#CADÊ MEU CHINELO?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

[resenha] #MOTOCONTÍNUO, O NOVO DISCO DO CHINA



::txt::Monsenhor Jucá::

Entre as multifacetadas atuações artísticas de China, sem sombras de dúvidas a que o colocou sob os holofotes foi a música. Desde os tempos do Sheik Tosado, em meados dos anos 90, em plena ebulição do manguebit, que o conhecemos como músico. Depois ele teve suas andanças no cinema, na televisão (o programa Estereo Clip), no jornalismo (como colunista da nossa revista), no seu projeto musical com a galera do Mombojó (a banda Del Rey, que toca ao vivo os grandes clássicos de Roberto Carlos) e, agora recentemente, como apresentador do MTV na Brasa. Acredita-se, enfim, que é com as notas musicais que ele se sente mais em casa, embora em todas as outras áreas tenha se saído bem. Seus textos pr'O DILÚVIO sempre foram bem comentados por nossos leitores e seu programa na MTV é um dos melhores da televisão brasileira.

Vamos ao que interessa: após quatro anos de silêncio desde Simulacro, seu segundo disco solo, China retornou ontem com a novidade aguardada por muitos. Numa primeira audição rápida (em menos de 12 horas ouvi somente três vezes), não há motivos pra desapontamentos. O terceiro álbum está bem elaborado, sem enfeites em demasia, porém, há porém, com uma riqueza de detalhes que lhe confere uma sonoridade bem elegante. Os músicos convidados colaboram para esse clima. E as diversas influências que China absorveu ao longo dos anos, como a Jovem Guarda, os repentes envenenados de hardcore e o indie rock do terceiro milésimo, diluem-se aqui sem ser possível rotular o trabalho. Ou então traduzi-lo para “jóinha músiqui” através de seu inconfundível sotaque.

MotoContínuo abre com “Boa Viagem”, letra em parceria com Jr. Black em homenagem a famosa praia do Recife (“ouço o silêncio de teus tubarões”), que tem guitarras um pouco Klaxons style de André Édipo e Yuri Queiroga e com uma dupla linha de baixo formada por Dengue e Hugo Gila. “Só Serve Pra Dançar”, faixa já conhecida do público, é a que mais lembra as parcerias de China com o Mombojó (Chiquinho é um dos autores da música). Os riffs de guitarra ecoam a surf music resgatada pelos meninos no começo dos anos 2000.

“Overlock” é um dos grandes momentos do disco. A participação especial de Pitty dá o tom certo pros deliciosos solos de guitarra e pra envolvente levada da bateria de Vicente Machado. E traz um China que solta o verbo e mostra que está entre os melhores letristas da nova geração: “segure em minhas mãos/ não me deixe escapar e vamos por aí onde o perigo está”.

Na canção seguinte, “Nem Pensar em Você”, há mais sinais de letras intimistas de China: “eu preciso mesmo crescer pra te deixar no chão”. Já em “Mais um Sucesso Pra Ninguém”, que conta com a voz de Ylana Queiroga, China reclama da querida que “nunca quis ligar o rádio pra me ouvir”, uma “canção que vai morrer no ar” (aqui uma referência a ele mesmo) apesar dele dizer que ainda tem “esperança de fazer tocar essa música no seu coração”.

“Distante Amigo”, outra letra em parceria com Jr. Black, traz cuidadosos diálogos entre as guitarras a la Television e os arranjos de metais assinados por João do Cello. Já “12 Quedas” é talvez a melhor canção do álbum, na qual Lenine assina a letra juntamente com China. A música, de autoria de Bruno Ximarú, é uma delícia. Difícil rotular o estilo, há momentos que lembra a Mula Manca inspirada num Erasmo Carlos. Mas isso é uma análise muito subjetiva pra definir como certa.

Logo depois em “Terminei Indo”, Tiê empresta a voz pra adoçar a balada que não descansa “pra você dormir”. O disco segue pros finalmentes com “Programador Computador”, chega em “Espinhos” (“todo malandro tem seu dia de otário/ abra o olho o próximo é você”), música já gravada por Zé Cafofinho e termina com chave de ouro na linda “Anti-Herói”, composta somente por China e harmonizada num singelo arranjo de cordas. “Quero educar sem medo as crianças que hoje eu sou”.

MotoContínuo é um dos grandes discos de 2011! Coalé minha criança, não baixou ainda? Tomaê o download gratuito.







terça-feira, 30 de agosto de 2011

[agência pirata] O RESTAURANTE MAIS ANTIGO DO MUNDO



::txt::Rejane Borges::

Somos fascinados por tradições, costumes, memórias. Somos, sobretudo, curiosos acerca dos lugares, das pessoas, das histórias. E um espaço que reúne todos estes elementos, e ainda acrescenta boa comida, é especialmente encantador.

Dizem que Ernest Hemingway nunca teve uma afinidade com a cozinha como a que tinha com a máquina de escrever. Mas o homem era dos melhores apreciadores da boa culinária. Prova disso é que o escritor norte-americano foi um dos maiores fãs do restaurante mais antigo do mundo, o célebre “Restaurante Botín”, reconhecido pela excelência de sua cozinha, situado na capital espanhola.

Em 1725, o francês Jean Botín e sua esposa – que mantinham um negócio em Madrid – receberam seu sobrinho, que viera morar com eles. Este sobrinho fundou uma espécie de pousada num antigo prédio, datado de meados de 1590, situado numa região comercial da cidade. Àquela época, a pousada apenas servia assados. Originalmente batizado com o nome “Casa de Botín”, e mais tarde “Sobrino de Botín”, o local era chamado de “casa de comida”, pois a denominação “restaurante” referia-se somente a alguns raros e exclusivos lugares.



O local está no livro dos recordes como o restaurante mais antigo do mundo em atividade ininterrupta. E também porque desde sua fundação, em 1725, não sofreu nenhuma modificação na estrutura do local. Há quase três séculos é usado o mesmo forno, do qual emanam os mais tentadores aromas na antiga “Rua dos Cuchilleros”, em Madrid.

Esqueça a sofisticação e o luxo. Nem hoje e nem nunca o Restaurante Botín ostentou tais atributos. Ostenta mais: simplicidade, tradição e qualidade no serviço e atendimento. Hoje, o restaurante mantém uma carta singular com a melhor comida típica espanhola, a qual atrai, de todas as partes do mundo, profissionais e amantes da culinária. Além disso, possui uma equipe de funcionários que mais parece uma família. Muitos deles estão lá há 20, 30 anos, por o considerarem um excelente local de trabalho. Mérito de seu atual dono, Antonio González Gómez .



O Restaurante Botín chegou em 1930 às mãos da família González, que decidiu manter o nome e a tradição da cozinha. Tão excepcional quanto o restaurante é a simpatia de Antonio González, que afirma que permanecer da mesma forma é essencial para preservar o espírito autêntico do passado.

Com uma atmosfera despretensiosa, a fachada do restaurante lembra a de uma simples cantina, e Botín adentro verificamos um lugar cheio de corredores estreitos, utilizados atualmente como armazéns. Seu interior mantém uma estrutura antiqüíssima e imponente, espalhada por três andares. O restaurante já passou por restaurações, mas sempre manteve sua arquitetura original.



O local é também famoso pelas citações em livros de autores como Pérez Galdós, Arturo Barea, Truman Capote e do próprio Ernest Hemingway, entre outros.
“Almoçamos no primeiro andar do Botín. É um dos melhores restaurantes do mundo. Comemos leitão assado e bebemos Rioja Alta. Brett não comeu muito. Ela nunca comia muito. Comi que me fartei e bebi três garrafas de Rioja Alta.” (Ernest Hemingway - The Sun Also Rises, 1926)





Sendo um dos destinos culinários mais visitados de todo o mundo, é também alvo de muitas histórias e algumas lendas. Uma delas é que, em 1765, o pintor espanhol Goya lavou pratos na antiga casa a fim de sustentar-se enquanto aperfeiçoava seu verdadeiro talento.

O prato mais famoso da antiga casa é o clássico “Cochinillo Asado”, um leitão de apenas vinte dias, que derrete na boca, assado no lendário forno ativo desde a fundação do restaurante. Além do leitão, a casa serve uma afamada “Sopa de alho com ovo” e o ousado “Chipirones en su tinta” (lulas na própria tinta).

E não é só de comida que vive o antigo Botín. Há a música também. Enquanto saboreamos as especialidades da casa, um grupo musical percorre as mesas com canções típicas espanholas, trazendo ao ambiente um clima agradável e descontraído.



Boa comida e boa bebida em um ambiente distinto, que oferece uma atmosfera rústica e aconchegante – além de um serviço de qualidade - é receita certa para momentos extraordinários, causos e sabores memoráveis. E tudo isto é oferta da casa. E tudo isto está, além dos cardápios, na História. De Goya a Hemingway. Dos Botín aos Gonzáles, do passado ao presente para o resto do mundo. ¡Salud!

Para mais informações acesse o site do Restaurante Botín.


[noé ae?!] LES POPS


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

[agência pirata] REDEFININDO O ROCK



::txt::Leonardo Lichote::

Vinte anos após seu lançamento,'Nevermind' do Nirvana ganha tributos e reedições luxuosas e tem seu impacto avaliado


Verão carioca de 1993, sol queimando na tarde de cimento do Sambódromo, e a multidão de adolescentes vestia camisas de flanela xadrez - imitando o visual desleixado do Nirvana e de seus colegas grunge de Seattle, atração principal daquela noite de janeiro no Hollywood Rock. O figurino, tão absurdo quanto pertinente, repetido em vários pontos do mundo, era apenas a face mais superficial do impacto que a banda havia causado com seu segundo disco, "Nevermind". O álbum - que completa 20 anos no mês que vem, com um relançamento recheado de material inédito, shows e CDs-tributo espalhados pelo mundo - trazia por baixo do tecido grosso a música que redefiniria os rumos do rock (e da música pop como um todo) dali para a frente. Naquele momento, o mundo queria vestir camisa de flanela e ser "Nevermind", efeito provocado antes por álbuns como "A hard day's night" (Beatles) e "Thriller" (Michael Jackson). Extrapolando fronteiras de geração, canções do álbum foram gravadas por artistas como Paul Anka e Caetano Veloso, que escreveu recentemente em sua coluna no Segundo Caderno: "'Nevermind' é um dos discos que mais amei na vida."

UM BOM ANO: 20 discos incríveis lançados em 1991. Veja aqui

Mas o que o álbum - que teve uma tiragem inicial de 40 mil cópias, ambiciosa então para uma banda alternativa, mas ridícula frente aos 30 milhões que ele venderia - trazia para justificar o sucesso? Ou, mais que isso, sua condição de marco histórico? O jornalista americano Michael Azerrad, autor do livro "Come as you are: a história do Nirvana", aponta algumas razões:

- Parte da explosão do Nirvana se deve a razões clássicas. A banda veio com um álbum bem produzido, de canções de impecável carpintaria, grudentas. Quase todo mundo percebia que a música do Nirvana era poderosa e cheia de alma. O primeiro single do álbum ("Smells like teen spirit") imediatamente soou como uma das grandes canções da história do rock.

Angústia sob melodias pop

Talvez já fosse o suficiente, mas a chave da questão era maior do que a mera qualidade inegável da banda, nota Azerrad.

- Havia muito mais do que isso. Depois de anos de dance-pop vazio, como Milli Vanilli, e hair bands igualmente vazias, como o Warrant, os garotos queriam rock que falasse para eles e sobre eles, em vez de lixo aprovado por um punhado de executivos grisalhos. A música do Nirvana tinha um ponto crucial por trazer muito do underground que os garotos provavelmente conheciam, mas pelo qual não conseguiram se interessar tanto porque era muito cru e pobre em termos de melodia, até então. E não prejudicava o fato de o vocalista ser bonitinho - diz, referindo-se a Kurt Cobain.

O tal vocalista - que se suicidou três anos depois do lançamento do CD - estava no centro da potência da banda, que tinha ainda o baterista Dave Grohl, hoje vocalista dos Foo Fighters, e o baixista Krist Novoselic. E não só por ser "bonitinho", mas sobretudo pela angústia que, sob melodias pop, conseguiu imprimir na voz, na guitarra e nos versos niilistas, cheios de "I don't mind" ("eu não ligo") e "I don't care" ("eu não me importo") e momentos como "Eu estou tão feliz/ Porque hoje encontrei meus amigos/ Eles estão na minha cabeça" e "Eu juro que não tenho uma arma", que completam o romântico chamado "Venha como estiver" ("Come as you are").

- É um disco pop. Todas as melodias ficam na cabeça. Ao mesmo tempo, é bem cru e violento - afirma o baterista Marcelo Callado (Do Amor, BandaCê), que tinha 12 anos quando "Nevermind" foi lançado e aprendeu a tocar guitarra tirando de ouvido as canções do CD, um dos primeiros de sua coleção. - Talvez o alcance da doce porradaria seja seu legado.

Um legado que deixou marcas mesmo em campos insuspeitos da música contemporânea:

- "Nevermind" está em quase toda parte, do ponto de vista musical - diz o jornalista Arthur Dapieve, colunista do Globo. - A tensão e a distensão entre refrão e estrofes viraram lugar-comum. A música vem relativamente calma e explode no refrão. Isso é Nirvana, isso é Kurt Cobain esgarçando suas cordas vocais, isso é "Nevermind". O disco nos apresentou a uma alternativa mais visceral aos deprimidos anos 1980. Depois, mesmo bandas emo, que não têm um pingo de angústia existencial sincera, copiaram a fórmula.
Muito mais do que Kurt esperava. Sua ambição - nada modesta - era ser maior do que os Pixies, banda-referência da cena alternativa. Acabou, ainda em 1991, ultrapassando as vendagens do Guns N' Roses e destronando Michael Jackson e seu "Dangerous" do topo da lista de mais vendidos. E teve, mesmo sobre a geração estabelecida de artistas do rock, um impacto definidor.

- Foi digno de uma bomba nuclear - resume o baterista João Barone, falando sobre como o disco bateu sobre ele e seus colegas de Paralamas do Sucesso. - Ficamos muito impressionados e até aliviados pelo surgimento de um novo trio para realinhar o rock.
Como uma pedra caindo numa piscina, a influência do disco se espalha em ondas.- Muita gente foi filho do "Nevermind", como os Arctic Monkeys - cita o compositor Marcelo Yuka, que lança um olhar político sobre o fenômeno. - Eu fui pego pela sonoridade, mas as letras e a atitude foram o que mais me interessou depois. A atitude de entender o momento que aquela juventude estava vivendo. Na verdade, a juventude americana sofria por ser americana, e isso é um efeito colateral de todo sonho americano. Havia ali uma rebeldia com fundamento, a música expressando um trauma através da guitarra. É de arrepiar!

O guitarrista Dado Villa-Lobos, da Legião Urbana (que teve influências declaradas de Nirvana em alguns momentos do CD "O descobrimento do Brasil", segundo entrevistas do vocalista Renato Russo na época), é mais abstrato ao falar do disco:

- Energia melódica, eletricidade, intensidade 4x4 e algo a dizer da aldeia para o mundo.

Músicos da atual geração do rock brasileiro também louvam "Nevermind", como Fernando Catatau (para o guitarrista do Cidadão Instigado, Kurt é "um dos grandes nomes da música"), Helio Flanders, do Vanguart, que conheceu o álbum alguns anos depois do lançamento ("Eu me lembro de ouvir 'Lithium' pela primeira vez e ter vontade de quebrar a casa toda, me jogar no sofá"), e Pitty:

- Era um disco resgatando a simplicidade e as raízes do punk rock: uma galera meio ensebada, poucos acordes e berros primais. Me identifiquei imediatamente - diz a cantora.

Pitty está num dos tributos a "Nevermind", a coletânea americana "Come as you are". Outro projeto do tipo foi lançado pela revista "Spin", com artistas como Meat Puppets e Vaselines, bandas das quais Kurt era fã. Novoselic, ex-baixista do Nirvana, participará de um show em Seattle no dia 20 de setembro no qual o álbum será tocado na íntegra.

"Nevermind" será relançado pela gravadora Universal em diferentes formatos, do CD simples remasterizado à edição Super Deluxe (com quatro CDs e um DVD), passando pela Deluxe (dupla, com o disco original e outro de raridades e inéditas). O DVD e Blu-ray "Live at the Paramount", com um show gravado em 1991, também chega às prateleiras. Uma forma de manter a influência da banda viva, o legado que ecoa o ensinamento punk de que ter verdade é mais importante do que ter técnica, como destaca Flanders.

- Absurdamente intuitivo, Cobain deixou a arte de que mais gosto: arte bruta. Ele mesmo bradou: "Venha como você é".

E jurava, em seguida, que não tinha uma arma.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

[noéspecial 10 anos] TOP TEN CANTORAS


Hoje vamos começar um especial sobre os 10 anos dO DILÚVIO. Será uma série de listas, em diversas áreas, daquilo de melhor que aconteceu nessa década de vida. Música, cinema, esporte, sociedade, moda, literatura, enfim, vamos listar 10 nomes ou coisas ou fatos que nos marcaram em cada uma dessas áreas.

Pra iniciar, as 10 melhores cantoras entre 2001 e 2011.
Observação: exceto a primeira colocada, as demais estão em ordem alfabética.
Clique no nome pra assistir o vídeo. Se quer contestar a lista, pelo menos tira a limpo. Ah, dê um pause no Space Radio pros sons não se sobreporem.

1. AMY WINEHOUSE

Não poderia ser outra. Ela resgatou a soul music pro cenário pop, trouxe a loucura pros holofotes e morreu aos 27. E, claro, era cantora e compositora do alto escalão da história da música.




ADELE




BÁRBARA EUGÊNIA




CIBELLE




CORINNE BAILEY RAE




DEIZE TIGRONA




DIONNE BROMFIELD




ELZA SOARES




ERYKAH BADU




HINDI ZHARA




IVETE SANGALO




JANELLE MONÁE




JOSS STONE




JULIETA VENEGAS




LIA DE ITAMARACÁ




LILY ALLEN




LYKKE LI




MARISA MONTE




M.I.A.




MIRANDA




NICOLLE WILLIS




SANTIGOLD




SHAKIRA




SHARON JONES




TULIPA RUIZ




VANESSA DA MATA




quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[do além] AS RAPIDINHAS DO CUMPADRE WASHINGTON



::txt::George Washington::

Na condição de “Pai da Pátria” americana, fiquei estarrecido quando vi aquele AA+ no boletim de meu filho nerd. Não estou acreditando, reagi. O que nossos vizinhos da Europa e do resto do mundo vão pensar da gente? As bolsas responderam em seguida.

Essa história toda é uma loucura. Como pode uma agência privada de classificação de risco, que fez o que fez na crise financeira de 2008, provocar tanta confusão? Dá até vergonha constatar a falta de força dos governos diante do mercado. Por favor, tirem-me da nota de 1 dólar. Deixem o lugar vago nas cédulas, antes ocupado por mim, para os grandes anunciantes.

O pessoal do Tea Party demonstrou grande poder nesse episódio. Praticamente obrigaram o Obama a não gastar em mais nada. Se eles querem um Estado mínimo, sem impostos, sem sistema de saúde e o escambau, por que não terceirizamos o governo de uma vez? Minha sugestão é entregar a administração pública ao Google. Na ferramenta de busca deles, talvez se encontre uma solução para um Estado tão heterodoxo.

Se o Tea Party chegar ao poder nas próximas eleições, os Estados Unidos deixarão de ser um Estado laico. A Isenção Fiscal será a religião oficial. Nesse dia, por favor, transfiram a capital federal de Washington para qualquer cidade do Texas. Não quero meu nome envolvido numa pantomima.

Estamos recebendo lições de moral até de quem cresceu nos vendendo bugigangas e comprando o nosso Tesouro. O governo chinês nos acusa de sermos viciados em dívidas.Pior é que ele tem razão. Mas isso não é motivo para preocupar o mundo. Se encontrarmos uma boa clínica de reabilitação, que possa ser paga em 36 vezes sem juros, o problema estará resolvido. A alternativa é ficar de olho nos sites de compras coletivas, para ver se surge uma oferta tentadora de tratamento.

O ilibado governo chinês quer que o dólar passe a ser supervisionado internacionalmente ou que seja substituído por uma nova moeda mundial mais estável. Eu tenho uma recomendação: que talo guarani paraguaio? Quer moeda mais estável? Nunca valerá nada.

A verdade é que muito dessa confusão foi gerado também pela incapacidade das nossas instituições políticas em lidar com as diferenças. Não temos partidos como no Brasil, onde uma mesma legenda abriga liberais, centristas e comunistas.

Por falar em Brasil, acredito que é de lá que pode vir a solução para acalmar os mercados. Se o Ricardo Teixeira tiver acesso ao pessoal da Standart & Poor’s, pode tentar uma virada de mesa.

Mas agora é esquecer o que passou e pensar nos próximos compromissos. Bola pra frente. É sempre bom lembrar que Corinthians, Fluminense e Grêmio voltaram muito melhor do rebaixamento.


PS.: Em tempos de Facebook, ainda prefiro o Blog. Acho esquisito postar algo como "caminhamos para um novo período recessivo" e alguém, querendo me agradar, curtir isso.

*George Washington foi o primeiro presidente constitucional dos Estados Unidos. E como disse o Olivetto, o primeiro a gente nunca esquece.

[noé ae?!] ARTHUR DE FARIA


domingo, 21 de agosto de 2011

[agência pirata] O INVENTOR DA GUITARRA POPULAR BRASILEIRA



::txt::Fabio Gomes::

Nascido em Barcarena, interior do Pará, em 1934, Joaquim de Lima Vieira foi técnico em eletrônica, carpinteiro e lavrador (sua família é pioneira na produção de abacaxi no município) antes de resolver, aos 25 anos, se dedicar inteiramente à música. A decisão foi acertadíssima: o antropólogo Hermano Vianna o considera consolidador do estilo que denominou como "guitarra popular brasileira".

Por causa de sua criação, a guitarrada (que alia elementos do choro, da jovem guarda e do merengue), Vieira é tido como o fundador de uma escola para a guitarra no Brasil, tão importante quanto a guitarra baiana introduzida pelo trio elétrico criado por Dodô e Osmar.

Entre os artistas que influenciou, estão Herbert Vianna, d’Os Paralamas do Sucesso, Chimbinha, da banda Calypso, Pio Lobato, o grupo La Pupuña e outro mestre, Aldo Sena, que criou o grupo Populares de Igarapé-Miri após ouvir o primeiro LP de Vieira e seu Conjunto, Lambada das Quebradas (1978).

Aos cinco anos, começou a tocar banjo; aos dez anos, fundou um conjunto regional com irmãos e primos. Com 14 anos, passou ao bandolim, sendo eleito o melhor solista do Estado ao interpretar seu choro “Te Agasalho” num concurso da Rádio Clube do Pará.

Enquanto seguia tocando em grupos regionais, passou a fazer alegorias para a escola de samba Boêmios da Campina. Foi um amigo da Boêmios, Peixoto, que o ensinou a montar e consertar rádios. Este conhecimento lhe foi decisivo quando, ao criar novo grupo - Vieira e seu Conjunto –, enfrentou um impasse: para conseguir tocar guitarra numa cidade onde ainda não havia energia elétrica, Vieira utilizou baterias de automóvel para construir um amplificador que funcionava com pilhas.

O primeiro disco, Lambada das Quebradas, vendeu mais de 200 mil cópias e repercutiu na França, Suíça e Inglaterra – este país negociou com a gravadora brasileira Continental que lançasse na Europa o segundo LP de Vieira, Lambada das Quebradas Vol 2. Em 1980 foi coroado no exterior “Rei da Guitarra e da Lambada”. Já em 2002 recebeu na Inglaterra e na Escócia o título de “Melhor Guitarrista do Mundo”.

Em 2000, foi destaque nacional num documentário da série Música do Brasil, dirigido por Belisário França e produzido por Hermano Vianna; por ocasião da filmagem, um ano antes, conhecera o guitarrista Pio Lobato, que em 2003 o convidou a formar com Curica e Aldo Sena o grupo Mestres da Guitarrada. O grupo tocou nas principais cidades do Brasil, atuou no exterior (apresentou-se na Alemanha em 2006 e na França em 2007) e lançou dois CDs, Mestres da Guitarrada (2003) e Música Magneta (2008), este um disco duplo gravado em Recife com participação de músicos pernambucanos.

Em 2008, Curica e Sena optaram por criar outro grupo, Guitarradas do Pará, e desde então Vieira tem tocado no Mestres da Guitarrada ao lado de Pio Lobato e convidados. Seu disco mais recente é o CD Guitarrada Magnética, de 2009. Um documentário sobre sua vida e obra está sendo produzido pela jornalista Luciana Medeiros.

sábado, 20 de agosto de 2011

[agência pirata] UMA COISA E OUTRA

::txt::Cora Rónai::

Na semana passada, dei meu pitaco sobre os saques na Inglaterra. Não tenho credenciais "científicas", digamos assim, para tecer maiores julgamentos; não sou psicóloga nem socióloga, apenas uma observadora à distância, como a maioria de nós. Escrevi o que me parecia óbvio: "O que a publicidade nos apresenta como passaporte para a felicidade é, no seu avesso, o caminho para uma desilusão e uma frustração tão grandes que, um dia, podem explodir sem mais nem menos na rua."

No sábado, o jornal publicou uma ótima entrevista com Zygmunt Bauman, feita pelo Fernando Duarte, em Londres. Aos 85 anos, Bauman é considerado um dos sociólogos mais importantes do planeta. O que ele disse confirmou o que eu havia intuído: o quebra-quebra inglês foi o motim dos consumidores excluídos.

Não tenho a menor idéia de como podemos sair da roda-viva doentia do consumo, sobre a qual construímos a nossa economia, e da qual todos somos vítimas, em maior ou menor grau; mas é fundamental que algo se faça nesse sentido, ou estaremos condenados à infelicidade perpétua.

Bauman diz que, além disso, precisamos repensar a maneira como medimos o bem-estar:

"A busca da felicidade não deve ser atrelada a indicadores de riqueza, pois isso apenas resulta numa erosão do espírito comunitário em prol de competição e egoísmo. A prosperidade hoje em dia está sendo medida em termos de produção material, e isso só tende a criar mais problemas."

Nada mais verdadeiro. Andei pela Índia, país reconhecidamente pobre, e percebi muitos sinais de contentamento e alegria. No seu exato oposto, a Península Escandinava, que não podia ser mais rica e bem resolvida materialmente, notei muita cortesia, educação e gentileza, mas alegria é palavra que não consigo associar à região. Em nenhum dos casos, porém, me atreveria a falar em felicidade, sensação sutil e difícil de interpretar.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

[do além] DEUS E O DIABO NA TERRA DO VIRAL




::txt::Glauber Rocha::

Nada como o tempo para revisar as nossas teses. O lema do cinema novo “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” em parte chegou ao poder. Para ser mais exato, sua melhor atualização é “uma câmera no bolso e um boné na cabeça”.

Depois que as câmeras foram parar nos celulares, elas não só estão nas mãos de todos, mas também em todos os lugares. Haja gigabyte para tanta criança dançando, tanto cachorro fazendo gracinha, tanta gente fazendo o sinal de positivo no churrasco e tanto pedaço de show captado.

O problema é ainda a busca da ideia na cabeça. A danada é tão difícil de ser encontrada que muitos filmes, quando emplacam, vão logo anunciando a sua continuação. Foi uma pena eu não ter aproveitado essa onda. Nos anos 60, não havia ambiente para, por exemplo, Deus e o Diabo na Terra do Sol 2 – Agora Mesmo É Que Você Não Vai Entender Nada.

Hoje, essa profusão de câmeras não se dedica à criação de uma estética cinematográfica rompedora e nem à divulgação de conceitos politicamente revolucionários. O pessoal quer mesmo é ter a ideia de um bom viral para colocar no YouTube. Viral, você sabe, é aquele vídeo feito com a maior pretensão de parecer despretensioso. Como o próprio nome informa, sua intenção original é que você goste tanto do que viu que transmita para outros, e os outros aos outros, e assim sucessivamente até que se instale a epidemia. A glória desejada pelo viral não é a Palma de Ouro, mas sim os dois milhões de views. Muitos virais são frutos da sorte. Você está na praia e vê uma celebridade em cenas tórridas com namorado – esse é o chamado viral aviário. Tem aqueles em que você flagra um acidente que pode ser um simples tombo de uma criança ou uma colisão de carros – esse é o viral suíno.

Mas a maioria, que não pode contar com o acaso, segue algumas regras, como gastar uma fortuna na produção para que o vídeo pareça caseiro, quase malfeito. Outro princípio importante é mostrar algo que as pessoas se perguntem se é verdade ou não e, na busca de mais informações, caiam no site de alguma empresa.

Com a quantidade de câmeras na mão que anda por aí, mais a crescente falta de atenção para tudo, os virais vão aumentar. Resta saber se ficaremos mais resistentes ou se os vírus se tornarão mais fortes. Desejo-lhe sorte. Se você espirrar, saúde.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

[agência pirata] ROMÁRIO ENTREVISTA JORNALISTA INIMIGO DA FIFA E CBF




::ntrvsrt::Romário::

O jornalista escocês Andrew Jennings é repórter investigativo há 30 anos e comanda um programa de grande audiência na TV inglesa BBC. Depois de investigar a máfia italiana, a corrupção na Scotland Yard (policia inglesa), há 13 anos comprou uma guerra com a poderosa Federação Internacional de Futebol (FIFA). Passou, então, a ser o principal inimigo dos dirigentes esportivos internacionais.

Descobriu, entre outras coisas, que as eleições internas são compradas, há manipulação de resultados de jogos e negociatas para a escolha de países-sedes da Copa do Mundo. Reuniu tudo no livro, recém-lançado no Brasil: Jogo Sujo, o Mundo Secreto da FIFA. “São negócios que fariam corar a máfia italiana”, afirmou Jennings.


Romário - Há quanto tempo você vem investigando a corrupção no esporte?

Andrew Jennings - Eu tenho sido um repórter investigativo há 40 anos e 20 anos atrás eu estava investigando a máfia de Palermo e as suas operações na Europa, Reino Unido e América do Norte. Um dia, durante as filmagens em Palermo, fiquei frente a frente com um mafioso muito irritado, que nos mandou parar de filmar.
Esta experiência e entendimento de como as famílias do crime organizado operam foi o treinamento perfeito para o próximo alvo - as federações esportivas internacionais. Eu pensei que este trabalho não iria durar muito tempo. Vinte anos depois ainda estou desenterrando evidências de corrupção - especialmente na FIFA! Não tenho dúvidas de que a FIFA é uma família do crime organizado e que Blatter (presidente da FIFA) mantém a sua influência distribuindo fartamente ingressos da Copa do Mundo.

Romário - Por que está tão interessado em Ricardo Teixeira, na CBF e no envolvimento deles na Copa do Mundo de 2014?

Andrew Jennings - Qualquer fã - ou repórter - tem de estar interessado em quem está hospedando a próxima Copa do Mundo e como os preparativos estão indo. Após a corrupção na África do Sul quando tantos estádios de futebol desnecessários foram construídos - e os lucros que foram para políticos e empreiteiros corruptos – o Brasil, que ainda tem de superar a pobreza, será analisado pelo resto do mundo. Globalmente, não há confiança na CBF.
Há também pouca confiança nas demonstrações freqüentes do secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, de que o Brasil não está se preparando rápido o suficiente. Se isso é verdade ou não, de qualquer maneira, observadores internacionais notam a relação calorosa entre Teixeira e Valcke.
O Brasil precisa resistir à pressão da FIFA.
Estou certo de que nos últimos anos, Blatter prometeu a Teixeira que o brasileiro seria o próximo presidente da Fifa. Mas com os dois envolvidos em tantos escândalos, isso é menos provável.

Romário - Quem é Ricardo Teixeira, no contexto do futebol internacional?

Andrew Jennings - Poucos fãs fora do Brasil não reconheceriam Teixeira na rua. Aqueles que o conhecem veem um homem que se tornou rico e poderoso explorando o futebol brasileiro e a FIFA. As notícias internacionais expõem histórias sobre seu envolvimento em contratos duvidosos da Copa do Mundo.

Teixeira está permanentemente envergonhado pelo relatório Dias de 2001 (refere-se ao relatório elaborado pelo senador Álvaro Dias durante a CPI do Futebol), que foi relatado internacionalmente.
"Tricky Ricky ' o apelido de Ricardo Teixeira, está agora se espalhando ao redor do mundo.

Romário - Como o Brasil conquistou o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014?

Andrew Jennings - Blatter, o poderoso chefão da mafia, tem que manter seus Sub-Chefes ao redor do mundo felizes. Ricardo queria sua própria Copa do Mundo para saquear. A melhor maneira de Blatter mantê-lo fiel era deixá-lo organizar a Copa de 2014. Depois que a África do Sul foi roubada em 2000, quando perdeu a sede da Copa do Mundo de 2006 - subornos foram pagos em nome da Alemanha – a África ficou furiosa. Blatter apressadamente introduziu a idéia de girar a Copa do Mundo entre os continentes. Em seguida, a África do Sul conseguiu sediar o evento em 2010 e 2014 foi prometida à América do Sul. Vocês (brasileiros) têm que descobrir que negócios foram feitos secretamente entre Teixeira e o resto dos países que formam o Comnebol.

Romário - Você se refere aos segredos em Zug? O que é essa história?

Andrew Jennings - Este é o grande escândalo da FIFA, maior do que qualquer outro que a instituição já se envolveu. Um verdadeiro espectro que tem assombrado Blatter, Teixeira e João Havelange na última década. Nas duas décadas passadas foram pagos grandes subornos por uma empresa suíça de marketing esportivo em retorno por terem sido concedidos contratos lucrativos para a Copa do Mundo FIFA. Essa empresa, ISL, foi à falência no início de 2001 e os gângsters na FIFA têm tentado desesperadamente, desde então, minar as investigações realizadas por promotores criminais.

Romário - Que tipo de suborno estamos falando?

Andrew Jennings - Sentei em um tribunal suíço em março de 2008 e ouvi um juiz revelar que a ISL havia pago cerca de US$ 100 milhões em subornos para obter os seus contratos. Os repórteres no tribunal ficaram surpresos com o valor. $ 100 milhões em subornos! Esta seria a maior história de corrupção na história da FIFA - e talvez do esporte mundial.

Romário - E as investigações continuaram?

Andrew Jennings - Esse caso tratava como os administradores da ISL tinham se comportado mal. As investigações da polícia continuaram em relação aos subornos e o caso foi resolvido fora do tribunal, no verão do ano passado - o anúncio foi feito durante a Copa do Mundo na África do Sul e teve pouca atenção. A declaração formal do procurador em Zug disse: juiz de instrução Thomas Hildbrand, em agosto de 2008, começou uma investigação sobre alegações de que certos membros do Comitê Executivo da FIFA receberam propina em contratos de marketing. Após cinco anos de investigações os acusados concordaram em pagar CHF5.5million e o caso foi encerrado."

Romário - O que isso significa, em poucas palavras?

Andrew Jennings - Os três alvos da investigação tinham que confessar que sabiam sobre os subornos e que dois deles tinham aceitado propinas. Pagaram uma parte do dinheiro e, assim, garantiram o sigilo de suas identidades. Essa é a maneira suíça judicial de resolução de alguns casos criminais.

Romário - E a história acabou?

Andrew Jennings - Certamente que não. Nosso dever como jornalistas da BBC foi para descobrir quem havia admitido tomar o suborno. Sentimos que o mundo tinha o direito de saber.

Romário - Então o que você fez?

Andrew Jennings - Como todo repórter faz, nós fizemos inquéritos confidenciais na Suíça e soubemos muito mais. Assim, em 23 de maio deste ano eu apresentei um programa Panorama BBC no qual dei o nome do Ricardo Teixeira e do João Havelange como os dois funcionários da FIFA que haviam admitido ter recebido subornos. Eu também denunciei a FIFA - e aqui nós só podemos estar falando de Blatter - admitindo que o dinheiro devido à FIFA, da ISL, tinha sido desviado em subornos.

Romário - Você tem sido justo com Ricardo Teixeira?

Andrew Jennings - É claro. A BBC insiste que qualquer pessoa denunciada em um programa tem tempo suficiente para responder às acusações e nos conceder uma entrevista. Para ambos os programas nos quais citamos Teixeira - novembro do ano passado e maio deste ano - enviamos dois e-mails cada vez, informando-o das nossas alegações e convidando-o a participar do programa para contar o seu lado da história.

Romário - Como ele reagiu?

Andrew Jennings - Ele nunca respondeu. Ele ignorou e não aproveitou a oportunidade para negar qualquer coisa. Ao contrário, ele atacou a BBC e o jornalismo britânico como "corruptos. 'Isso não é resposta para denúncias tão sérias e graves que estão documentadas.

Quais são os documentos que você tem para provar que Teixeira - e Havelange - aceitaram suborno?

Para o nosso programa em novembro do ano passado consegui uma lista de 165 subornos pagos pela ISL a à maioria dos funcionários da FIFA - os US $ 100 milhões. Nós mostramos a lista na TV - destacando os nomes de Teixeira e Havelange. Nós também temos mais evidências de que Teixeira tinha aceitado cerca de US$ 10 milhões por meio de uma empresa chamada Liectenstein Sanud.

Romário - Por que foi tão importante?

Andrew Jennings - No relatório do senador Alvaro Dias, de 2001, sobre a corrupção na CBF, o parlamentar brasileiro identificou esta empresa estrangeira (Sanud) como sendo a fonte de dinheiro que foi para Teixeira. Mas ele não conseguiu descobrir e rastrear onde Sanud conseguiu o dinheiro. Mas nós encontramos - muitas vezes - na lista de propinas pagas pela empresa ISL. Assim, o dinheiro era lavado da Suíça para Liechtenstein e depois para o Brasil. Continua sendo uma decepção que o Ministério Público brasileiro não tenha agido sobre o as revelações do relatório apresentado pelo senador Álvaro Dias.

Romário - O que pode acontecer agora?

Andrew Jennings - Investigamos e descobrimos que na lei suíça, é possível obter o relatório secreto da polícia revelando quem recebeu o suborno. Agora temos de convencer um tribunal suíço que é de interesse público a divulgação desta evidência. Isso vai acontecer - há um precedente legal importante.

Romário - O que você está fazendo para provar que Teixeira é um dos que aceitaram suborno?

Andrew Jennings - A BBC e alguns meios de comunicação suíços - e eu acredito que um jornal brasileiro - começaram um processo judicial formal na Suíça. O Ministério Público em Zug diz que está preparado para divulgar as provas, mas ele está sendo contestado pelos homens acusados. Eles (os acusados) estão gastando grandes somas com advogados suíços para argumentar contra a publicação desta informação.
Parte do processo é que nos são dadas cópias das razões pelas quais a publicação está sendo bloqueada. Os advogados suíços dizem que seus clientes sofreriam "cobertura negativa da imprensa." Sua reputação seria "danificado irreparavelmente." Eles podem até sofrer 'roubo ou seqüestro. "Estas cartas, judicialmente legais, identificam a FIFA, mas os outros dois homens são chamados de B2 e Z . A partir das descrições dadas temos evidências adicionais de que eles são Ricardo Teixeira e João Havelange.

Romário - Quanto tempo levará para o relatório secreto ser revelado?

Andrew Jennings - Pode demorar até 12 meses. O tribunal de Zug nos apoiou em 24 de maio, e agora os bandidos estão apelando para a próxima esfera. Eventualmente, ele vai acabar no Supremo Tribunal de Lausanne e estamos confiantes de que vamos obter os documentos e os culpados serão expostos.

Romário - Qual é a importância disso? O último suborno foi pago no início de 2001?

Andrew Jennings - As implicações são enormes. FIFA e os dois brasileiros serão expostos como bandidos. O mundo vai aprender que o homem encarregado da Copa de 2014 é corrupto. O dano à reputação do Brasil será imensa.

Romário - O que o Congresso do Brasil e o governo brasileiro devem fazer?

Andrew Jennings - É o momento para a presidente Dilma Rousseff tomar medidas para encerrar este escândalo. Meu conselho é que ela deve chamar Teixeira e dizer: 'Por favor, venha ao meu escritório - e traga todo o processo que corre na Suíça com você. Eu quero ver esse relatório secreto e toda a correspondência na qual você está tentando bloquear da divulgação da mídia de alguma coisa de que você está sendo acusado de ter feito. "

Romário - E se ele se recusar?

Andrew Jennings - Então ele deve ser despejado rapidamente de qualquer parte da organização de 2014. E deve ir com sua família e aliados. Uma faxina no Comitê Organizador Local. Há uma abundância de talento no Brasil para substituí-los e produzir um grande torneio com o orçamento disponível.

Romário - O que mais pode ser feito?

Andrew Jennings - O Congresso Nacional também deve pedir para ver estes documentos suíços. E o Governo, por meio do Ministério das Relações Exteriores, também deve requerer junto ao governo suíço que os documentos se tornem públicos. É do interesse nacional do Brasil saber o que está acontecendo.

Romário - Ricardo Teixeira afirma que a BBC é controlado pelo governo britânico.

Andrew Jennings - Isso é um absurdo e ele deve saber isso. A BBC é totalmente independente de qualquer governo. Você deve se lembrar que, quando estávamos preparando o nosso programa em novembro do ano passado, o primeiro-ministro britânico David Cameron nos atacou por causa dos danos que poderiamos causar à candidatura dele na Inglaterra. Ele pareceu não compreender que a Inglaterra não pagar subornos, nunca poderíamos vencer.

Romário - Mas Ricardo Teixeira também diz que seus programas na BBC que o identificam como corrupto representam uma vingança porque a Inglaterra perdeu a sede da Copa do Mundo de 2018?

Andrew Jennings - Isso é um absurdo. Fizemos nosso primeiro programa expondo a ISL subornos aos altos funcionários da FIFA em Junho de 2006! O segundo programa, sobre as propinas pagas pela Alemanha, foi exibido em 2007 e o primeiro a identificar Ricardo Teixeira foi transmitido em novembro passado, três dias antes da votação para 2018 e 2022. Nosso dever como livre e independentes jornalistas britânicos foi para avisar o que iria acontecer na votação. E assim foi. E, claro, nós fizemos esses programas para demonstrar para a Inglaterra e para o resto do mundo que a única maneira de ganhar o direito de sediar o torneio é pagar subornos.

Romário - Algo mais a acrescentar?

Andrew Jennings - Adoro visitar meus amigos no Brasil e estou ansioso para um grande torneio no Brasil, em 2014, com o Ricardo Teixeira fora da organização. E que todos os orçamentos sejam públicos - para evitar a corrupção. Assim teremos uma grande festa!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

[over12] O QUE É UMA RÁDIO JOVEM?



::txt::Fagner Marques::

O burburinho ganhou forma no final de semana. O boato – nem tão boato assim – de que a rádio Ipanema FM, famosa por manter sua programação voltada ao bom e velho rock and roll (às vezes nem tão velho, mas sempre bom), se tornaria uma “rádio jovem” a partir de hoje se espalhou como um vírus pelas redes sociais e sites dos apreciadores da estação. Os comentários, embora sem grande embasamento, eram negativos em sua totalidade. Existiam, é claro, aqueles que encaravam o fato como uma grande e jocosa piada e até pagavam para ver. Perderam.

A programação do meio-dia de hoje estava repleta de grandes desconhecidos nas ondas da Ipanema: Luan Santana, Restart, Raça Negra e alguma coisa cantada por meninas que parecem ter no máximo, 15 anos, que não conheço. Nos 40 minutos em que escutei, nenhum locutor, nenhuma voz – amiga ou desconhecida – para explicar o que acontecia. O boato se confirmou, mas ainda não foi justificado. Enfim, isso não importa.

O questionamento que fica não é “porque a Ipanema se transformou em uma RÁDIO JOVEM?”, mas sim “o que diabos é uma RÁDIO JOVEM?”. Quais os critérios usados para se definir? Rádio jovem é uma emissora que só toca música de artistas jovens? Ou que seleciona o som a partir do público jovem? O que é ser jovem, então? Minha tia, que completa 30 anos esse mês, gosta de Luan Santana. Ela seria jovem? Meu irmão, que tem 18, curte Guns, Metallica, Iron Maiden, Led Zeppelin. Ele é velho? Rádio jovem é aquela adepta aos preceitos no neoliberalismo, da busca desenfreada pelo lucro? É aquela que nivela tudo pelo gosto hegemônico e nos obrigam a fazer coro à manifestação de Nelson Rodrigues em que “toda unanimidade é burra”?

Poderia usar parágrafos e mais parágrafos com questionamentos que, caso respondidos, dariam um pouco de luz ao que aconteceu. Mas não acredito que os envolvidos neste projeto consigam responder alguma das poucas perguntas acima. Na real, quanto à prorgramaçao, grosso como sou, digo que se foda, é só desligar o rádio. O foda é aturar sacanagem de gente que não sabe o que está dizendo. Se foder!

Ps.: tá tocando “Vou de Táxi”, da Ângélica. Isso era jovem quando eu era criança, porra!

sábado, 13 de agosto de 2011

[vermelho] IMPRENSA ESPORTIVA - QUAL É O SEU PAPEL ?



::txt::Daniel Sander::

Na verdade, se bater uma vontade de escrever, dá pra desenvoler duas idéias. Uma delas, é sobre a coluna do David Coimbra de ontem (sexta-feira) na página 2 da ZH. Ele escreveu sobre o caso do Tonho Crocco. Não sendo exatamente contra ele, mas sendo polêmico. Na hora que eu li, lembrei de uma coluna dele, falando sobre o caso dos ciclistas. Me causou a mesma impressão sobre ele. O que me parece, é que talvez nem seja a idéia que ele defenda. Ele quer ser polêmico. Tipo, ele se acha um Paulo Sant"Anna da vida. Só que o Paulo Sant"Anna é espontâneo. É verdadeiro. É respeitado. No caso do David, ele analisa o que a opinião pública defende, pra criar uma teoria contrária. Eu imagino ele sentado em sua cadeira, pensando em várias teorias que possam causar impacto. Tipo, se achando o deus da crônica. Se achando um intelectual.

Não sei se eu consegui passar a impressão que eu passei a ter dele. Comecei a escrever um e-mail pra ele ontem de manhã e desisti. Não sei se vale a pena.

A outra idéia, indiretamente também tem a ver com ele. Não quis fazer um texto, mas criei um tópico sobre o assunto na comunidade do Inter.

---x---

Ouvindo o Sala de hoje, fiz uma reflexão sobre a imprensa esportiva. E longe de ficar nessa superficialidade ser "azul" ou 'vermelha". Mas sobre o seu papel perante o torcedor.

Será que a imprensa esportiva deveria ser investigativa???? Fiquei pensando nisso depois desse episódio da demissão do Falcão.

Há muita corrupção no futebol. A FIFA tá aí pra mostrar isso. Mas eu me atenho ao Inter. Pensem em todas as coisas que vem acontecendo no Inter. Peguem como exemplo a curta passagem do Falcão. Brigou com o Chumbinho. Foi demitido estranhamente. Aí já pensem em escalação de alguns jogadores, contratações, negociações com empresários. Enfim, não vou me alongar, certamente vocês acharão muitos e muitos exemplos.

Dá pra citar um do Grêmio: a "venda" do Ronaldinho. A imprensa nunca investigou nada. Só trata do que acontece dentro das quatro linhas.

Mas aí, surge a questão: será que o torcedor realmente gostaria de saber o que realmente acontece??? Será que isso não afastaria o torcedor do clube??? Diminuiria o número de sócios??? A receita ficaria menor???

Na relação custo/benefício, vocês acham melhor investigar, ou tratar apenas do futebol especificamente????

O que te parece????

Abraço Jucá!!!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

[cc] É O MOMENTO DE UMA NOVA ORDEM MUNDIAL?



::txt::Bruno Lima Rocha::

A ameaça de calote da dívida pública dos Estados Unidos vem suscitando uma série de debates a respeito do possível fim de uma era ou ciclo de dominação dentro do capitalismo. Para quem viveu o período da Guerra Fria, o cenário hoje vislumbrado não era sequer imaginável. Hoje, pela primeira vez na história contemporânea, os efeitos da política interna e externa dos EUA pós-11 de setembro de 2001 se vêem como uma possível crise de legitimidade e perda da hegemonia mundial – no médio prazo – do único Estado do planeta que é uma superpotência militar.

Isto se dá por uma série de fatores, mas uma relação de causal de fácil compreensão é que a conta simplesmente não fecha. A equação é simples. Os EUA sozinhos gastam mais com o complexo industrial-militar do que todos os demais Estados existentes no planeta. Isto ajuda a gerar a maior dívida interna do mundo acompanhada de um progressivo corte de gastos públicos e aumento de isenções e repasses de verbas para grandes transnacionais. O efeito é o abismo social, fortalecendo os 1% mais ricos e seus poderosos lobbies. Um Império decadente com supremacia militar e sistemas produtivos dependentes da China não tem condições prolongadas de exercer sua vontade soberana acima de organismos multilaterais, desde que os Estados emergentes assim o desejem.

A gangorra poderia começar a pender para outros lados se blocos regionais ou de países, como a Unasur e o G-20, estabelecessem medidas de proteção mútua, tais como fundos de emergência e índices de risco, por fora das estruturas estabelecidas pela atual hegemonia em franca decadência. Por mais surreal que pareça, o balizador das dívidas dos países são índices de empresas privadas de análise de risco (da possível ausência de pagamento), a saber, Standard & Poors, Moody’s e Fitch. Para os organismos financiadores do capitalismo, a informação produzida através destas empresas é considerada superior a co-produzida pelas autoridades de países como Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e Coréia do Sul.

Retirar a absurda legitimidade das empresas de “análise” de risco e, ao mesmo tempo, iniciar acordos multilaterais em busca de novos lastros para além do fator dólar-dólar, tal como uma possível moeda cambial dos emergentes, seria um belo primeiro passo. Se a economia do Império decadente é o motor engasgado da locomotiva mundial, romper com esta interdependência em escala planetária é tarefa de todo e qualquer governo minimamente balizado no respeito da soberania de seu país.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

[domínio público] ELEGIA 1938




::txt::Carlos Drummond de Andrade::

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações no encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas de dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

[agência pirata] PUNK IS NOT DEAD: LONDRES ESTÁ QUEIMANDO




::txt::Cristiano Viteck::

Desde o final de semana, os ingleses e o mundo assistem atônitos os atos de violência, vandalismo, furto e destruição que tomaram conta das ruas de Londres após um homem de 29 anos ter sido morto em uma operação policial. A barbárie se espalhou para outras cidades, enquanto autoridades políticas e policiais agem como moscas tontas para tentar conter a rebelião, sem muito sucesso até o momento.

Também surpreende a desorientação com que a imprensa trata do assunto. Como de costume, a horda de trogloditas que está levando pânico às ruas são simplesmente tratados como vândalos se divertindo em período de férias escolares. Não que não sejam, mas a classificação é pobre e burra demais por não se abrir à percepção dos reais motivos de tamanha revolta.

Nos noticiários de hoje pela manhã, pela primeira vez as notícias sobre as manifestações vieram com um pouco mais de consistência informativa. Embora mascarados, começaram a ser identificados esses baderneiros até então sem rosto. Enfim, os ingleses estão se dando conta de que a morte que teria dado início a toda essa confusão foi apenas o estopim que detonou um cenário sócio-econômico pra lá de explosivo.

Atualmente, cerca de 1 milhão de jovens ingleses estão desempregados. Grande parte deles não tem acesso ao sistema educacional. Nesse ambiente, drogas e sexo fácil se proliferam, motivados pela alienação e total descrença em um futuro melhor. Ao mesmo tempo, essa massa de homens-nada é bombardeada pela propaganda que incentiva e associa ao status social o consumo de roupas caras, celulares e aparelhos eletrônicos sofisticados, por exemplo, sem que ela tenha qualquer possibilidade de adquiri-los. Uma geração perdida que poucos turistas enxergaram quando foram abanar bandeirinhas do Reino Unido pelas ruas de Londres durante o casamento do príncipe William e a plebeia Kate.

Impossível não fazer a ligação da situação vivida esta semana na Inglaterra com o que acontecia naquele país em meados dos anos 70, e que ajudou a formatar um dos movimentos político-culturais mais significativos do século XX: o punk.

Há cerca de 35 anos, os ingleses viviam situação semelhante à de hoje. Escreveu Paul Friedlander, em seu livro “Rock and Roll: uma história social” (Editora Record, 2002, p. 354) que naquele cenário:

Surgiu um crescente segmento de jovens de classes menos favorecidas que se mostravam insatisfeitos com a falta de oportunidades econômica e educacional na Inglaterra. Empregos e salários decentes não estavam disponíveis e o acesso às escolas só era permitido às classes mais privilegiadas, forçando vários jovens operários a desistir da educação. Esta juventude desiludida cada vez mais numerosa vislumbrava um futuro de subsistência à custa do sistema de previdência social britânico. Os jovens perceberam que para eles não havia futuro, e por isso se revoltaram”.

Dessa massa de inconformados da década de 70, muitos foram para as ruas protestar, fazer greves, promover quebra-quebras. Outros, além disso, também manifestaram sua indignação através da arte (principalmente o rock) e do estilo de vida punk, que tinham como uma das premissas básicas a revolta contra a esquerda e a direita e um niilismo latente que se manifestava na falta de respeito ao patrimônio e desobediência às autoridades em favor da total liberdade individual.

Duas entre as centenas de bandas punks inglesas surgidas nos anos 70 são emblemáticas: os Sex Pistols e o Clash. A primeira, uma verdadeira máquina de caos, que tinha como premissa a ofensa a tudo e a todos e que musicalizava e verbalizava sua revolta em canções como “Anarchy in the UK” (Não sei o que quero mas/Eu sei como conseguir/ Eu quero destruir todos os transeuntes porque /Eu quero ser a anarquia) ou “No Feelings” (Sem sentimentos por ninguém/Exceto por mim mesmo, pela minha bela pessoa, querida).

Mas é na canção “God Save The Queen” que os Sex Pistols, mais do que provocar a ira da família real inglesa e grande parte da população inglesa, conseguiram fazer um retrato realista e cruel da sociedade britânica da metade dos anos 70:

Deus salve a rainha/ O regime fascista dela/ Fez de você um retardado/ Uma bomba H em potencial/ Deus salve a rainha/ Ela não é um ser humano/ Não há futuro/ Nos sonhos da Inglaterra/ (…) Quando não há futuro/ Como pode haver pecado?/ Nós somos as flores na lixeira/ Nós somos o veneno na sua máquina humana/ Nós somos o futuro/ Seu futuro

Mais profícua e consistente no discurso rebelde era a banda The Clash, que em várias canções pregou justamente a utilização da força para, se não mudar, pelo menos manifestar indignação à situação vivida na época. O próprio nome do grupo (Clash também significa confronto) já dava a tônica da postura do grupo, que não deixava qualquer dúvida de seus ideais em canções como a visionária “London’s Burning” (Londres está queimando com o tédio agora), “Hate and War” (Ódio e guerra/Eu tenho vontade de sobreviver/ Eu engano se eu não conseguir ganhar/ Se alguém me deixa de lado/ Eu chuto à minha volta) ou “Guns of Brixton” (Quando a lei entrar à força/ Como você vai agir?/ Deitado no chão/ Ou esperando uma briga mortal/ Vocês podem nos esmagar/ Vocês podem nos machucar/ Mas vão ter que responder para/ Os atiradores de Brixton).

E se o lema do Clash era o confronto, a banda fez da música “London Calling” a convocação para a pancadaria:

Londres chamando todas as cidades distantes/ Agora a guerra está declarada e a batalha começa/ Londres chamando o submundo/ Saiam todos do armário, garotos e garotas/ (…) A era do gelo está vindo, o sol está sumindo/ Máquinas param de funcionar e o trigo está rareando/ Um erro nuclear mas não temo/ Porque Londres está sendo inundada e eu/ Eu vivo perto do rio

O movimento punk inglês original teve uma existência efêmera que pode ser considerada entre 1975-1979, com uns anos a mais ou menos dependendo do ponto de vista. Mas no geral foi isso. O punk, acreditava-se, havia virado coisa de butique. E as próprias ideias e estímulos ao confronto, tão presentes nas canções de Sex Pistols e Clash, eram vistos como poesia datada. Hoje, vendo o que acontece em Londres, fica a sensação de que elas eram proféticas.

A horda que hoje põe cidades inglesas em pânico talvez nem se dê conta que um dia existiu o punk e bandas como essas duas. Talvez seus inspiradores da rebeldia sejam os gagsta rappers, autores anarquistas do momento ou coisa assim. Mas, as motivações e modos de agir entre aquela e a atual geração de descontentes da sociedade inglesa são as mesma. Mais do que o discurso, é a manifestação violenta que é usada para chamar a atenção sobre uma situação que já estava em ebulição e que definitivamente entornou o caldo no último final de semana.

Craig O’Hara escreveu no livro “A Filosofia do Punk: mais do que barulho” (Radical Livros, 2005, p. 92-93) que “não é a devoção a um conjunto fixo de normas de protesto que pode mudar a sociedade, mas o uso apropriado de táticas para alcançar objetivos. Às vezes a violência é necessária, às vezes ela é contraprodutiva.

Antes que me acusem de apologista da violência, que fique claro que nem de longe pretendo fazer isso ou dizer que acho justo ou não a pancadaria que come solta em Londres. Tento apenas mostrar que por trás da atitude das autoridades e da mídia de reduzir a interpretação aos protestos a simples atos de vândalos que depredam e roubam roupas de grife e celulares, pode estar uma tentativa de esconder causas bem mais profundas, que talvez nem os próprios manifestantes consigam explicar.

Talvez ajam apenas por impulso, alimentados por um ódio há muito guardado e que tem origem na sensação de alienação social e econômica em que vivem. E nessas horas, é perfeitamente compreensível a máxima punk de que “se você não tem nada, então não tem nada a perder”. Para quem vive assim, é até meio que natural sair às ruas com pedras nas mãos porque, como profetizou o grupo Clash, “a guerra está declarada” e “Londres está chamando”.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

[águas passadas] UNGARETTI PSICOGRAFA MENSAGEM DE LUTHER BLISSET




::txt::Luther Blisset::
::trnscrç::Wladymir Ungaretti::

Quero fazer uma rápida intervenção nessa discussão sobre as eleições. Quero intervir tendo por pano de fundo uma idéia expressa por Eduardo Galeano: " não me animaria a desclassificar movimentos. Prefiro aplaudí-los pelo que fazem. Se há um salva-se quem puder, me parece bastante saudável que existam, principalmente em uma época na qual está proibida toda energia que não esteja a serviço do mercado". Portanto, que fique bem claro que minhas observações não tem por pano de fundo uma posição excludente.

Mas, é preciso dizer algumas coisas, entre tantas que poderiam ser ditas e alinhadas. Não é por acaso que esta tímida discussão tenha sido desencadeada pelo Tiago Jucá, um anarquista expontaneísta, no seu sentido mais puro e verdadeiro. Assim como não é por acaso que as principais figuras d esta faculdade andem com estrelinhas do PT, no peito e representem a fina flor do reacionarismo, do atraso. Não é por acaso que o jornalismo "ensinado" às novas gerações tenha se transformado no ensino do jornalismo-tipo-rp. Claro, durante muito tempo apontado como revolucionário.

Tenho orgulho por ter dado minha modesta contribuição ao desmascaramento da farsa. Aliás, a farsa continua. Claro, que com ares de novidade. Até mesmo o governo do Maluf deve ter aspectos positivos, assim como o do Garotinho, o do Ciro Gomes e até mesmo a gestão do Serra, na Saúde. Este último um ex-militante da AP (Ação Popular), católicos de esquerda, reformistas. É evidente que as administrações do PT - aqui no sul - reformaram muitas coisas. Já escutei, por exemplo, empresários manifestando satisfação pelo fato de que tais administrações são de um elevado senso de honestidade, em relação a coisa pública. Que bom.

O jornalista Mino Carta, pelo qual tenho o máximo respeito e diga-se de passagem o primeiro a colocar o companheiro Lula na capa de uma revista (Istoé de1978), em recente editorial, afirmou que se a elite brasileira não fosse tão selvagem, quem, nesse momento, melhor administraria o capitalismo brasileiro seria o PT. Quando o candidato Lula anuncia que respeitará todos os acordos internacionais, incluindo
os estabelecidos com o FMI, fica claro qual será o tom de tudo em caso de vitória. E, eu torço por esta vitória, acreditem. Quando o companheiro Tarso se deixa pautar pela RBS, na questão da violência, está fazendo o jogo do que tem de mais reacionário na sociedade gaúcha. Colocar câmaras de vigilância, no centro da cidade, para registar pequenos furtos é fazer a lição de casa pelos interesses da elite, ou seja, contribuição expressivamente na colocação de mais miseráveis na cadeia.

Privatizar espaços públicos(os estacionamentos) não me parece uma política inteligente. Expulsar os camelôs das áreas centrais reabrindo as ruas para a circulação de veículos não é correto. Tenho uma irmã expulsa do Deus mercado de trabalho e que trabalha como camelô. Talvez o indicado é que ela vire assaltante dentro daquela idéia: seja marginal, seja herói. Não tenho nenhuma dificuldade em dizer que, acho que pela idade, não sou (única e exclusivamente) pelas reformas do capitalismo. Mas a luta por reformas - está provado historicamente com o socialismo real, acaba amortecendo as revoluções transformadoras. A idéia não é minha. Temos o melhor transporte coletivo do país. Os empresários do setor estão satisfeitos. O asfalto foi levado às vilas. O que é ótimo. Assim, os ônibus da Sudeste ganharam novos mercados. Facilitou a vida dos trabalhadores, sim. O que é também ótimo. Os lucros também cresceram. A RBS não tem nenhuma crítica nesse caso.

Sou pela revolução, sem partidos, sem hierarquizações burocráticas. Sou pela utopia. Mas insisto, não sou excludente. O mesmo não se pode dizer de grande parte da militância "falsamente de esquerda". Tenho cruzado, ao longo da minha militância, com muitos "esquerditas" e, quase todos com raríssimas exceções, são os que acabam se transformando nos mais eficientes defensores do sistema estabelecido. Quase sempre administram bem. Na primeira oportunidade se agarram com unhas e dentes ao poder. Vide Fabico. Com suas biografias políticas "de esquerda" controlam as revoltas. Poderia alinhar muitas variantes sobre o tema. Não tenho a intenção de polemizar, de transformar tudo isso numa grande discussão de princípios, até mesmo pelo fato de que não tenho nada a provar a ninguém e muito menos a mim mesmo.

Tudo bem, que venham as reformas. E quando vier a revolução, um dia após sua implantação, serei oposição crítica. Vejo com uma certa simpatia - por não ser excludente - pela militância do PSTU, embora seja um partido até mais hierarquizado, pela sua tradição trostkista. Continuarei contribuindo para que aconteça uma verdadeira revolução, para a desorganização cotidiana do sistema, pela implosão, pelo incentivo a que os miseráveis tomem de assalto as instituições e que num ato de elevada e refinada criação destruam tudo. Não é, também por acaso, que no mundo inteiro o que mais cresce são os movimentos sociais com alta inspiração anarquista. São estes grupos de afinidades que melhor usam a Internet. Estes grupos são a
vanguarda da luta contra a globalização da miséria. Não essa coisa organizada (fóruns) e disciplinada que acontece por aqui e que tem uma certa importância, evidentemente. Importância simbólica pelas imagens e nada mais.

É preciso criarmos Black Blocks: " aqueles que possuem autoridade, temem a máscara pelo seu poder de indentificar, rotular e catalogar: em saber quem você é... nossas máscaras não servem para esconder ou ocultar nossa identidade, mas revelá-la...hoje nos devemos dar um rosto a essa resistência... colocando nossas máscaras mostramos nossa união; e levantamos nossas vozes nas ruas, nós botamos para fora toda nossa raiva contra os poderosos sem rosto..." ) mensagem distribuída junto com as máscaras, em 18 de junho de 1999, num carnaval anti-capitalista, que destruiu o distrito financeiro de Londres). No quinto mundo existente (nos EUA) temos uma população carcerária de um milhão de negros e latinos, miseráveis. Está é a política globalizada e exportada. Não tenho nenhum compromisso com um certo tipo de "coerência". Não busco raciocínios lineares. Sou pela chapação dos parangolés paradoxiais.

Fraternalmente, Luther Blissett (2003)

[noé ae?!] VERA LOCA


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

[do além] INSENSATO VALE TUDO




::txt::Pedro Collor::

Ao ser indagado por qual razão o impeachment sofrido por meu irmão não constava da galeria de imagens históricas do chamado Túnel do Tempo do Senado, onde são expostos fatos marcantes da política nacional, o presidente da casa, José Sarney, justificou dizendo que o episódio foi "apenas um acidente" na história do Brasil. Como sempre digo, os caras-pintadas marcaram uma época. Mas os caras de pau são permanentes. A gritaria foi grande. Vozes da imprensa se indignaram. Entidades civis repudiaram. Houve um clamor para que o absurdo fosse corrigido. Até o Fernando, atual colega de Ribamar, deve ter pedido para que seu nome voltasse para a galeria. Sua vaidade não liga para julgamentos morais.

A correção foi feita. A derrocada collorida voltou à exposição. Ótimo. Mas umas poucas tabuletas expostas num corredor do Senado não são suficientes para refrescar a memória nacional. A nação já esqueceu do arsenal de histórias inacreditáveis reveladas por mim antes e depois do impeachment. Revelações que me custaram caro. Fui processado por calúnia e danos morais. Me vi obrigado a realizar exames psiquiátricos para confirmar minha saúde mental. Sofri ameaças veladas. Mamãe me afastou do controle das empresas da família. Botei a boca no trombone porque estava sendo subtraído dos bons negócios. Eu era o irmão do presidente,mas o PC é que era tratado como brother.

Tanto sacrifício parece ter sido em vão. Os caras-pintadas, que poderiam ser portadores dessas histórias, estão ocupados demais em ganhar a vida e cuidar de suas fazendinhas nas redes sociais. Temos problemas em registrar políticos e períodos lamentáveis. O curioso é que gostamos de lembrar que não temos memória. Disso nunca esquecemos. Por isso, pensei que uma maneira de eternizar minha contribuição seria transformar as revelações em uma novela das 8. Ingredientes não faltam: briga de irmãos, traição, drogas, homossexualismo, magia negra, corrupção, crimes, chantagens, maldade explícita e núcleo pobre (população). Alguns acontecimentos teriam de ser suavizados para se tornarem críveis e adequados à faixa horária de exibição. Sacrificaríamos cenas como a dos supositórios de cocaína, mas levaríamos ao ar o primeiro beijo gay. Se Dado Dolabella não estiver ocupado batendo em alguém, poderia muito bem encarnar o protagonista.

A novela Vale Tudo é de 1988. Entrou no ar quatro anos antes do impeachment. Mesmo assim segue viva na cabeça dos brasileiros, volta e meia frequenta os Trending Topics do Twitter. Até as novas gerações sabem quem foi Odete Roitman. Estamos falando de algo que resiste há 23 anos na memória coletiva. O Fernando ficou inelegível por oito anos. Foi tirado da Presidência em 1992 e voltou a ocupar um cargo eletivo em 2006.Ou seja, apenas 14 anos depois de ter protagonizado as maiores barbaridades e ter provocado uma mobilização nacional sem precedentes.

Pode parecer uma ideia absurda. Mas me embrulha o estômago, depois de tudo que revelei, vê-lo de volta ao poder e ser protegido por seus pares. Não tem jeito, é preciso apelar para esse recurso dramático. Já tenho até uma sugestão de nome para essa possível novela: Caim Roxo. Te cuida, Aguinaldo.

domingo, 7 de agosto de 2011

[direito de resposta] TVE SE MANIFESTA

Caro editor da revista O Dilúvio:


A Fundação Cultural Piratini informa que não praticou qualquer tipo de censura à obra do artista Tonho Crocco em sua programação. Com o objetivo de qualificar o debate sobre o assunto e o direito de livre expressão, o caso foi amplamente tratado em reportagem especial no programa Radar do dia 4 de agosto.


Veja a matéria sobre o assunto em http://www.youtube.com/watch?v=be6HWsoCTbw


A Fundação Cultural Piratini mantém sua posição a favor da livre manifestação de pensamento, de criação, de expressão e de informação, sob qualquer forma, não praticando censura de natureza político-ideológica ou artística.

Salientamos ainda que o vídeoclipe Gangue da Matriz foi veiculado pela emissora no mês de janeiro e no programa Radar TVE da útlima sexta-feira, dia 5 de agosto de 2011.

Estamos à disposição para resolver qualquer dúvida,

atenciosamente,

Anahy Metz
Assessora de Comunicação Social
Diretoria de Marketing Cultural
Fundação Cultural Piratini - Rádio e Televisão
DRT 15370

[over12] TVE VETOU VÍDEO DE TONHO CROCCO



::txt::Monsenhor Jucá::

O programa Radar é um das poucas coisas legais produzidas pela TVE do Rio Grande do Sul. A emissora estatal (estatal sim, pública não) além de pecar pela péssima programação (aqui não incluímos os programas retransmitidos), também tem outro péssimo defeito: ser comandada por políticos que estão no poder. A cada quatro anos, a emissora muda seu estilo da água pro vinho, e vice-versa, dependendo de quem assume o governo estadual.

Pois bem, por ser a emissora oficial do Piratini, seu jornalismo só poderia ser tendencioso. Não há nenhuma reportagem crítica ou denúncias feitas por cidadãos sobre problemas sociais e comunitários. Seria possível de entender a postura se a TVE não fosse sustentada pelo nosso bolso.

O Radar fez uma reportagem sobre a censura que o ex-malandro estadual Giovani Cherini tenta impor em Tonho Crocco, por causa da música que deu nome aos bois que aumentaram o próprio salário em mais de 70%. Mas, segundo fontes extremamente confiáveis, o vídeo de Tonho foi vetado de ser exibido dentro do programa, pois "poderia causar problemas". A ordem teria sido dada pelo presidente da Fundação Piratini, o senhor Pedro Osório.

Mesmo que alguém queira contestar esta informação, não há como esconder um fato: o vídeo Gang da Matriz ainda não foi exibido no Radar. A pergunta que não quer calar: que problemas podem ser causados? O óbvio: Cherini não está sozinho. Infelizmente.

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33 minutos depois:

Caro editor da revista O Dilúvio:


A Fundação Cultural Piratini informa que não praticou qualquer tipo de censura à obra do artista Tonho Crocco em sua programação. Com o objetivo de qualificar o debate sobre o assunto e o direito de livre expressão, o caso foi amplamente tratado em reportagem especial no programa Radar do dia 4 de agosto.


Veja a matéria sobre o assunto em http://www.youtube.com/watch?v=be6HWsoCTbw


A Fundação Cultural Piratini mantém sua posição a favor da livre manifestação de pensamento, de criação, de expressão e de informação, sob qualquer forma, não praticando censura de natureza político-ideológica ou artística.

Salientamos ainda que o vídeoclipe Gangue da Matriz foi veiculado pela emissora no mês de janeiro e no programa Radar TVE da útlima sexta-feira, dia 5 de agosto de 2011.

Estamos à disposição para resolver qualquer dúvida,

atenciosamente,

Anahy Metz
Assessora de Comunicação Social
Diretoria de Marketing Cultural
Fundação Cultural Piratini - Rádio e Televisão
DRT 15370

[over12] MUITA AREIA PRO TEU CAMINHÃOZINHO

sábado, 6 de agosto de 2011

[agência pirata] NEM JOBIM, NEM AMORIM: VAMOS ABOLIR AS FORÇAS ARMADAS



::txt::André Forastieri::

Nelson Jobim foi demitido. Só lembramos da existência dele quando falou bobagem. Quem foi o Ministro da Defesa antes dele? Não importa. Função de militar é matar, e o Brasil não tem inimigos. Não precisamos de exército, marinha ou aeronáutica. Deveriam ser abolidos. Não faria a menor diferença.

Melhor: faria grande diferença para o bem. Na América Latina, não há país mais civilizado que a Costa Rica. Por várias razões, e a principal é que a Costa Rica aboliu as forças armadas em sua constituição de 1949. Tem uma guarda civil e uma guarda rural e só.

Ninguém diga que aquele canto do mundo é tranquilo. A América Central já enfrentou de tudo, ditadores, guerrilheiros, narcotraficantes, mafiosos, multinacionais que mandavam em países inteiros. A Costa Rica ali no olho do furacão e, em mais de seis décadas, sempre manteve seu rumo - nada de exército.

O que iam gastar com "defesa", investiram onde mais importava - no ataque aos seus principais problemas. Hoje a Costa Rica tem alto índice de alfabetização, meio-ambiente superprotegido, pontua bem em todos os principais índices do bem viver planetário. Não é um país rico, nem de longe, mas em média vive-se com mais paz lá que em qualquer outro lugar da América Latina.

Desarmar o Estado ajuda a desarmar o espírito? No Brasil, ao contrário, temos armas para todo lado. O governo federal tem as Forças Armadas, os Estados têm polícias militares, cidades suas polícias civis, bandidos suas metrancas.

Temos até nossa própria indústria bélica, e recentemente tivemos a vergonha de ver tanques brasileiros usados pela ditadura de Kaddafi contra manifestantes líbios. Com tudo isso, e sem inimigos, vivemos em uma violência sem fim.

Se o Brasil abrisse mão de suas forças armadas, quem iria guardar nossas fronteiras? A pergunta é outra: que país é capaz de invadir e ocupar um lugar do tamanho do Brasil, com quase 200 milhões de habitantes? Nenhum. No século 21, as nações se digladiam por outros meios.

A gente podia ficar com um timezinho de forças especiais bem treinadas e um abraço. Baita economia. Mas não. Trocamos Jobim por Celso Amorim e tudo continua como dantes no quartel de abrantes. O Brasil, pena, não está pronto para seguir o exemplo da Costa Rica. Pelo menos em uma coisa evoluímos bastante. Como disse ontem o amigo Edson Aran: "eu sou do tempo que militar é que demitia o presidente..."

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

[agência pirata] OS CINCO DONOS DO JOGO




::txt::Fernando Valeika de Barros::
::lstrç: F de Flavio::
::nfgrfc: Cássio Bittencourt, Fernando Valeika de Barros, F de Flavio, L. E. Ratto, Marcos Sergio Silva e Rodrigo Maroja


Eles jamais pisaram em um campo de primeira divisão, mas ditam as regras do mundo boleiro. Saiba como Juan Figer, Pini Zahavi, Kia Joorabchian, Gustavo Arribas e Jorge Mendes comandam o futebol usando clubes fantasmas, paraísos fiscais e barrigas de aluguel

Os grandes negócios do futebol brasileiro começam em Montevidéu, passam por paraísos fiscais e terminam em um dos grandes europeus. Os lucros caem nos bolsos de intermediários cuja cara você dificilmente já viu. Esse futebol sem rosto hoje é mais influente que o dos craques. Menos vistoso, mas mais lucrativo.

Fomos à caça desses representantes do futebol das profundezas. Eles arranjam o atleta, viabilizam a operação financeira, criam atalhos para o clube ter menos despesas, arranjam investidores e formam fundos de investimentos.

“Em troca de uma ajuda de 8 000 dólares mensais, assinei documentos sem ler por dez anos”, afirma Fermín Vega Torres, ex-presidente do Central Español — um clube “fantasma” do Uruguai, que servia apenas para registrar os atletas do empresário uruguaio Juan Figer. “Quando me recusei a assinar transferências, um sobrinho do Figer me ameaçou.” Logo após a recusa, os negócios passaram a ser feitos em outro clube “fantasma”, o Rentistas.

Juan Figer é uma figura discreta (odeia dar entrevista) que atua no Brasil desde 1968, quando negociou o lateral Pablo Forlán com o São Paulo. Faz parte de um grupo de cinco empresários que controla os grandes negócios do futebol — como o iraniano Kia Joorabchian, o israelense Pini Zahavi, o argentino Gustavo Arribas e o português Jorge Mendes. Hoje atuam cada um no seu pedaço. Mas podem estar juntos se a transação valer a pena. Em 2004, por exemplo, todos eles foram a Buenos Aires para tratar de uma sequência de transações com o River Plate. Arremataram Maxi López, Lucho Gonzalez e Javier Mascherano.

Jorge Mendes atuou como jogador em clubes da terceira divisão portuguesa, mas sua grande jogada aconteceu em 1996, quando criou a Gestifute. Seus negócios no Brasil incluem a coordenação da carreira do técnico Mano Menezes, em parceria com Carlos Leite. “Mendes tem relações que nenhum dirigente brasileiro ou português tem para negociar atletas”, diz um agente com trânsito nos bastidores da bola.

Mendes passou a encontrar concorrência em Portugal. Em um ano, Kia Joorabchian fez dois negócios certeiros: as vendas dos brasileiros Ramires e David Luiz do Benfica para o Chelsea. Só nessas ações, movimentou 37 milhões de reais.

Seu braço direito é Giuliano Bertolucci, aliado desde a MSI-Corinthians. Seu maior rival, o argentino Gustavo Arribas, com boas ligações no Boca Juniors. Arribas opera a partir de outro “fantasma” — o Deportivo Maldonado, também do Uruguai. Tinha trânsito com os principais empresários. “Hoje opera um esquema independente, o que causou atritos com ex-parceiros”, diz um agente. Kia chegou a acusá-lo de roubar o Corinthians. “Ele pegou o Sebá Dominguez e transferiu para o América do México sem pagar”, disse. Arribas defendeu-se: “Se tivesse roubado o Corinthians, não teria intermediado a vinda do Thiago Heleno”.

Arribas manteve parceria com o israelense Pini Zahavi, considerado uma lenda no meio. A criatividade com os negócios valeu a Zahavi o apelido “Senhor Conserta-Tudo”. “É um dos donos do futebol no mundo”, define Wagner Ribeiro, empresário de Neymar e parceiro de Pini no Brasil.

O israelense opera uma teia de empresas localizadas em paraísos fiscais. Sua grande realização foi ajudar o bilionário russo Roman Abramovic na compra do Chelsea. Mantém base na América do Sul desde a MSI-Corinthians e opera por meio de uma salada de empresas instaladas nas Ilhas Virgens Britânicas e em Gibraltar. “Essa cascata de empresas off-shore embaralha o nome dos verdadeiros donos do dinheiro”, afirma o promotor José Reinaldo Carneiro, do Grupo de Apoio ao Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo. Práticas condenadas pela Fifa e pela Justiça. Mas nada que o Senhor Conserta-Tudo não resolva em seu escritório no 34º andar de um edifício em Tel Aviv.

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