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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

[agência pirata] O ROCK É O NOVO JAZZ



::txt::Gustavo Brigatti::

Um amigo da minha namorada abriu um bar. E nesse bar tem um palco, onde ele quer botar bandas para tocar _ e, de quebra, faturar umas caixas de cerveja a mais. Na semana de inauguração da birosca, ele veio me perguntar se eu não conhecia umas bandas boas pra passar um som ali. Eu disse que sim, que conhecia umas bandas e elas eram muito boas. Só que não para o que ele queria.

Explico: eu gosto de rock. E rock _ rock mesmo, você sabe do que eu tô falando _ não dá dinheiro. E não dá dinheiro porque não tem público, porque não vende, porque não tem quem invista, é um gênero vivendo à base de soro num leito de UTI esperando que alguém puxe a tomada de vez. E longe de mim querer prejudicar o negócio do camarada…

Mas sem essa de profeta do apocalipse. Quem faz rock, sabe da situação. Quem ouve, também. E nem estou falando de ideais, de conduta, de postura, de conceito _ tudo isso foi engarrafado faz tempo e virou roupinha de brechó, calça colorida e pomada capilar. Estou falando de números.

Pega a lista dos 10 discos mais vendidos do ano passado no EUA: começa com Eminem e termina com Ke$ha, sem nenhum solo de guitarra entre eles. No Reino Unido, a faixa mais vendida em 2010 que se aproxima de um rock foi Don’t Stop Believin’, uma balada de 30 anos dos coxinhas do Journey _ e graças ao seriado Glee, veja bem. Na real, apenas 3% dos singles vendidos nas terras da rainha foram de rock no ano que finou-se.

Ainda na Inglaterra, Rihanna acabou de se igualar a Elvis Presley como artista solo a emplacar cinco singles consecutivos no primeiro lugar das paradas. Alguém duvida que ela vai ultrapassar o Rei?

No Brasil ainda não foi liberada a lista de mais vendidos de 2010, mas eu te digo que vai ser mais ou menos assim: um padre, uma dupla sertaneja, uma cantora de axé, outra dupla sertaneja, um cantor brega e uma coletânea de novela. O máximo de rock que pode haver é um grupo de guris que parecem gurias. E eu não estou falando do Mötley Crüe…

Em entrevista ao Guardian, Paul Gambaccini, DJ da BBC e conhecido como Professor do Pop, afirmou que “é o fim da era do rock. Acabou, da mesma forma que a era do jazz acabou”. Perfeito. Eu não poderia ter feito analogia melhor.

Em breve, nós, que pagamos pequenas fortunas por um White Album em vinil e discutimos se é Bon Scott ou se é Brian Johnson, vamos ser encarados como os tiozinhos fãs de Dizzy Gillespie e Thelonious Monk, peças de museu na mesma proporção respeitadas e ignoradas.

Nesse tempo que se aproxima, o debut do Black Sabbath será tão estimado, reverenciado e digno de estudos acadêmicos (e versões deluxe) quanto Kind of Blue, as primeiras apresentações ao vivo do Van Halen serão item de colecionador e qualquer menção a Joey Ramone virá acompanhada de um suspiro pesado.

E nos lembraremos de quando brigávamos por uma tomada para plugar pedais numa espelunca qualquer e tocar para meia dúzia de amigos. Éramos jazzistas. E não sabíamos.

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