que veículos do mundo inteiro abrissem largos espaços para relembrar o filme que coestrelamos juntos e que chocou o mundo na década de 70: O Último Tango em Paris (Le Brioche au Beurre).

Você sabe, o motivo que escandalizou as plateias foi a cena de penetração anal, onde meu personagem, Paul, sodomiza Jeannie, interpretada por Schneider, usando manteiga como lubrificante. Cena essa que, curiosamente, nem estava no roteiro, foi algo que improvisei, depois de muito laboratório, usando apenas alguns tabletes que roubei do couvert da refeição anterior à filmagem. Alguns sustentam que foi a partir dessa experiência que minha forma física descambou. Maria ficou marcada por esse filme, modéstia à parte. Nunca mais ela conseguiu se livrar desse personagem ou pedir uns pãezinhos de entrada nos restaurantes sem ficar constrangida.

Para vocês terem uma ideia das reações provocadas pelo filme, basta dizer que, na democrática Grã-Bretanha, lançado com o título de Buttered Bagel, censores reduziram a duração da cena em questão a ponto de quase extingui-la. Na Itália a coisa foi pior. O Último Tango em Paris (Biscottini al Burro) foi lançado em 1972, mas só chegou às telas italianas em dezembro de 1975. Uma semana depois da primeira exibição, a polícia confiscou todas as cópias e a Justiça abriu um processo contra o diretor, Bernardo Bertolucci, por obscenidade. Pela qual foi condenado a 4 meses de prisão, além de ter tido seus direitos civis e políticos cassados por 5 anos. Imagina se eu tivesse usado o resto do couvert. O filme só voltou a ser exibido lá para 1987.

No Brasil, por causa da ditadura, o filme só veio a público em 79. E mereceu até citação em uma música dos trapalhões http://tinyurl.com/29dmrl Não deixe de assistir o Didi pronunciando Maria "Xinaida". E no Chile, Pinochet o proibiu por 30 anos. Ele queria o monopólio da sacanagem.

O mais curioso de essa cena ter entrado para a história é que poucos lembram que, durante a penetração, as palavras do meu personagem não usaram lubrificante. Ofegante, Paul diz: "Vou falar-lhe de segredos de família, essa sagrada instituição que pretende incutir virtude em selvagens. Repita o que vou dizer: sagrada família, teto de bons cidadãos. Diga! As crianças são torturadas até mentirem. A vontade é esmagada pela repressão. A liberdade é assassinada pelo egoísmo. Família, porra de família!" Sinceramente, acho esse texto muito mais chocante do que o ato de untar a forma.

É estranho pensar que hoje, O Último Tango em Paris, se fosse relançado na versão integral, não desnatada, chocaria as plateias por outros motivos. A turma vigilante da vida saudável, tenho certeza, iria se escandalizar com a manteiga. Por que não usaram óleo de canola? - perguntariam. O debate fatalmente se deslocaria para o campo da reeducação alimentar e a necessidade urgente em diminuir o consumo de gordura saturada e trans. Alegando que filmes têm a responsabilidade de dar bons exemplos. Logo concluiriam que o final trágico do filme nada mais é que o resultado da pouca oxigenação no cérebro da personagem amanteigada, obviamente provocada pela obstrução de suas artérias. O que, em outras palavras, significa dizer que investigar as profundezas do coração, nos dias que correm, dá muito menos Ibope do que tratar dos níveis de colesterol.

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