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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CONVERGIR

# agência pirata #
Cultura da Convergência e o Próximo Passo

txt: Eric Harvey
tradução: coletiva


Se não dá para se ter saudade da caças a bruxas, a era da mídia de massa da música popular tem muito sobre o que se pode ser nostálgico. Em retrospectiva, um menu musical tão limitado significava que havia uma probabilidade muito maior de que a música que você estava ouvindo num momento qualquer estava sendo ouvida por muitos outros ao mesmo tempo. A ideologia da comunidade, mesmo uma comunidade imaginada, é difícil de sacudir – especialmente quando criadas por eventos como Elvis Presley ou os Beatles no “Ed Sullivan”, ou Michael Jackson na celebração “Motown 25″. Igualmente difícil de esquecer são aquelas imagens de jovens absolutamente frenéticas captadas em filme e vídeo – separadas de seus ídolos pelo que deve ter parecido anos luz, elas eram incapazes de se conter ao prospecto de estar à distância de um aceno. O sistema da estrela foi um produto inevitável do modelo de produção industrial do séc. XX que investiu milhões em um punhado de artistas na expectativa de um retorno que poderia subsidiar dúzias de outros.

No lugar do antigo sistema há um novo, que tem sido chamado de “cultura de convergência”. Englobando a hibridização de tecnologias e a colaboração de corporações em uma mão, ele também realça a penetração da própria audiência nas esferas de produção, promoção e distribuição. Muitos acadêmicos, comentaristas e os próprios fãs veem a cultura de convergência como a vitória definitiva dos fãs de música: finalmente a indústria tem que escutar seu público, por que sua estabilidade financeira futura depende disso. Embora haja um pouco de verdade nessa perspectiva, no final ela apenas confunde ainda mais as coisas. Os fãs se tornaram importantes de muitas maneiras que jamais poderiam ser previstas, mas também porque a própria palavra significa agora algo diferente, dependendo de quem esteja fazendo a definição.

Em qualquer ponto no século passado ou similar, é possível, com a diligência adequada, reconstruir as possibilidades para os fãs de música ao se analisar como os domínios dos negócios, da tecnologia e do direito trabalham para moldar o público ouvinte – mediante um trabalho que muitas vezes ocorre ao nível da linguagem. Quando os selos dizem “fãs”, por exemplo, eles muitas vezes querem dizer “trabalho grátis”. As companhias da tecnologia usam o conceito de “interatividade” para marcarar estratégias de marketing que invisivelmente coletam dados demográficos cruciais, enquanto guiam as performances de fãs simplesmente eliminando opções. Advogados, se quiserem ser bem sucedidos, têm de aplicar a racionalidade fria de códigos a comportamentos que são impulsionados principalmente pela paixão. Para funcionar adequadamente (em outras palavras, para ganhar dinheiro), essas três categorias têm de se sobrepor significativamente, com as possibilidades para os fãs ficando em algum lugar no meio, o qual está em mudança constante.

Se considerarmos todos os mitos que se construiram ao longo dos anos ao redor dos Beatles e de Michael Jackson – para MJ, esta é provavelmente uma boa coisa – e, até agora, pelo menos, desconsiderando-se o fato de que eles foram brilhantes músicos, podemos chegar a uma nítida idéia do motivo pelo qual eles têm tanto domínio sobre nossa imaginação. Afinal, sempre houve músicos brilhantes – Por que estes dois tem esse poder por tanto tempo? Uma grande parte da razão reside em momentos históricos específicos em que ambos surgiram, o que lhes permitiu definir novos avanços na tecnologia, arte e indústria em suas próprias imagens.

Tanto os Beatles quanto Michael Jackson emergiram em tempos áridos para a indústria da música – os Beatles, logo após a primeira onda do rock’n'roll, permitiram que o pop sem graça suplantado tomasse nova forma e Jackson, no momento entre as mortes do punk e da música disco e a ascensão do hip-hop, do novo “country” e do alt-rock. Os Beatles aproveitaram-se desta situação, ajudando a definir o que uma banda de rock poderia ser e no que o LP e estúdios de gravação poderiam se tornar. Jackson surgiu quando a MTV estava à procura de outras coisas além de Eddie Money e Rod Stewart para exibir visualmente, e sua obra ainda lança uma sombra contínua sobre a mídia da video music (que os Beatles, não vamos esquecer, ajudaram a criar). Ele era tão admirável de se ver, especificamente, porque trouxe a dança de volta ao pop – inspirado em fontes como o sapateado, breakdance, ballet, James Brown, Fred Astaire e música disco, ele construiu o modelo de pop star polivalente que tantos têm tentado replicar.

Ou, ao menos, é o que nós lembramos deles. A história nunca é feita por atores individuais, ou mesmo por pequenos grupos, mas realizada retroativamente de modo a se encaixar em uma narrativa. É assim que um “fandom” (”Fan Kingdom”, conjunto de fãs) costumava ser construído. Lembramo-nos de nossas conexões com a cultura popular através dos momentos e das pessoas que pareciam alterar a nossa consciência por pura vontade. Nós lhes permitimos substituir o elenco muito maior de colaboradores invisíveis, influências, tecnologias e alinhamentos comercial que lhes possibilitou assumirem a imagem transcendente que criaram.

Essas espécies de lembranças nostálgicas, em grande parte, são facilitadas porque a indústria antiga, baseada na venda de mágica, propositalmente obscureceu todos os colaboradores que, nos bastidores, ajudaram as super estrelas a emergir. Mas agora, nós nos encontramos num momento histórico que nos permite acesso a todos os aspectos anteriormente ocultos da criação musical. Ao invés de abordar esta situação como se a “mágica” tivesse desaparecido, não seria muito mais produtivo aproveitar a oportunidade para criar uma cultura inteiramente nova de ídolos? Em outras palavras, se ser “fã” continuará a ter alguma relevância como uma apaixonada estratégia de escuta, no momento em que sua definição ainda está no ar, está claro que os próprios fãs precisam se encarregar da definição. O primeiro passo neste processo – a criação de novas infra-estruturas e tecnologias – já aconteceu.

O segundo passo é muito mais difícil: usar estas novas ferramentas para lutar contra as restrições ilógicas daqueles que pensam que o antigo modelo ainda é viável e começar a redefinir o valor da música. Estamos condicionados desde o século passado a pensar em música como uma mercadoria. Apesar de sua boa fé (”apoio os artistas”), essa maneira de pensar apenas propaga o mais fundamental ideal do capitalismo: obter mais coisas por menos dinheiro. Mais conhecido como baixar arquivos. Artistas precisam ganhar dinheiro com sua música (se o desejarem) e precisam de um conjunto flexível de garantias legais e tecnológicas para assegurar isso. Mas estas garantias precisam ser suficientemente flexíveis para permitir aos fãs usarem sua inteligência coletiva e paixão para ajudar os próprios artistas, sem serem explorados, ou colocados em um script ideal para atores aposentados. Se a esfera pública moldada por mp3s pudesse, de forma colaborativa, reimaginar-se não como uma audiência ou um mercado, mas como membros de uma sociedade civil, que sentem merecer uma participação na sua própria cultura; então as regras, daqui por diante, e nossa apreciação dos valores sociais e afetivos da música deverão emergir como os próprios mp3s: de baixo para cima. Há muito descobriu-se a forma de se obter e fazer a música circular. Agora vamos fazer algo com isto.

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