#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

[a vida como ela noé] VIVER NA CIDADE

 :: txt :: Fausto Erjili ::


 Estamos tão acostumados com a vida urbana que achamos que ela é normal. Mas não é.

Ao contrário das formigas e das abelhas, os seres humanos geralmente vivem em grupos pequenos, familiares, bem isolados uns dos outros. E aí você pergunta: como assim? E as cidades? E as metrópoles ao redor do mundo, uma mais imensa que a outra, aquelas enormes manchas de eletricidade visíveis do espaço onde milhões de pessoas se amontoam umas nas outras? Ora bolas, as cidades. Cidades são exceções na história humana. Desde que o primeiro humano pisou a Terra num canto esquecido da África, 100 mil anos atrás, a enorme maioria dos Homo sapiens viveu na roça, no mato, no campo. A enorme maioria das pessoas que já existiram teve uma existência rural ou selvagem e viveu a vida produzindo sua comida, dormindo e acordando ao sabor da luz do sol, convivendo com apenas um punhado de pessoas, sempre as mesmas, a vida inteira.

O ser humano é, como regra, uma espécie rural. Foi só nos últimos milênios que descobrimos o conforto de viver numa cidade. E, mesmo então, gente "da cidade", como eu e muito provavelmente você, sempre fomos uma exceção nesta nossa espécie rural. Sempre fomos minoria. Na verdade, ao longo de dezenas de milhares de anos, a população urbana nunca passou de um terço do total de pessoas. Em 1950, ela era de 30%. Mas, de lá para cá, ela não parou de aumentar. A ONU calcula que, depois de 100 mil anos de maioria rural, a população urbana chegou a 50% em maio de 2007. E agora, pela primeira vez desde o Big Bang, somos maioria. Há mais gente vivendo em cidades que no campo neste mundão. Mas isso não apaga o fato de que somos uma espécie mais dada à vida rural que à urbana.

A evolução nos construiu para plantar, capinar, colher, caçar, fofocar, coçar o dedão. Não para googlar, dirigir e falar no celular - isso aí ainda estamos aprendendo. Nossa vida tecnológica e urbana é uma raridade na história da humanidade. Mesmo assim, é nas cidades que os lances mais emocionantes da história humana acontecem. É que cidades são lugares incríveis. Nelas, as coisas ficam perto umas das outras. As pessoas ficam perto umas das outras. Isso permite que tenhamos vidas riquíssimas, que seriam impossíveis num meio de mato.

Podemos aprender com milhares de pessoas diferentes, circular entre culturas, trocar idéias. Podemos mudar de interesses um trilhão de vezes, em vez de passar décadas submetidos ao mesmo monótono calendário ditado pelas estações do ano, que determinam o plantio e a colheita. Tudo isso é fascinante.

Mas não faz sentido viver numa cidade se não formos aproveitar o que ela tem de bom. Se formos nos trancar em nossas casas, e não andarmos nas ruas, não vamos encontrar os outros, aprender com eles. Se nos dispersarmos com a quantidade de informação, não vamos nos concentrar em nada, e o que a cidade tem de fantástico vira ruído. Se formos nos domesticar por um empreguinho e nos acomodarmos com o fato de que precisamos do salário, toda essa riqueza desaparece de nossas vidas. Se entupirmos as ruas com carros e lixo, com câmeras de segurança e muros, aí ninguém se encontra, ninguém troca. E a cidade não serve para nada.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

[agência pirata] PERMACULTURA



Permacultura é o planejamento e a manutenção conscientes de ecossitemas agriculturalmente produtivos, que tenham a diversidade, estabilidade e resistência dos ecossistemas naturais. É a integração harmoniosa das pessoas e a paisagem, provendo alimento, energia, abrigo e outras necessidades, materiais ou não, de forma sustentável.

O design na permacultura é um sistema para unir componentes conceituais, materiais e estratégicos em um padrão que opera para beneficiar a vida em todas as suas formas.

A filosofia por trás da Permacultura visa trabalhar com a natureza, e não contra esta. É um trabalho de observação do mundo natural (...) Necessitamos observar os sistemas em todas as suas funções, ao contrário de exigir somente um produto destes.

O objetivo é a criação de sistemas que sejam ecologicamente corretos e economicamente viáveis; que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis a longo prazo.

Acredito que a harmonia com a natureza é possível somente se abandonarmos a idéia de superioridade sobre o mundo natural. Lévi-Strauss disse que o nosso erro mais profundo é o de sempre julgarmo-nos "mestres da criação", no sentido de estarmos acima dela. Não somos superiores a outras formas de vida; todas as criaturas vivas são uma expressão de Vida. Se pudéssemos ver essa verdade, poderíamos entender que tudo que fazemos a outras formas de vida, fazemos a nós mesmos.

A Permacultura é um sistema pelo qual podemos existir no planeta Terra utilizando a energia que está naturalmente em fluxo (...) sem destruirmos a vida na Terra.

(...) em culturas humanas sustentáveis, as necessidades energéticas do sistema são supridas pelo mesmo sistema. A agricultura moderna de latifúndios é totalmente dependente de energias externas. Essa mudança de sistemas permanentes produtivos (onde a terra pertence a todos) para uma agricultura anual e comercial (onde a terra é considerada uma mercadoria), envolve a mudança de uma sociedade de baixo consumo energético para uma de alto consumo, com o uso da terra de uma forma exploradora e destrutiva, com uma demanda de fontes de energia externas, principalmente supridas por países do "terceiro mundo", como combustíveis, fertilizantes, proteína, trabalho (...)

A produção agrícola convencional não reconhece seus custos verdadeiros: a terra é minada em sua fertilidade para produzir grãos e vegetais anuais (...) a terra sofre erosão pelo excesso de animais nela mantidos (...) terra e água são poluídas com produtos químicos.

Não podemos mais arcar com os custos verdadeiros de nossa agricultura. Ela está matando nosso mundo, e nos matará.

(...) tudo de que necessitamos para uma vida boa está nos esperando. Sol, vento, pedras, mar, pássaros e plantas nos cercam. A cooperação com todas essas coisas nos traz harmonia...

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

[rango] TEMPEROS COM DEVOÇÃO NAS ALTURAS!

:: txt :: Toniolo ::

 Imaginem um encontro nas alturas. Foi o que aconteceu neste dia 14.09.2012.
O nosso almoço foi realizado no 7ª andar da Casa de Cultura Mário Quintana.
Café Santo de Casa.
Do alto, vislumbramos uma das vistas mais lindas do centro da cidade, o Rio Guaíba.



Este encontro foi um divisor de águas para nós.Explico.Foi o primeiro almoço realizado entre “cinco” pessoas.Convidei o amigo de longa data, Délcio Costa Junior.Tive o privilégio de conhecê-lo nos campos de futebol da vida. Amigo em comum do Leonardo Chacon, desde os tempos de colégio.
Já que somos apreciadores de uma boa comida, bebida e rock, pensei em porque não formar um quinteto? Somos quase uma banda de rock. Brincadeiras a parte, vamos às entrelinhas do dia.

Conforme o protocolo fui o primeiro a chegar ao local, junto com o confrade Alberton. Não demorou muito para o nosso convidado aparecer no restaurante. Renato chegou tempo depois, Chacon como sempre, aos 48 minutos do intervalo. Escolhemos as bebidas do dia.
Délcio, Alberton e Renato no vinho. Vice e Chacon na Ceva.

Nos pratos quentes, fomos unânimes num prato: Pai Nosso (medalhão de filé grelhado com molho de requeijão, batata rústica, arroz e mini salada).



Exceto Renato, que preferiu outro prato.


O ponto fraco deste restaurante é o tempo de espera dos pratos quentes.
Esperamos mais de uma hora. Pra quem vai almoçar com pouco tempo, não recomendo.

No quesito sobremesa, optamos por copo de negrinho e Renato como sempre o do contra
neste dia, pediu um cake.





O dia estava ensolarado, deveria ser proibido trabalhar nas sextas à tarde!O clima deste encontro foi diferente, com um tempero da altitude talvez.







A pérola do dia, foi do nosso convidado, olhou para todos e disparou:
- Isto aqui está parecendo o Sala de Redação!

Pronto. A partir do próximo encontro, vamos usar de piloto um gravador. Vai ser um tipo de cápsula de diálogos do tempo, combinamos de guardar por 15 anos, sem ouvir. Aonde estaremos quando se reunirmos para escutar estes almoços? Existirá a Confraria ainda?
"Aguardemmmm", né Silvio Santos?



Acima, uma visão do restaurante Santo de Casa. Notem no chapéu o logo do antigo Hotel Majestic, este local respira cultura. No interior temos a impressão de outro restaurante, com a decoração de santos e etc.


 
O pôr do sol é o carro chefe do local! Rola um acústico sempre no final de tarde.



O presente musical deste mês foi uma homenagem a uma banda da nova safra gaúcha, o primeiro cd da Apanhador Só (2010). Já foram premiados com um Prêmio Açoriano de Porto Alegre.Eles são uma mistura bacana de Los Hermanos e Vitor Ramil.


Pra que quiser conferir algumas informações no site do Santo de Casa, segue abaixo:

http://www.cafesantodecasa.com.br/


A confraria está cada vez mais fortalecida, isto é fato.Aonde este projeto-brincadeira vai parar não faço idéia, faz parte da magia e sabor da vida.
Estamos sempre buscando novos desafios culinários, não tem preço estes encontros.
A amizade é algo inexplicavél nestas nossas passagens de evolução terrena. Sua força constrói impérios, risadas e principalmente momentos como desta sexta inesquecível no meu hard drive apelidado de cerébro.

Um forte abraço na alma.
By Toniolo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

[...] LÂMINA

:: txt :: Júlio Freitas :: 

Uma torneira pingando. Cortinas fechadas. Ela chorava, agachada num canto, não estava confusa ou indecisa, simplesmente aguardava o momento certo, pois sabia que era inevitável. Olha para a lâmina que deixara entre seus pés e para a sombra que os poucos móveis faziam na parede de tom pastel.

Então uma certeza se apossa dela, e sente como se um fósforo tivesse sido riscado entre seus olhos. Suas lágrimas secam.

E agora não era somente a torneira que pingava.

domingo, 27 de janeiro de 2013

[pedeéfe] COPYFIGHT: PIRATARIA & CULTURA LIVRE

 O livro abaixo é justamente sobre questões de propriedade intelectual e pirataria, além da história das patentes e como a nova indústria cultural e mercantilização da arte e da cultura colocou em cheque a questão do direito autoral, organizado por Adriano Belisário e Bruno Tarin.



http://www.copyfight.tk

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

[overmundo] CINEMA NACIONAL PARA TODOS

:: txt :: Bzzj ::

O cenário da produção cinematográfica no Brasil mudou desde a retomada. Na época foi orientada uma nova política industrial e comercial e as empresas transnacionais no Brasil passaram por uma globalização dos mercados, fazendo com que o faturamento fosse estável. A tríade: distribuição, produção e exibição, feita de maneira vertical foi ocupada pelo mercado internacional.

Atualmente, o cinema brasileiro está dependente do Estado e encontrando dificuldade no escoamento nas salas de cinema no Brasil. Analisando a assimetria, é necessário um balanço competitivo entre o produto nacional e o importado no mercado convencional, o que não vem ocorrendo, mesmo com leis como a TV Paga da Ancine.

Com isso, plataformas alternativas surgem ganhando público e visibilidade no meio audiovisual, consolidando a estrutura e conjuntura estético-narrativa necessária para alavancar e conseguir mais sustentabilidade entre os produtores.

É o caso dos cineclubes, exibições online e as próprias distribuições físicas que promovem a circulação fora das salas de cinema, fortalecem o mercado nacional, incluindo pessoas que não podem pagar por uma sessão assim como obras de baixo orçamento.

Surge também a DF5 , distribuidora digital, projeto do Clube de Cinema do Fora do Eixo, que disponibiliza seu acervo de filmes em diversas plataformas. A DF5 facilita a circulação, o mapeamento de exibições em todo país e integração em rede dos realizadores, exibidores e público, tornando a experiência do cinema realmente coletiva. São feitos compartilihamento de conteúdos livres, realizados circuitos integrados de exibições não comerciais de forma a reapropriar e conectar esse cenário cinematográfico.

É a Produção cultural indepedente no "Multiplex do Precariado", como a própria distribuidora se considera, com projetos cada vez mais reconhecidos. e acervo sempre em crescimento e aberto para que realizadores também possam contribuir, sejam com video-clipes, documentários ou experimentais, vale tudo.

O Zero3 Cineclube em Pelotas/RS se apropria da plataforma e cria sessões gratuitas e abertas todos os sábados às 15h para que as pessoas consumam cinema e não ingressos.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

[noécologia] RIO EM FÚRIA

:: rprtgm:: Agência Pública ::

Na segunda reportagem do especial Amazônia Pública, a equipe da Pública foi ouvir os moradores do entorno das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. Em Porto Velho, ouviu histórias sobre ondas que estão engolindo casas e grandes mortandades de peixes, enquanto pescadores passam necessidade depois de perder seu sustento. Embora o discurso oficial diga o contrário, a usina parece ter mudado definitivamente o rio e a vida em Rondônia. O vídeo a seguir apresenta a segunda parte da série, sobre as hidrelétricas no Rio Madeira.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

[gonzo níus] SACOLAS, CAOS E INSANIDADE NO BLACK STONE

:: txt :: Mauricio Knevitz ::

Ultimamente com o Entrebar fechado para reformas, uma das alternativas que surgiram para os organizadores de shows de música barulheira é o Black Stone, na verdade um estúdio de tatuagem e de ensaios, que permite que as bandas façam ensaios abertos ao público, já que o espaço lá é bem grande. O problema é que tudo tem que rolar no horário marcado. No caso, foi das 22h às 00h, e nenhum minuto a mais. E dessa vez tinha tudo pra dar errado: 5 bandas pra tocar em 2 horas.
No final das contas, deu tudo certo. Foi preciso que as três primeiras bandas tocassem com os mesmos equipamentos e um repertório bem reduzido para todas, com excessão da atração principal, a Bestial Vomit, da Itália, que teve o repertório um pouco mais extenso em relação às outras. A organização estava de parabéns, nenhuma banda saiu lesada, teve que tocar menos ou alguma merda do tipo.

Falando um pouco dos shows, a bagunça (literalmente) começou com a Macedusss & as Desajustados Bando (que nesse show tive o prazer de ser um membro honorário), lançando um noise experimental minimalista com muitas sacolas, garrafas plásticas, caixas de fósforo, latas de cerveja, jornais e discursos revolucionários inflamados numa bagunça generalizada. O show foi o mais curto dentre todos porém ele permaneceu até o final do evento na sala do Black Stone, com jornais e garrafas jogados pra tudo quanto é lado.




A seguir tivemos a estréia da banda crust Veräo, que conta com Guilherme (Ornitorrincos) na bateria, Insekto (Ornitorrincos, Change Your Life) no vocal, Lucas (precisaria escrever uma lista telefônica pra citar todas as bandas que ele toca, então deixa pra lá...) no baixo e Jonas (Change Your Life, dpsmkr) na guitarra. A banda mandou um crustcore furioso, rápido e pesado, sem frescuras, do jeito que tem que ser, um lance completamente caótico e cavernoso. Uma grata surpresa.

Em seguida veio a Change Your Life, que empolgou bastante a galera com aquela paulada powerviolence de sempre, num show direto e reto, sem discursos ou zoações com o Wender. Com a primeira hora do ensaio aberto quase esgotada, entrou a Imorale, banda do fanzineiro Jason, que admito, me surpreendeu bastante. Eu já tinha ouvido a banda antes num ensaio aberto no Black Stone junto com o Deaf Kids, porém não tinha prestado muito atenção no som, pois estava do lado de fora trocando ideia com o pessoal. Senti como se tivesse levado uma porrada na cara, os caras mandam um crossover muito bom, com uma deliciosa pegada NYHC, letras ótimas e vocal destruidor. Vacilei em não ter prestado atenção na banda antes.

Por último, a atração principal, Bestial Vomit da Itália, com um noisegrind furioso e uma performance completamente insana. Não sacava muito do trampo dos caras e realmente curti muito. Mas acho que o principal destaque da noite dessa vez foi o público (que aqui em Porto Alegre costuma ser bem bundão), que praticamente botou abaixo o Black Stone e agitou do começo ao fim, e quando a atração principal veio ao "palco", já estava completamente enlouquecido, resultado num enorme cheiro de suvaco e cachaça na sala do Black Stone e cerveja voando pra todos os lados. Até os caras do estúdio ficaram apavorados. Acho que nunca mais vão deixar fazer algum evento de barulheira lá...

No mais, a organização, todas as bandas e o público estão de parabéns. Posso ver que 2013, para os shows de barulheira, promete muito.


*nota do editor: nosso gonzo Fausto Erjili continua desaparecido, bem como nosso fotógrafo Almir, quem souber do paradeiro de algum deles, avise-nos. Principalmente o Fausto, que me deve 100 barões.

sábado, 19 de janeiro de 2013

[a vida como ela noé] A GELADEIRA DESLIGADA



:: txt :: Rafael Cal :: 

 As janelas fechadas deixavam entrar a luz difusa do fim da tarde. Não havia ninguém vivendo ali. Os móveis também já não estavam.

A casa vazia se percebe pela geladeira desligada, pensou. Olhou por uns segundos antes de abrir. Aberta, contemplou as prateleiras vazias. Nenhum sinal de vida.

Fechou os olhos e tentou sentir o cheiro da comida no fogão. Não havia cheiro ou fogão. Só um espaço vazio.

Insistia na procura. Procurava por alguma coisa esquecida. Havia muitas.

Pequena, puxou o banco e subiu. Abriu o armário: pratos, copos, um escorredor. Tudo empoeirado. Pensou que o armário não impedia a poeira do tempo. Concentrando-se de novo na busca, não achou nenhum eletrodoméstico.

Não estava lá.

Desceu do banco e procurou embaixo da pia.

Um liquidificador. Pegou, organizou as coisas sobre a pia e ligou na tomada. Apertou o pulsar.

Pulsava.

Pensou em colocar gelo, cachaça e suco de frutas. Mas a geladeira estava desligada, não havia gelo. Cachaça, só no bar da esquina. E suco de frutas nunca havia entrado naquele apartamento.

Imaginou um milk-shake. Mas lembrou da geladeira desligada. E leite, se houvesse, estaria azedo.

Melhor seria colocar ali a geladeira desligada, que parecia tão diferente iluminada por aquela luz difusa. Ou todas as suas mágoas. Sem escolher muito, decidiu pelas mágoas: a geladeira não caberia. Teve medo de transbordar. Apesar disso, ligou o liquidificador.

Mas não aconteceu nada.

As mágoas não poderiam ser trituradas. Até tentou.

Então, decidiu enfiar a mão na lâmina que girava.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

[agência pirata] POR QUE O GOVERNO DEVE APOIAR A MÍDIA ALTERNATIVA

:: txt :: Venício A. de Lima :: 

 Em audiência pública na Comissão de Ciência & Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, realizada em 12 de dezembro último, o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), Renato Rovai, defendeu que 30% das verbas publicitárias do governo federal sejam destinadas às pequenas empresas de mídia.

Dirigentes da Altercom também estiveram em audiência com a ministra da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom-PR), Helena Chagas, para tratar da questão da publicidade governamental.

Eles argumentam que o investimento publicitário em veículos de pequenas empresas aquece toda a cadeia produtiva do setor. Quem contrata a pequena empresa de assessoria de imprensa, a pequena agência publicitária, a pequena produtora de vídeo, são os veículos que não estão vinculados aos oligopólios de mídia.

Além disso, ao reivindicar que 30% das verbas publicitárias sejam dirigidas às pequenas empresas de mídia, a Altercom lembra que o tratamento diferenciado já existe para outras atividades, inclusive está previsto na própria lei de licitações (Lei nº 8.666/1993).

Dois exemplos:

1.Na compra de alimentos para a merenda escolar, desde a Lei nº 11.947/2009, no mínimo 30% do valor destinado por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar, do Fundo de Desenvolvimento da Educação, do Ministério da Educação, gestor dessa política, deve ser utilizado na aquisição “de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas”.

2. No Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), destinado ao desenvolvimento da atividade audiovisual, criado pela Lei nº 11.437/2006 e regulamentado pelo Decreto nº 6.299/2007, a distribuição de recursos prevê cota de participação para as regiões onde o setor é mais frágil. Do total de recursos do FSA, 30% precisam ser destinados ao Norte, Nordeste e Centro Oeste. Vale dizer, não se podem destinar todos os recursos apenas aos estados que já estão mais bem estruturados (ver aqui, acesso em 11/1/2013).

A regionalização das verbas oficiais

A reivindicação da Altercom é consequência da aparente alteração do comportamento da Secom-PR em relação à chamada mídia alternativa.

A regionalização constitui diretriz de comunicação da Secom-PR, instituída pelo Decreto n° 4.799/2003 e reiterada pelo Decreto n° 6.555/ 2008, conforme seu art. 2°, X:

“Art. 2º – No desenvolvimento e na execução das ações de comunicação previstas neste Decreto, serão observadas as seguintes diretrizes, de acordo com as características da ação:

“X – Valorização de estratégias de comunicação regionalizada.”


Dentre outros, a regionalização tem como objetivos “diversificar e desconcentrar os investimentos em mídia”.

De fato, seguindo essa orientação a Secom-PRtem ampliado continuamente o número de veículos e de municípios aptos a serem incluídos nos seus planos de mídia. Os quadros abaixo mostram essa evolução.




(Fonte: Núcleo de Mídia da Secom, acesso em 11/1/2013)



Trata-se certamente de uma importante reorientação histórica na alocação dos recursos publicitários oficiais, de vez que o número de municípios potencialmente cobertos pulou de 182, em 2003, para 3.450, em 2011, e o número de veículos de comunicação que podem ser programados subiu de 499 para 8.519, no mesmo período.

Duas observações, todavia, precisam ser feitas.

Primeiro, há de se lembrar que “estar cadastrado” não é a mesma coisa que “ser programado”. Em apresentação que fez na Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), São Paulo, em 16 de julho de 2009, o ex-secretário executivo da Secom-PR Ottoni Fernandes Júnior, recentemente falecido, citou como exemplo de regionalização campanha publicitária em que chegaram a ser programados 1.220 jornais e 2.593 emissoras de rádio – 64% e 92%, respectivamente, dos veículos cadastrados.

Segundo e, mais importante, levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, a partir de dados da própria Secom-PR, publicado em setembro de 2012, revela que nos primeiros 18 meses de governo Dilma Rousseff (entre janeiro de 2011 e julho de 2012), apesar da distribuição dos investimentos de mídia ter sido feita para mais de 3.000 veículos, 70% do total dos recursos foram destinados a apenas dez grupos empresariais (ver “Globo concentra verba publicitária federal”, CartaCapital, 13/9/2012, acesso em 12/1/2013).

Vale dizer, o aumento no número de veículos programados não corresponde, pelo menos neste período, a uma real descentralização dos recursos. Ao contrário, os investimentos oficiais fortalecem e consolidam os oligopólios do setor em afronta direta ao parágrafo 5º do artigo 220 da Constituição Federal de 1988, que reza:

“Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de oligopólio ou monopólio”.

Democracia em jogo

A mídia alternativa, por óbvio, não tem condições de competir com a grande mídia se aplicados apenas os chamados “critérios técnicos” de audiência e CPM (custo por mil). A prevalecerem esses critérios, ela estará sufocada financeiramente, no curto prazo.

Trata-se, na verdade, da observância (ou não) dos princípios liberais da pluralidadee da diversidadeimplícitos na Constituição por intermédio do direito universal à liberdade de expressão, condição para a existência de uma opinião pública republicana e democrática.

Se cumpridos esses princípios (muitos ainda não regulamentados), o critério de investimentos publicitários por parte da Secom-PR deve ser “a máxima dispersão da propriedade” (Edwin Baker), isto é, a garantia de que mais vozes sejam ouvidas e participem ativamente do espaço público.

Como diz a Altercom, há justiça em tratar os desiguais de forma desigual e há de se aplicar, nas comunicações, práticas que já vêm sendo adotadas com sucesso em outros setores. Considerada a centralidade social e política da mídia, todavia, o que está em jogo é a própria democracia na qual vivemos.

Não seria essa uma razão suficiente para o governo federal apoiar a mídia alternativa?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

[...] A MONSTRUOSA MÁQUINA DE TORTURA



:: txt :: Alberto Lins Caldas ::

LIBERDADE - entregamos sem nenhuma reação todos os aspectos da nossa liberdade (que é feita de minúsculos fragmentos, de frágeis dobradiças, de memórias sutis) em nome de qualquer coisa. para melhorar “a questão da violência”, as câmeras em todas as ruas, em todos os lugares públicos; para garantir “a população e a coisa pública”, soldados na rua; para “combater o crime”, assassinatos, torturas, violência, medo, mentiras e impunidade.


MÁQUINAS DE TORTURA - quase todas as "coisas públicas" são máquinas de tortura, instrumentos de humilhação: também escadas, ónibus, calçadas, ruas, viadutos, praias, chopincenteres, gramáticas, ortografias, livros, comícios, escolas: principalmente se você é "possuidor" de uma "deficiência" (nada mais cruel que a língua, outra máquina monstruosa de tortura), se é negro, se é velho, se é homossexual, se é pobre, se é estrangeiro de "culturas inferiores" (os imbecis e os conceitos monstruosos são mais imaginativos e persistente do que qualquer razão). este país chamado brasil é uma monstruosa máquina de tortura em todos os detalhes, basta olhar.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

[...] ZAPATISTAS, O QUE PENSAM E O QUE QUEREM



"No México existem dois projetos de Nação... O primeiro, o do Poder... O outro projeto... o do movimento"

    Mesmo debaixo da feroz agressão do Governo Mexicano e indiretamente dos Estados Unidos, a luta do Exército Zapatista prossegue com notável força moral e espiritual, obtendo apoio não apenas na comunidade mexicana, mas principalmente de todo mundo. Tanto que há quem considere que se existe hoje uma fagulha de esperança para os pobres e marginalizados, não apenas de Chiapas, mas também de todo o mundo, essa fagulha brilhou em 31 de dezembro de 1996, na insurreição Zapatista.

    Pela Frente Zapatista de Libertação Nacional Desde o Rio Bravo ao Norte e o Suchiate ao Sudeste, em meio aos dois oceanos, na cidade e no campo, recuperando o passado para lutar no presente por um futuro melhor, falando com os que nada falam e escutando aos que nada escutam, levantando a rebeldia como bandeira, vivendo a dignidade como projeto de vida, e

    CONSIDERANDO...

    Primeiro.— Que no México existem dois projetos de Nação que lutam entre si para definir o futuro de nosso país:

    O primeiro, o do Poder, é o da imobilidade. Implica na destruição da Nação mexicana, nega nossa história e raízes, vende nossa soberania, faz da traição e do crime os fundamentos da moderna política, e da simulação e da mentira, trampolins de êxito político, impõe um programa econômico que só consegue prosperar na desestabilização e na insegurança de todos os cidadãos e cidadãs, e utiliza a repressão e a intolerância como argumentos de governo.

    O outro projeto, o dos mexicanos e mexicanas do povo com ou sem organização, é o do movimento. Implica na reconstrução da Nação mexicana da única forma possível, a saber, de baixo para cima; recuperar a história e a raiz de nosso povo; defender a soberania; lutar por uma transição à democracia que não simule uma mudança mas que seja um projeto de reconstrução do país; lutar por um país que tenha a verdade e o mandar obedecendo como norma do que fazer político; lutar para que a democracia, a liberdade e a justiça sejam patrimônio nacional, lutar para que o diálogo, a tolerância e a inclusão construam uma nova forma de fazer política.

    Segundo.— Que a vida política de nosso país vá além da que nos é imposta pelo Estado Mexicano que exclui a imensa maioria do povo; e que a luta por manter o Poder ou por tomá-lo tem definido uma forma de fazer política que deixa grandes cicatrizes na vida política nacional.

    Terceiro.— Que o levante Zapatista de 1994 não só evidenciou a crise dentro do sistema de partido de Estado e o esquecimento ao que se pretendia condenar aos indígenas mexicanos, mas que também mostrou a necessidade e possibilidade de uma nova forma de fazer política, sem aspirar à tomada do Poder e sem posições vanguardistas, ademais que reconheceu e estabeleceu pontes com um movimento civil e pacífico, não partidário e heterogêneo, emergente: a sociedade civil.

    Quarto.— Que a sociedade civil, organizada ou espontaneamente tem ocupado os grandes vazios que deixam os partidos políticos e, nos últimos anos de forma mais importantes, tem conseguido as vitórias políticas mais significativas do México moderno, que se converteu, com o acompanhamento de algumas forças políticas, na principal impulsora da transição à democracia e na construtora essencial de uma nova sociedade plural, tolerante, incluente, democrática, justa e livre, que só é possível hoje em uma Pátria nova.

    Quinto.— Que a transição real à democracia é a única esperança de que os cidadãos e cidadãs, todos e todas, recuperem seu direito de fazer valer o artigo 39 da Carta Magna, onde está escrito que: A soberania reside essencial e originariamente no povo. Todo poder público emana do povo e se institui para benefício deste. O povo tem todo o tempo o inalienável direito de alterar ou modificar a forma de seu governo, e que este direito é a base para a construção de um novo país.

    Sexto.— Que a construção do projeto de uma Nova Pátria é um processo cuja condução não corresponde uma força hegemônica ou a um indivíduo, mas a um amplo movimento nacional, popular e democrático.

    Sétimo.— Que é necessária uma força política que não lute pela tomada de Poder nem com os velhos métodos de fazer política, mas que lute por criar, somar, promover e fortalecer os movimentos de cidadania e populares, sem tratar de absorvê-los, dirigi-los ou utilizá-los; uma força política cuja luta não é eleitoral mas que reconhece que o terreno eleitoral se tem convertido em um espaço de ação de cidadania válida e necessária, e que é indispensável a luta por ampliá-la e democratizá-la; uma força política que some sua luta com a de outras forças para lograr a transformação democrática real; uma força política que com sua prática contribua para a construção de uma nova forma de fazer política; uma força política que lute para que o que fazer político seja um espaço de cidadania, que não use aos cidadãos e cidadãs, mas que seja veículo e pretexto para o movimento social e político; uma força política que não olhe de cima em seu caminho e aspirações, mas que se dirija aos lados em suas palavras, ouvidos e esforços; uma força política que sempre levante a bandeira da dignidade rebelde onde quer que se encontre.

    PORTANTO

    É necessário pensar em novas formas de relação entre a organização política e o conjunto da sociedade. Novas formas de relação onde a ética e a política não sejam inimigas.

    É necessário que no movimento e organização política não só não se contraponham, mas que a una um a serviço do outro.

    É necessário o diálogo com e entre os espaços de participação e os movimentos, a capacidade de convocar uns aos outros, de promover ações conjuntas, e de somar e somar-se a suas iniciativas.

    É necessário um espaço de participação que, perante os movimentos e com eles, possa organizar a demanda e a satisfação dos direitos populares, possa organizar a resistência e o desenvolvimento de formas sociais de autogestão, possa reconhecer a aparição de novos atores sociais e acompanhar suas mobilizações, possa organizar e promover a vigilância dos cidadãos sobre os governantes, e possa criar novos espaços de mobilização.

    É necessário que o espaço de participação política tenha movimento interior para não congelar as idéias como verdades inamovíveis, mas que os pensamentos estejam em uma contínua confrontação com a realidade, e que o espaço de participação gere um pensamento crítico desde o Poder até a si mesmo.

    É necessário que o espaço de participação tenha lugar para a voz de todas e todos os que nele se encontram.

    É necessário que o espaço de participação faça da construção coletiva seu interesse principal.

    Por tudo isso, por tratar de ocupar um espaço vazio e não para competir com outros, por tratar de aportar algo novo e não para disputar o monopólio do velho, para tratar de somar e não de dividir, para tratar de construir e não de destruir, para tratar de convencer e não de vencer, para tratar de acompanhar e não de dirigir, para tratar de incluir e não de excluir, para tratar de representar e não de suplantar, para tratar de propor e não de impor, para tratar de servir e não de servir-se, é que um grupo de mexicanos e mexicanas, respondendo à convocatória feita pelo EZLN em sua IV Declaração da Selva Lacandona, nos propomos construir a Frente Zapatista de Libertação Nacional segundo a seguinte...

    DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS.

    A Frente Zapatista de Libertação Nacional adota os seguintes princípios que definem sua identidade social e política:

    1.— A Frente Zapatista de Libertação Nacional é uma organização política mexicana, presente em todo o território nacional, que recorre a formas de luta civis e pacíficas para fazer realidade em nosso país uma sociedade livre, justa, democrática e participativa, aberta a todas as correntes de pensamento, plural em sua composição cultural e étnica, incluindo respeito a todo tipo de minorias e justa em sua ordem econômica e social. Para isso a FZLN se sustenta em raízes étnicas, culturais e históricas que formam a nação mexicana para fortalecer nossa identidade como povos e enriquecer nosso caráter pluricultural, e recolhe a tradição de luta que tem desenvolvido nosso povo, ao longo de mais de 500 anos, por libertar-se dos diferentes tipos de dominação que tem padecido. A FZLN reivindica a luta pela dignidade que tem sustentado nosso povo ao longo de sua história e busca com sua ação, tanto interna quanto externamente, ser congruente consigo mesma.

    2.— A Frente Zapatista de Libertação Nacional se declara independente ideológica, política e economicamente dos partidos políticos, das igrejas, do Estado Mexicano e de qualquer outro Estado no mundo.

    3.— A Frente Zapatista de Libertação Nacional com o caráter incluente que possui, porque sabe que seu objetivo não pode ser obra de uma só força sem o labor coletivo, reconhece que é necessário promover e participar em um amplo movimento nacional de onde confluam outras forças políticas de oposição independentes e cuja tarefa é a transformação do México em um país com democracia, liberdade e justiça para todos. É por isso que a busca da unidade, mediante o diálogo e ações conjuntas, entre todas as forças que lutam por este novo México, assim como a busca pela integração das diversas formas de luta pacíficas e civis, será uma atitude permanente dentro das atividades que realiza a FZLN.

    4. — A Frente Zapatista de Libertação Nacional não aspira à tomada do Poder. Sua razão de ser é a construção de estruturas organizativas no seio do povo para que este possa tomar coletivamente as decisões políticas que respondam a seus interesses e exerça sua soberania sobre o desenvolvimento econômico, político e social. A FZLN lutará sempre contra toda forma de exploração, discriminação e opressão econômica, social, ideológica e cultural, para construir uma sociedade em que todos os mexicanos vivamos em condições justas e dignas.

    5. — A Frente Zapatista de Libertação Nacional assume como princípio fundamental o de "mandar obedecendo", que se opõe à relação mando/obediência que vem desde o Poder e que busca permear toda sociedade. A FZLN propõe a toda a nação adotar este princípio como base de todas as relações sociais e políticas no México, buscando sempre que nas relações sociais pese mais a busca do interesse coletivo sobre os interesse pessoais. De tal forma que, como complemento a este princípio, em todas as atividades organizativas que requeiram um trabalho de coordenação, os membros da FZLN funcionarão sobre a lógica do coordenar respeitando.

    6. — A Frente Zapatista de Libertação Nacional assume o princípio de "para todos tudo, nada para nós", por seu profundo conteúdo comunitário e porque reflete a decisão de seus militantes de não buscar o benefício individual, sectário ou partidarista no desenvolvimento da luta, mas de lutar pelo bem estar coletivo.

    7. — A Frente Zapatista de Libertação Nacional sabe que sua luta é parte do novo movimento internacional que se opõe ao neoliberalismo e se propõe contribuir nesta grande batalha, desde seu país, para a vitória de todos os povos do planeta em favor da humanidade e contra o neoliberalismo, a construção de um mundo onde caibam muitos mundos.


    PROGRAMA DE LUTA DA FZLN
    CONSIDERANDO QUE...

    O programa da FZLN deve refletir que somos uma força política que não busca a tomada do poder, que não pretende ser a vanguarda de uma classe específica, ou da sociedade em seu conjunto.

    O programa de uma força política de novo tipo deve recolher o conjunto de demandas dos diversos atores sociais e de cidadania, os direitos individuais e comunitários; não a partir de uma perspectiva acadêmica, mas a partir da participação ativa e consciente dentro do movimento social em luta, tratando que a sociedade, a começar pelo cidadão, se aproprie da política.

    O programa de luta deve considerar que a soberania popular se cria com a força autônoma do povo com respeito ao Estado, com programas próprios decididos pela maioria, com projetos de desenvolvimento legitimados não pela institucionalidade, mas pela participação e auto criação popular.

    O programa se vai construindo ao lado da democracia participativa, desde a auto-organização do povo, garantindo seu protagonismo com o desenvolvimento da iniciativa e a criatividade popular. Buscamos que nosso programa seja uma ferramenta útil, mas flexível, que permita mirarmos no espelho da sociedade.

    PORTANTO PROPOMOS

    agrupar em seis eixos programáticos as 13 demandas fundamentais do EZLN: Trabalho, Teto, Terra, Alimentação, Saúde, Educação, Independência, Democracia, Justiça, Liberdade, Cultura, Direito à Informação e Paz, junto com as outras três que se agregaram durante a Consulta aos Cidadãos de agosto de 1995: Segurança, Combate à Corrupção e Defesa do Meio Ambiente; e o conjunto de propostas elaboradas durante o Congresso de Fundação da FZLN.

    Estes seis eixos são:

    DEMOCRACIA, JUSTIÇA, LIBERDADE, INDEPENDÊNCIA, NOVA CONSTITUINTE E NOVA CONSTITUIÇÃO, A CONSTRUÇÃO DE UMA FORÇA POLÍTICA DE NOVO TIPO DEMOCRACIA

    No eixo da DEMOCRACIA defendemos tudo que tem a ver com romper a relação mando/obediência que o Estado e os grupos hegemônicos impõem à sociedade, o mesmo que a necessária construção de novas relações no próprio seio da sociedade. Aqui retomaríamos o autêntico federalismo, o estabelecimento de órgãos onde o povo exerça sua soberania (democracia direta), a luta por um Estado de Direito, uma verdadeira reforma política, onde sejam garantidos os instrumentos de controle pelos cidadãos como o referendum, a revogação de mandato, a prestação de contas, uma autêntica cidadanização de todos os órgãos eleitorais, a desmilitarização do país, a luta por democratizar os meios de comunicação.

    Lutamos para que o conceito democracia se entenda mais além do estritamente eleitoral; a democracia deve organizar a participação de todos os setores e permitir que a sociedade civil retome os espaços que lhe correspondem na criação de uma nova sociedade e um novo estado, assim como na regulação das relações entre ambos.

    Neste eixo, também atribui grande importância à luta por uma autêntica e profunda Reforma do Estado, entendida como uma nova relação entre as diversas partes da Nação, como uma reformulação do papel dos diversos atores sociais em sua relação com o Estado, começando por pagar a dívida histórica que a Pátria tem com os povos índios. Uma autêntica Reforma do Estado tem que ser conseqüente com o caráter pluriétnico do México e reconhecer as comunidades indígenas como origem e parte essencial da Nação, aceitando seu direito à autonomia, tal e como foi formulado nos acordos de San Andrés Sacamch'en de los Pobres. Uma Reforma que ponha fim ao sistema de Partido de Estado e tudo o que isto implica a nível social, político, ideológico e cultural. Que seja realidade o Município Livre. Que garanta o direito à informação, à ampliação dos direitos dos cidadãos, em especial os direitos humanos. Que ponha fim à discriminação de gênero e de orientação ou preferência sexual. E que incorpore tudo que seja necessário para obter a reconstrução democrática do México.

    Buscamos uma reforma permanente e cotidiana de tal forma que a democracia se exerça em todos os níveis da vida econômica, política, ideológica e social até a transformação profunda das relações humanas, na família, entre pais e filhos, entre companheiros e companheiras, entre cidadãos e cidadãs e para quem é diferente, que ponham fim a todo tipo de discriminação, de gênero, de força, de opção sexual e de toda diferença que ponha o povo em desvantagem frente a quem tem o poder.

    JUSTIÇA

    No eixo da JUSTIÇA, defendemos tudo o que tem que ver com o objetivo de obter uma vida digna; Aqui agrupamos: Trabalho, Terra, Teto, Alimentação, Saúde, Educação, Justiça, Cultura, Segurança, Contra a Corrupção, Defesa do Meio Ambiente. A luta contra a impunidade, a luta contra a concentração de riqueza; contra o neoliberalismo; pelo estabelecimento de novos critérios e instâncias para a administração da justiça; pelo seguro desemprego; por um salário que permita satisfazer as necessidades fundamentais, sem discriminação por sexo; por recuperar o espírito original do artigo 27 da Constituição, para que os camponeses e indígenas recuperem seu direito a ter terra e os meios para poder trabalhar essa terra e para que a propriedade comunal seja inalienável e imprescritível; contra a lei das AFORES; pela defesa da segurança social; pela participação democrática nas comunidades para a aplicação de programas de aproveitamento e distribuição de água potável de forma eqüitativa; promover uma educação científica, democrática e popular, não sexista e de qualidade em todos os níveis, sem exclusão nem exames de eliminação, que seja realmente laica, obrigatória e gratuita, que garanta a igualdade de possibilidades e não só de oportunidades para toda a população e que também garanta a mulheres e homens, meninas e meninos uma vida livre de violência e de opressão; por orientar o programa econômico favorecendo aos setores mais despossuídos do país, com uma proposta integral de desenvolvimento econômico que elimine o neoliberalismo, a concentração da riqueza e as injustas conseqüências sociais e políticas que gera; contra a subordinação do poder judicial ao poder executivo; contra a sociedade machista; por uma verdadeira justiça em matéria de direitos humanos, de crianças, indígenas, mulheres, soropositivos e todo grupo marginalizado ou minoritário; por um uso sustentado dos recursos naturais e a distribuição equitativa dos mesmos, que promova o aproveitamento integral da natureza e que considere a conservação da diversidade ecológica e muitas outras que refletem a constante mobilização de nosso povo por mudar a terrível deterioração social em que estão submetidos.

    LIBERDADE

    No eixo LIBERDADE, defendemos as demandas que buscam romper as ataduras que nos impedem de viver livremente: A luta por erradicar o corporativismo e o caciquismo; pela livre filiação sindical; a liberdade de expressão e manifestação; a defesa dos direitos humanos; a liberdade dos presos e desaparecidos políticos; pela liberdade de preferência sexual e tantas outras que dia a dia se expressam nas ruas e povos de nosso país. Por criar espaços físicos, culturais, sociais e políticos inspirados na forma das Aguascalientes Zapatista, conquistados e geridos de maneira independente das instituições governamentais, ou seja, autogestionados e autogovernados.

    INDEPENDÊNCIA

    No eixo INDEPENDÊNCIA, defendemos as iniciativas da maioria dos mexicanos que não nos resignamos a hipotecar nosso futuro à irracionalidade da "nova ordem mundial": A luta pela defesa da Soberania Nacional que se expressa particularmente na defesa de nossos recursos naturais e humanos; a luta contra a presença de corporações policiais ou militares de outros países no México, contra a assistência, capacitação e aprovisionamento de armamento e equipes militares; contra o Tratado de Livre Comércio que firmou o governo mexicano, reformando-o sobre bases justas, em benefício social e não só das grandes empresas, garantindo a proteção dos recursos e a satisfação das necessidades básicas da população, consultando a maioria para a elaboração de todas estas modificações; pelo desenvolvimento de uma tecnologia própria; pela autosuficiência alimentícia; pela autodeterminação dos povos; pela solidariedade com povos que lutam libertação nacional; e por todas aquelas demandas que em sua sabedoria o povo mexicano levanta para evitar a destruição de nosso tecido nacional.

    NOVA CONSTITUINTE E NOVA CONSTITUIÇÃO

    No eixo NOVA CONSTITUINTE E NOVA CONSTITUIÇÃO, queremos assinalar a importância que tem para muitos dos pontos anteriormente assinalados a realização de um novo Congresso Constituinte que elabore uma nova Constituição, que retome o melhor da de 1917, deixe de lado o sem número de modificações antipopulares que foram levadas a cabo desde o sistema de partido de Estado e tome em conta as distintas vozes e posturas que desde fora do poder vem se manifestando a respeito nos últimos tempos.

    Uma nova Constituição que, entre seus elementos, contemple em seu espírito e sua redação às mulheres e seus direitos como cidadãs; que inclua como processos básicos da democracia, a tomada de acordos baseados na consulta, no referendum e no plebiscito. Que garantisse uma nova forma de Estado, não só reformas ao atual sistema. O objetivo será por como centro de sua atenção as necessidades dos cidadãos e suas organizações.

    CONSTRUÇÃO DE UMA FORÇA POLÍTICA DE NOVO TIPO

    No eixo da CONSTRUÇÃO DE UMA FORÇA POLÍTICA DE NOVO TIPO defendemos precisamente nossa decisão e nosso compromisso para intentar construí-la dia a dia, na prática. Uma organização que também deve construir-se aplicando em seu interior os eixos programáticos de DEMOCRACIA, JUSTIÇA, LIBERDADE E INDEPENDÊNCIA, que luta por não cair no discurso duplo e na dupla moral. Que tem como objetivo atuar em seu interior como propõe à sociedade atuar. Não queremos desenvolver um espaço de participação política inóspito. Lutamos por uma FZLN Democrática, Justa, Livre e Independente, responsável e comprometida, sem protagonismo e hegemonismo.

    A idéia que queremos expressar com estas definições acerca do programa de luta, é que a FZLN busca recolher as demandas mais sentidas que a sociedade vem formulando, e ao mesmo tempo ter uma base programática flexível que nos permita recolher as que se vão construindo através dos novos movimentos sociais, assim como ter um guia comum para planejar o momento político que se viva, assim se poderá defender a importância de tal ou qual demanda em particular.

    O que se busca é agrupar não para estreitar, mas para ampliar nosso horizonte, não unicamente tomando em consideração aos movimentos sociais tal e como se tem expressado no presente, mas abrindo-se às novas formas em que se expressam estes novos movimentos sociais. Por isso não é um programa de governo, nem está feito para que a FZLN tome o poder; tem um objetivo diferente, possivelmente maior: ajudar a desatar toda a energia social, para construir novas relações humanas que permitam à sociedade tomar posse do que a pertence: o controle de seu destino.

    Por isso entendemos o programa como uma ponte da FZLN com a sociedade e os movimentos sociais, um espaço de diálogo permanente, um território comum, donde cada resposta gere uma nova pergunta. É o instrumento por meio do qual os Zapatista civis integrados na FZLN, buscamos organizar a luta pela satisfação dos direitos populares, organizar a resistência e desenvolvimento de formas sociais de autogestão, reconhecer a aparição de novos atores sociais e acompanhar suas mobilizações, organizar e promover a vigilância dos cidadãos sobre os governantes e ajudar a criar novos espaços de mobilização.

    PLANO DE AÇÃO

    Os seis grandes eixos programáticos tem que se transformar em ações concretas, que nos ajudem a dar-lhes corpo, a torná-los concretos em demandas específicas e em planos de luta que busquem como satisfazê-lo, mediante a organização e participação direta do povo, nessas demandas. Isso é precisamente um plano de ação, passar do por que lutamos para o como lutamos.

    O Plano de Ação deve mostrar claramente aos distintos indivíduos, comitês e instancias organizativas, por onde começar, na prática, a estender as pontes com o movimento social. É por isso que o Congresso agrupou as diversas ações ao redor de campanhas específicas de mobilização. Isto permitirá que, ao largo do país, os militantes da FZLN se agrupem entre si e com outros indivíduos, organizações e movimentos, para dialogar, planificar e levar adiante as ditas campanhas, tomando como ponto de partida as que já estão se desenvolvendo em nossa sociedade. A nova força política deverá ser capaz de enraizar-se atuar e influir nos diversos movimentos sociais que hoje estão se desenvolvendo no país a partir da situação em que se encontram, não na que desejaríamos que se encontrassem.

    Por isso mesmo, todas estas campanhas de mobilização devem ser construídas desde baixo, ou seja, parte do nível local, partindo das forças reais de cada comitê, do diálogo e interação que tenham com outras organizações e movimentos e a idéia é ir enlaçando-as a nível local, depois regional para assim chegar até o nível nacional.

    A proposta da FZLN é que de nossos eixos programáticos saiam demandas concretas, que por sua vez demandem ações concretas para poderem se cumprir. Para impulsionar as ditas ações, temos que enquadrá-las nas seguintes campanhas de mobilização:

    Pelo reconhecimento constitucional dos direitos indígenas e por uma paz justa e digna.

    Aqui englobamos as propostas sobre a autonomia indígena recolhidas nos Acordos de San Andrés Sacamchen. Lutar pela pluralidade cultural, pela desmilitarização em todo o país e contra os grupos paramilitares.

    Consequentemente, contra o desenvolvimento da Guerra de Baixa Intensidade, e tudo o que tenha que ver com lograr para o México uma Paz com Justiça e Dignidade e por conformar uma denúncia formal ante os tribunais internacionais para que se sancione o governo federal por sua cumplicidade com os paramilitares. Aqui também entra lutar pela liberdade de todos os presos políticos e pela apresentação dos desaparecidos políticos.

    Pelo direito dos camponeses e dos trabalhadores do campo à terra e à liberdade, e dos trabalhadores do campo à livre organização sindical, sob os princípios do ideal Zapatista "a terra é para quem a trabalha" pondo ênfase em lograr reverter as contra-reformas salinistas do artigo 27 da Constituição e dar-lhe seu sentido original sobre a propriedade social; apoiar aos trabalhadores e trabalhadoras migrantes.

    Pela democracia desde baixo, que agrupe tudo o que tem que ver com uma nova reforma eleitoral, realmente democrática, começando por restituir a autonomia aos municípios, tanto indígenas como mestiços e que chegue até os elementos da democracia direta;

    Criar um amplo movimento social que lute pela criação de uma nova constituição, surgida da sociedade civil e dos povos e nações indígenas para dar luz a uma nova Constituição que reflita um projeto de Nação, que responda aos interesses históricos de nosso povo e que tenha como centro todas e todos os mexicanos.

    Lutar pela abertura dos meios de comunicação, que garanta a liberdade de expressão, o direito à informação e à participação dos cidadãos e de organizações sociais, civis e políticas.

    Criar instâncias de gestão e ação que ajudem a resolver conjuntamente as necessidades e demandas da sociedade civil.

    No caso das zonas urbanas, lutar por cidades democráticas, organizadas desde os bairros. Participar em todas as formas civis de mobilização do povo. Recolher as demandas destas lutas para construir um programa realmente popular; fortalecer a organização de foros nos quais participe todo povo, tratando de unificá-los em um grande foro nacional.

    Pelo direito dos trabalhadores ao emprego, ao salário, à segurança social e à organização livre e democrática.

    Todas as propostas que tem que ver com a luta dos trabalhadores e trabalhadoras, como é o caso da mobilização conta as Afores, seguro desemprego, contra o TCL imposto pelo governo, a luta por uma pensão digna e por um salário justo e digno, contra o assédio sexual no trabalho, etc. Por uma reforma fiscal a favor dos que menos tem, que tribute o capital e não o trabalho.

    * A luta e a promoção da vinculação e reconhecimento entre o movimento laboral organizado em sindicatos democráticos ou comitês democráticos e o movimento das trabalhadoras e trabalhadores das fábricas, do campo e do setor informal.

    Por estabelecer uma política de alianças com as forças políticas e sociais que se oponham ao regime de partido de estado e contra o neoliberalismo.

    Lutar por uma política de alianças para lograr a vinculação com os partidos políticos de oposição; trabalhar com as organizações sociais para vincular-nos a elas democrática e respeitosamente. Discutir e impulsionar os acordos e propostas derivadas das reuniões e iniciativas internacionais com este propósito.

    Levar a cabo um encontro nacional para estruturar o projeto completo de Nação antes do fim do milênio e submetê-lo a referendum.

    Participar ativamente na promoção de uma frente ampla pela democracia.

    Ações de mobilização social pela democracia direta.

    Organizar propostas e demandas dos cidadãos para sua solução, tanto dentro do espaço de mobilização existente, como no âmbito dos não organizados para que se organizem e sejam movimento. Criar espaços de participação social donde se discutam as demandas e se construam as propostas.

    Exercer a rebeldia dos cidadãos que gere vínculos com a população; igualdade e solidariedade com os excluídos; autogestão para a produção e a comercialização;

    Detectar os diferentes setores sociais com tendência à mudança e promover sua autogestão organizativa. Promover atividades culturais de e entre as distintas localidades do país. Construir redes de intercâmbio entre quem tem causa comum e espaços de diálogo em território que não é comum.

    Levar a cabo boicotes econômicos e campanhas de difusão contra qualquer entidade privada ou pública, nacional ou transnacional, que fira à dignidade humana, fazer o mesmo para com os meios de comunicação massiva, artigos de consumo, serviços, projetos culturais e empresas que os patrocinem, incluindo indivíduos e organizações sociais ou políticas que provoquem a morte da humanidade e da natureza.

    Criar "Aguascalientes" como espaços de resistência civil em todo país. Assumir a resistência como uma rebeldia civil, desenvolvendo ações autogestivas para a produção e a comercialização.

    Promover a organização de assembléias comunitárias dos cidadãos, locais, municipais, regionais e estatais.

    Organizar desde as assembléias de base a participação na constituinte e na elaboração de propostas para a elaboração da Constituição, resgatando os símbolos históricos da nacionalidade manipulados pelo Estado.

    Pela defesa do meio ambiente

    A defesa do meio ambiente deve ter como objetivo garantir uma qualidade de vida digna para todos os seres humanos, promovendo um uso racional e eqüitativo dos recursos naturais, a natureza e o cosmos a fim de garantir a sobrevivência do planeta e da humanidade. Se deve promover uma cultura onde se contemple a unidade e dependência que existe entre o ser humano e o meio ambiente. Se deve reverter a tendência do sistema neoliberal que busca o lucro máximo através de uma cultura consumista que depreda, mudando-a para uma que contemple cobrir as necessidades essenciais do ser humano.

    Lutar por uma reforma urbana que inclua o planejamento das comunidades: equipamento urbano, áreas de lazer, etc.

    Organizar-se e manifestar-se contra os megaprojetos neoliberais que não levam em conta a população concentradas nas futuras "áreas de desenvolvimento".

    Impulsionar programas que permitam um desenvolvimento equilibrado do habitat, onde não haja conflito entre o desenvolvimento do homem com o meio ambiente.

    Promover a autogestão das comunidades para que sejam elas quem determinem e façam uso de seus próprios recursos naturais, baseados no conhecimento que se tem sobre eles e contemplando a capacidade dos ecossistemas que os suportam.

    Exigir o respeito à soberania sobre nossos recursos naturais, evitando que caiam em mãos de transnacionais, como é o caso do projeto do corredor transistmico.

    Pelo respeito e a promoção dos direitos de setores primários sistematicamente marginalizados e oprimidos, como mulheres, crianças, anciãos, homossexuais, migrantes, soropositivos, descapacitados, etc. Pela defesa das garantias individuais, civis e de trabalho.

    Desenhar uma estratégia para a construção de relações eqüitativas dentro e entre os gêneros masculino e feminino, que oriente todas as ações que realize a FZLN a nível nacional, regional e local.

    Pelo direito à educação e à promoção de uma política cultural libertadora.

    Gerar um movimento de rua de comunicação popular que recrie a problemática e as propostas de mudança, que contraste na atitude ativa e crítica frente à passividade.

    Pela defesa da escola pública e por uma educação gratuita, científica, democrática e de qualidade em todos os níveis. Democratização das formas de governo dos plantéis educativos.

    Promover a educação não formal que resgate os saberes ancestrais, que afiancem a identidade social, baseada em valores como a tolerância, a perspectiva de gênero, a democracia, a comunidade e a auto-sustentabilidade.

    Esta é uma tradução livre dos documentos básicos da Frente Zapatista de Libertação Nacional que foram aprovados durante o Congresso de Fundação realizado na cidade do México, nos dias 13, 14, 15 e 16 de setembro de 1997.



FRENTE ZAPATISTA DE LIBERAÇÃO NACIONAL

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

[a vida como ela noé] POETA MARGINAL? EU, HEIN?



:: txt :: Nicolas Behr ::

não nasci em montes claros. não tenho nome completo. não sou professor. não consegui conciliar nada com a literatura. nunca publiquei nada. atualmente não resido em porto alegre. não me chamo eduardo veiga. não escrevo poesia há mais de 15 anos. não estou organizando meu primeiro livro. não sou graduado em letras. não acredito que a poesia seja necessária. não estou concluindo nenhum curso de pedagogia. não colaboro em nenhum suplemento literário. não estou presente em todos os movimentos culturais da minha terra. não sou membro da academia goiana de letras. não trabalho como assessor cultural da sec. meus pais não foram ligados ao cinema. não tenho tema preferido. não comecei a fazer teatro aos 12 anos. não me especializei em literatura hispano-americana. não tenho crônicas publicadas n’o republica de lisboa. não passei minha infância em pindamonhangaba. não canto a esperança. não recebi nenhuma premiação em concurso de prosa e poesia. não tenho sete livros inéditos. não sou considerado um dos maiores poetas brasileiros. nunca fui convidado para dar palestras em universidades. não vejo poesia em tudo. não faço parte do grupo noigrandes. não me interesso por literatura infantil. não sou casado com o poeta afonso ávila. na minha estréia não recebi o prêmio estadual de poesia. o crítico josé batista nunca disse nada a meu respeito. não sofri influência de bilac. não sou ativo, nem dinâmico. não me dedico com afinco à pecuária. não sou portador de vasto curriculum. não recebi mensão honrosa no concurso de poesia ferreira gullar. não exerço nenhuma atividade docente, nem decente. não iniciei minha carreira literária no exército. não fui a primeira mulher eleita para a academia acreana de letras. não tenho poesias traduzidas para o francês. não estou incluído numa antologia a ser publicada no méxico. minha poesia não é corajosa. não gosto de arqueologia. walmir ayalla nunca me considerou um revolucionário. nunca tentei compreender o homem na sua totalidade. não vim para o brasil com 5 anos de idade. não aprendi russo para ler maiakowski. meu pai não é chileno. não sou virgem, sou capricórnio. não sou mãe de seis filhos. nunca escrevi contos. não me responsabilizo pelos poemas que assino. não sou irônico. não considero drummond o maior poeta da língua portuguesa. não gosto de andar de bicicleta. não sou chato. não sei em que ano aconteceu a semana de 22. não imito ninguém. não gosto de rock. não sou primo dos irmãos campos. não sou nem quero ser crítico literário. nunca me elogiaram. nunca me acusaram de plágio. não te amo mais. minha poesia nunca veiculou nada. não sei o que vocês querem de mim. não espero publicar nenhum romance. não sou lírico. não tenho fogo. não escrevi isto que vocês estão lendo.

sábado, 12 de janeiro de 2013

[agência pirata] PIRATARIA NÃO É CRIME

:: txt :: Wladymir Ungaretti ::

Pirataria não é crime. O Império pirateia pelo mundo. Aliás, a pirataria é uma coisa nossa, dos marginais. Dos que estão à margem. Eles praticam rapinagem. A história tem sido escrita pelos inimigos dos marginais. Os piratas primitivos, em estado mais puro, se aproximavam das formas autogestionárias dos anarquistas. Nos estatutos dos navios piratas a regra era o máximo de liberdade pessoal e, na medida em que eliminavam toda e qualquer hierarquia econômica, a idéia de comunismo estava muito próxima. Daniel Defoe, em um de seus escritos, destacava, por exemplo, os aspectos libertários das colônias de piratas, com grandes contingentes convertidos ao islamismo. Quando das comemorações dos 5OO anos da descoberta da América, o pensador Noam Chomsky demonstrou, através de um texto que deveria ser de leitura obrigatória, como que a conquista continua e, na atualidade, o Império mantém a rapinagem com a defesa das leis do Deus Mercado. A defesa intransigente das regras impostas "democraticamente", leis que legitimam a rapinagem, se faz pelos verdadeiros e novos cães de guarda do sistema. Papel desempenhado com o máximo de eficiência pelos trabalhadores simbólicos e assalariados: showrnalistas, publicitários, assessores de imprensa, professores e acadêmicos doutores, entre outros. Assim como já existem estudos sobre o "banditismo social" do passado, a história de hoje será estudada a partir de práticas de pirataria (não de navios), mas das marcas controladas pelo Império. Também nesse campo prevalece a guerrilha. Não por acaso, as grandes cidades treinam, com apoio do Império e de suas empresas, as Guardas Municipais para combater o que eles denominam de pirataria. Nós propomos: pratique cada vez mais atos de pirataria, de terrorismo poético contra o sistema. (wu)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

[do além] REPÚBLICA, REPÚBLICA. AI QUE SAUDADE DOS MEUS TEMPOS DE REPÚBLICA


:: txt :: Deodoro da Fonseca ::

Tava aqui pensando que talvez seja uma boa proclamar novamente a República. Sejamos sinceros, ela nunca vingou de verdade em nossas terras. No Brasil é assim; umas coisas pegam outras não. Cinto de segurança pegou, Orkut pegou, faixa de segurança não pegou nem nos seus primeiros dias de implantação. E República, você sabe, vem do latim Res publica, quer dizer "coisa pública". A aplicação desse conceito definitivamente não tem sido o nosso forte. Nossa coisa, que deveria ser pública, é uma coisa meio privada. E o contrário também é verdadeiro. Coisas que deveriam ser privadas são públicas, como, por exemplo, a vida de certos artistas.

Me sinto bastante culpado pelo insucesso dos ideais republicanos. No próprio dia da proclamação eu gritei: Viva o imperador. É difícil fazer história e ainda por cima ter boa oratória. Na hora, não me ocorreu nada pior para dizer. No entanto, mais do que minha fala desastrada, o que contribuiu para que as coisas não começassem bem foi a ausência de atos mais simbólicos e midiáticos. Faltou uma bastilha, uma guilhotina, uma guerrinha pequena que fosse para marcar o momento. Não sou a favor de derramamento de sangue, mas os nossos movimentos foram muito sem imaginação. Expulsar um rei era o mínimo que esperavam de nós republicanos, ficou barato e sem graça. Por isso que ninguém se lembra de uma só imagem da proclamação.

Temos uma segunda chance, não podemos repetir os mesmos erros. Desta vez, temos de ter enorme cobertura. A reproclamação da República deve acontecer em lugares de grande repercussão: na camisa do Corinthians, mesmo que seja difícil arranjar um lugar, no Twitter do pessoal do CQC, numa final de Big Brother ou no intervalo dos shows de comemoração dos 50 anos de carreira do Roberto Carlos, onde já cassaríamos a sua majestade. Iniciando assim uma série de atos simbólicos: a transformação do Maranhão e Alagoas em estados federados, um novo hino com refrão em inglês (para ser adotado pela garotada) já com letra adaptada pela Vanusa, e uma nova inscrição mais realista em nossa bandeira, em substituição ao lema positivista: Progresso e olha lá.

Não podemos mais esperar, a questão é urgente. Um bom dia para refundar a República seria 15 de novembro, mas cai justamente num domingo. Vai que dá praia. Outra possibilidade é no dia seguinte, criando assim dois dias de feriados consecutivos em nosso calendário. Aí sim, tem a possibilidade de vingar. Feriadão todo mundo respeita.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

[bolo'bolo] NEGÓCIO A: A DECEPÇÃO NA SOCIEDADE DE CONSUMO

  Em que consiste o Negócio A? Filés, bons estéreos, surf, Chivas Regal, Tai-Chi, Europa, Nouvelle Cuisinne, cocaína, esqui, discos exclusivos, Alfa Romeos. Será esta a melhor oferta da Máquina?

    Mas e aquelas manhãs, indo para o trabalho? Aquela súbita sensação de angústia, desgosto, desespero? A gente tenta não encarar aquele estranho vazio, mas em momentos desocupados entre o trabalho e o consumo, enquanto a gente espera, dá para entender que o tempo simplesmente não é nosso. A Máquina tem medo desses momentos. Nós também. Por isso somos mantidos o tempo todo sob tensão, ocupados, olhando lá adiante para alguma coisa. A esperança em si mesma nos conserva na linha. De manhã pensamos na tarde, durante a semana sonhamos com o fim de semana, suportamos a vida de cada dia pensando nas férias que vamos tirar dela. Nesse sentido estamos imunizados contra a realidade, entorpecidos quanto à perda das nossas energias.

    Não é que o Negócio A tenha se tornado traiçoeiro (ou melhor, eficazmente traiçoeiro) porque a variedade ou quantidade de bens de consumo esteja faltando. A produção em massa nivelou a qualidade desses bens, e a fascinação pelas novidades desapareceu definitivamente. A carne ficou meio sem gosto, os vegetais crescem aguados, o leite foi transformado num simples líquido branco industrializado. A TV é um tédio mortal, dirigir não dá mais prazer, a vizinhança ou é povoada, ruidosa e insegura, ou deserta e insegura. Ao mesmo tempo, as coisas realmente boas, como a natureza, tradições, relações sociais, identidades culturais, ambientes urbanos intactos, são destruídas. Apesar do fluxo imenso de consumo, a qualidade de vida despenca. Nossa vida foi padronizada, racionalizada, despersonalizada. Eles descobrem e nos roubam cada segundo livre, cada metro quadrado vazio. E oferecem a alguns de nós férias rápidas em lugares exóticos a milhares de quilômetros de distância, mas no dia-a-dia nosso espaço de manobra vai ficando menor, cada vez menor.

    Também para os Trabalhadores A, trabalho continua sendo trabalho: perda de energia, stress, tensão nervosa, úlceras, ataques do coração, prazos, competição histérica, alcoolismo, hierarquia controladora e opressiva. Não há bens de consumo que possam preencher os buracos gerados pelo trabalho. Passividade, isolamento, inércia, vazio: isso não se cura com aparelhos eletrônicos no apartamento, viagens frenéticas, sessões de relaxamento e meditação, cursos de criatividade, trepadas rápidas, poder das pirâmides ou drogas. O Negócio A é veneno; sua vingança vem como depressão, câncer, alergias, vícios, problemas mentais e suicídio. Debaixo da maquiagem perfeita, atrás da fachada de sociedade afluente, só existem novas formas de miséria humana.

    Muitos desses "privilegiados" Trabalhadores A fogem para o campo, se refugiam em seitas, tentam iludir a Máquina com magia, hipnose, heroína, religiões orientais ou outras ilusões de poder secreto. Tentam desesperadamente repor alguma estrutura, algum sentido em suas vidas. Mas cedo ou tarde a Máquina agarra seus fugitivos e transforma exatamente as formas de rebelião em um novo impulso para seu próprio desenvolvimento. "Sentido" vira logo senso comercial.

    Naturalmente, o Negócio A não significa apenas miséria. Os Trabalhadores A têm sem dúvida alguns privilégios inegáveis. Seu grupo tem acesso a todos os bens, todas as informações, todos os planos e possibilidades criativas da Máquina. Os Trabalhadores A têm a chance de usar esse poder para eles mesmos, e até contra os objetivos da Máquina. Mas se eles agem apenas como Trabalhadores A, sua rebelião é sempre parcial e defensiva. A Máquina aprende rápido. Resistência setorial sempre significa derrota.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

[nem te conto] POLTERGEIST PARA GINSBERG

:: txt :: Júlio Lira ::

Quando o último beatnik parou a motocicleta em um posto de gasolina, a loja de conveniência resplandecia no meio do nada. Logo que tocou na porta de vidro as cores já saltaram, agudas, lancinantes, em um fluxo interminável de toques e vozes, as garrafas de refrigerante e cerveja batiam surdamente contra seu peito, os pacotes de congelados e os sanduíches frios alternavam-se ritmicamente, caixas de chicletes, guloseimas e charutos irrompiam cortantes, davam voltas no ar e pancadas de sacos de salgados de batata e milho surgiam, reconfortantes, para depois sumirem por trás das prateleiras. O ritmo voltava a crescer gradativamente, as garrafas de água mineral expandiam-se aos pares, os vidros de condimentos tremiam, os sacos de farinhas se sacudiam e por fim, as latarias se batiam transtornadas, levando as mercadorias ao clímax. Mais alguma coisa? O velho pagou o conjunto de aparelhos de barbear e saiu pensando se estava mesmo indo para leste ou para oeste.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

[agência pirata] OS REPLICANTES DE RIDLEY SCOTT



:: txt :: Letícia Bonato ::

Em 2012, muitas obras memoráveis do cinema comemoram aniversário de lançamento. Entre elas, uma das primeiras ficções científicas do diretor de “Prometheus”, Ridley Scott: Blade Runner – O Caçador de Andróides, estrelando Harrison Ford (Indiana Jones) e Daryl Hannah (Kill Bil).

Baseado no livro “Androids Dream of Electric Sheep?”, de Phillip K. Dick, o filme apresenta uma sociedade do futuro, em Los Angeles, no início do século XXI. Andróides, uma cidade suja e em meio a muita tecnologia, como muitos outros filmes dos anos 80. Mas o diferencial de Blade Runner, em meio a outros filmes com a temática futurista da década, é que essas criações do homem, os robôs idênticos aos humanos chamados de replicantes, se tornaram uma ameaça à sociedade.

Os replicantes eram usados como escravos, ajudando os habitantes da Terra a colonizarem outros planetas, pois eram mais ágeis, mais fortes e mais inteligentes do que os seres humanos. E, justamente por serem dotados de uma inteligência superior, ao causarem um motim, alguns conseguiram escapar de volta à Terra,  rebelando-se assim contra seu próprio criador, o homem. Desde então, eram caçados por agentes especiais – os Blade Runners – que tinham a missão de matá-los.

Harrison Ford, na pele do policial Rick Deckard, entra no contexto do filme procurando entender e assumir sua missão: exterminar os andróides ilegais. Entretanto, aos poucos se vê envolvido com uma replicante, Rachael, que acaba influenciando o agente em suas decisões.

O posicionamento do espectador ao assistir o filme se torna incerto, uma vez que assim como o agente Deckard, nos vemos atentos e curiosos sobre os humanóides. Além de também entrarmos em um jogo, onde somos obrigados a pensar sobre o direito do homem em matar uma criatura tão similar a ele, fruto da sua própria evolução.

Ainda que seja um dos primeiros filmes de ficção científica do diretor Ridley Scott, não alavancou grandes bilheterias quando foi lançada. O filme veio a ser cultuado pelo público alternativo, pela perplexidade do enredo. Atualmente, há chances de conferirmos ainda uma segunda parte da estória, mas o roteiro não começou a ser elaborado. Apesar disso, circula na internet que Ridley Scott já lançou spoilers sobre uma das cenas que terá no longa.

sábado, 5 de janeiro de 2013

[...] O ANDARILHO

:: psy :: Júlio Freitas ::

O andarilho
e sua gaita de boca
no campo de milho
a voz um tanto rouca.

O espantalho
seu parceiro crucificado
com as vestes de retalhos
e o corpo todo furado.

O andarilho
escorado no joelho
encostado no espantalho
do chapéu vermelho

Pega sua gaita
e faz um floreio.

Tem sangue no olho
e ouve os conselhos
do boneco caolho
sentado no orvalho
na canção ele mergulha
as notas saem parelhas
com seu coração em frangalhos
(como quem puxa o gatilho
e só provoca fagulhas).

E vai andando o andarilho
numa busca sem atalhos
o solitário maltrapilho
do cabelo já grisalho

Segue o rumo da direita
e some na estrada escura.
O andarilho sequer suspeita
que é a si mesmo que procura.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

[noéditorial] FELIZ ANO NOVO!

 
 Bom, foi um ano de...ah, foda-se, não estou aqui para fazer retrospectiva alguma, dá muito trabalho lembrar. Mas nós estamos aqui para desejar a todos um Feliz Ano Novo, e muito obrigado a todos que nos acompanham, nos xingam, nos processam, enfim...

 A arca segue avante, e a bicharada é porralouca.

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