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sábado, 27 de outubro de 2012

[...] A MORTE E A RESSURREIÇÃO NO CONTEXTO LINGUÍSTICO


:: txt :: Débora Mitrano ::

” Eu acredito que aprendemos a falar bem quando renunciamos à vida por algum tempo. É quase o preço.” –  Desconhecido
‘ Então,  falar é mortal?” – pergunta Nana
” Falar é quase uma ressurreição em relação à vida. Quando falamos é uma outra vida de quando não falamos. Então, para viver falando deve-se passar pela morte da vida sem falar.
Eu talvez não esteja sendo claro, mas há uma certa regra ascética que te impede de falar bem, até olharmos a vida com desapego.”
.
. Dessa forma ocorre o diálogo de Nana, no filme Viver a Vida, com um senhor que conhece no bar. E a partir dele pode-se fazer várias reflexões existenciais, colocando-nos como produto de análise ou utilizando outrem como método de observação. É surpreendente o modo como Godard nos convida neste diálogo a sair do cotidiano fast food (embasado em existir sem pensar), estimulando uma ótica sensível e poética a respeito do ato da comunicação.
. Em inúmeros momentos na trajetória de cada um de nós, faz-se necessário a reclusão em prol de algo maior, o desapego de sentimentos, valores e dogmas, a reciclagem completa do ser. E é justamente isso que designa essa morte voluntária precedida do renascimento, a busca por uma postura e concepção de mundo mais profunda, com o desprendimento das amarras mentais que tornam a existência circular. Assim, para que este fim seja atingindo é necessário ocorrer uma ruptura no cotidiano e no modo de viver a própria vida. Uma existência antes limitada a pequenos acontecimentos e emergências corriqueiras, voltaria-se para uma vida pensante, propriamente dita filosófica, em que o pensamento seria o dominante.
. Certamente, no trecho: ”Então, para viver falando deve-se passar pela morte da vida sem falar”, o desconhecido senhor que Nana conversa não sugere de forma simplista que não devamos mais falar nesse período, mas sim que nos dediquemos mais ao terreno dos pensamentos. Com isso sendo feito a longo prazo, o resultado natural é a mudança em nossa retórica, surgindo um novo modo de organizar e exprimir as ideias. Este processo é tremendamente fantástico, partindo do princípio ser impossível separar a evolução das ideias, das novas concepções particulares , do ato da fala,  ambas se fundem, e tornam-se fundamentais uma a outra.
. A metáfora da morte da vida e da ressurreição  suscita uma boa reflexão acerca do modo como existimos, e é um apelo por uma existência mais completa e menos superficial. Esse exercício de pensar mais do que falar, deveria ser posto mais em prática, pois além de nos permitir a exata expressão linguística do que sentimos, torna-nos não somente seres constituídos de necessidades, e sim de essência. Assim sendo, todos os momentos que nos afastamos do convívio social para se debruçar sobre questões existenciais de forma crítica, morremos (para uma ideia antiga), e logo em seguida, ressuscitamos (para uma ideia nova).

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