#CADÊ MEU CHINELO?

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O VIZINHO




# agência pirata #
Voyerismo

txt: A Pecadora


Eu sou uma vadia exibicionista. como bem disse anteriormente.

Adoro transar em lugares pouco convencionais, de preferência públicos, na esperança de que alguém me pegue em flagrante. Minha melhor fantasia relacionada a isso é estar trepando num beco escuro quando sou flagrada por mai um casal e eles também entram na brincadeira…já pensou que gostoso?

Adoro provocar, adoro a sugestão da sacanagem pura e simples. Aquele ar de mistério, de que algo proibido esta sendo feito. Puro acinte.

Adoro praia de nudismo, adoro ficar nua. Ao contrário do que pensam, me visto com bastante discrição, acho a vulgaridade no vestir algo horrível, cafona e golpe baixo e fácil na sedução.

Eu gosto mesmo é de ficar pelada, peladinha, de exibir meu corpo para meu parceiro, de provocá-lo em posições e movimentos sensuais. Transo SEMPRE de luz acesa. E adoro trepar de frente para um espelho.

Em casa, a primeira coisa que faço quando chego do trabalho, depois de jogar minha bolsa longe, é me livrar de minhas roupas e sapatos. (ou às vezes, dependendo do clima fico só com os sapatos altos)

Às vezes faço isso enquanto caminho para o quarto e vou deixando um rastro de peças de vestuário pela casa ( mas é ruim pq depois tenho que catar) e na maioria das vezes não me incomodo - na verdade, até prefiro - das cortinas estarem abertas.

E foi justamente numa situação dessas que começou uma das histórias mais loucas que já vivi na vida.

E acreditem, não houve o mínimo contato físico, nem ao menos um beijo. Nada. Puro voyerismo e exibicionismo e foi UMA DELÍCIA.

Eu morava, na época, numa casa de vila onde os imóveis eram muito próximos uns dos outros, praticamente grudados.

Meu quarto possuía uma bay-window que dava de frente para um cômodo na outra casa o qual nunca me incomodei em verificar qual era, muito menos quem morava lá.

Meu quarto era uma suíte, eu deixava as cortinas da janela abertas, na maioria das vezes e saia do banho me enxugando, para me trocar no quarto.

Foi numa dessas que ele me viu. E eu descobri que o cômodo da casa em frente era um quarto de casal, como o meu…e que meu vizinho estava em casa quase todas as vezes na hora em que eu saía do banho.

Nas primeiras vezes, confuso e sem jeito ele fechou a janela, num susto. E eu sorri.

Depois, da quita vez, ele começou a me espior detrás da cortina… depois, sacou mais é que eu gostava e simplesmente passou a me assistir de camarote.

Ele era um careca gordinho de óculos casado com uma senhora enorme que, na boa, devia bater nele pelo tanto que gritava com o coitado.

Felizmente, na hora em que nos encontrávamos nem a mulher dele nem meu marido estavam em casa. Eram umas 17h00 e eu me aprontava para ir para faculdade.

Agora nos encarávamos e ele simplesmente assistia de camarote todo meu ritual pós-banho.

A toalha percorrendo cada pedaço do meu corpo, depois eu aplicando creme, sensual e demoradamente para que ele pudesse aproveitar cada segundo.

Tanto eu quanto ele nos deliciávamos com aquilo. Ele me olhando e eu me exibindo.

Fazíamos sempre que possível, no mesmo bat-horário, a coisa começou a ficar quase diária.

Obviamente que começamos a ficar excitadíssimos e eu comecei e me deitar nua na cama e me masturbar…eu aqui e ele lá.

Aí comecei a por uma cadeira na frente da janela e me masturbar pra ele. Abria bem as pernas e enfiava meu dedo indicador fundo na buceta, depois brincava com o o grelo até ter espasmos e gemer alto e revirar os olhos.

Comecei a me atrasar frequentemente para as aulas da faculdade porque fiquei viciada no meu showzinho para o vizinho.

O engraçado dessa história é que, quando eventuamente nos encontrávemos fora dessa situação, nem sequer nos olhávamos.

Eu sabia seu nome porque ouvia a megera da mulher gritar por ele, mas nunca ouvi o som de sua voz.

Ele não sabia o meu nome. E nunca soube.

Eis que meus horários mudaram e nunca mais consegui encontrá-lo numa situação em que nosso showzinho fosse possível.

Depois, com o tempo, me separei e mudei do local.

Mas a sensação de me exibir intimamente para um total desconhecido e não manter com ele vínculo algum é simplesmente indescritível.

Tentei outras vezes em outros lugares em que morei, mas nunca achei um vizinho à altura de minhas taras.

Alguém se habilita?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

YEDA x FAG

# linha de frente #

Protesto não é crime, nenhum passo atrás!
txt: Federação Anarquista Gaúcha

A Federação Anarquista Gaúcha (FAG) agradece fraternalmente a solidariedade que está sendo manifestada e reafirma seus princípios frente ao ocorrido no dia 29 de Outubro, em Porto Alegre. Homens e mulheres livres, dotados de ideais e certos do direito que tem de expressá-los política e socialmente seguem íntegros.

Na tarde do dia 29 de Outubro foi deflagrada a execução pela Polícia Civil do rio Grande do Sul de dois mandados judiciais (Justiça Estadual) de busca e apreensão na sua sede pública em Porto alegre e no endereço de hospedagem do site vermelhoenegro.org na cidade de Gravataí. Em tais ordens constava o recolhimento de material impresso de propaganda, computador (CPU) e demais objetos relacionados à queixa criminal. Os agentes do Estado inicialmente tentaram arrombar o portão conforme testemunho de vizinhos do local, já que a sede estava fechada naquele momento. Após a entrada no local, mediante a leitura do mandado, iniciaram a busca no interior do imóvel por cartazes, boletins informativos e demais documentos ao mesmo tempo em que desligaram o telefone, alegando que durante aquela execução não se pode usar tal meio. O agravante é que além do cartaz requerido pela ordem judicial, no qual a governadora é responsabilizada junto à Brigada Militar (polícia militar estadual) pelo assassinato de Eltom Brum da Silva, levaram o estoque de arquivo de outras produções impressas de opinião política e informação, como um arquivo de cartazes reivindicando a saída da governadora e denunciando a ingerência do Banco Mundial no seu projeto político. Este material é parte da campanha pública deflagrada pela FAG dentro do contexto de uma ampla campanha de mobilização sindical e popular ampla que vem se desenvolvendo há pelo menos um ano neste estado.

Conforme comunicado pelos agentes da Polícia Civil o processo está embasado na queixa de injúria, calúnia e difamação contra a FAG movido pela governadora Yeda Crusius (PSDB) referente ao termo “assassina” publicado em panfletos, cartazes e página web. Também foram apreendidos outros documentos não relacionados ao fato, assim como uma coleção de discos de arquivo de backup e do próprio CPU. Perguntavam por armas e drogas, numa tentativa clara de nos criminalizar assim como sobre quem toma as decisões, quem são os responsáveis, como funciona a FAG, se tem registro jurídico formal enquanto associação ou entidade. Buscavam também, com um segundo mandado semelhante o endereço e o responsável pela página do site da internet, havendo uma ameaça clara de cerceamento da liberdade de expressão também neste veículo assim como da tentativa de criminalização do seu responsável técnico, o qual não foi localizado. O responsável pelo endereço físico do portal foi levado à 17ª delegacia e apreendido neste local – em Gravataí (Região Metropolitana de Porto Alegre) também o CPU do seu computador, um palm-top de uso pessoal e arquivos de documentos antigos da FAG, que permaneceram lá guardados ao longo dos anos, como cartazes, revistas e informativos diversos.

No total, a repressão política impetrada pela governadora terminou identificando e levando para interrogatório a quatro pessoas. As oitivas se deram na 17ª delegacia de Polícia Civil em Porto Alegre, agora seguindo o inquérito, possível indiciamento e posterior processo judicial contra os indivíduos identificados e responsabilizados pela referida campanha pública de difusão de opinião, em nome da FAG, sobre o assassinato de um companheiro do MST na fazenda Southall em São Gabriel (Fronteira Oeste), ocorrido em 21 de agosto deste ano. Reiteramos porem que não apenas os ditos materias ofensivos foram apreendidos, mas vários arquivos de textos e discos, documentos políticos, atas de encontros e reuniões, inclusive objetos já descartados caracterizados como lixo e também que a ameaça de exclusão do site vermelhoenegro.org está clara. Assim, alertamos a todas as companheiras e companheiros, incluindo aqueles que se solidarizam conosco, cientes do motivo caso sejamos excluídos, ou melhor, censurados, em nossa página na internet.

O episódio do assassinato do sem-terra Eltom Brum da Silva, a luta de idéias, a propaganda e agitação produzidas pela FAG sobre os fatos motivaram a queixa de injúria, calúnia e difamação que resultaram em busca e apreensão do material difundido na semana seguinte ao dia 21 de Agosto de 2009. Em São Gabriel, no sul do país, o colono Sem Terra foi covardemente morto com um tiro de calibre 12 pelas costas, havendo inclusive relatos discordantes quanto ao responsável direto pela morte. Este fato é fundamental, já que uma pergunta que fazemos é: independente da patente daquele que segurava a arma com munição letal e da sua intenção ou dolo, não são os governantes os responsáveis pelas polícias e demais instituições do Estado?

No topo da cadeia hierárquica são os governadores dos estados brasileiros os chefes máximos das polícias estaduais (Civil e Militar), portanto é a governadora Yeda Crusius no Rio Grande do Sul, assim como seria em qualquer outro estado do país, a responsável direta por qualquer ato de seus comandados diretos. Mas há ainda outras considerações importantes. As políticas públicas implementadas pelos governos são também responsabilidade de quem as define e executa, mais uma vez representado no seu chefe, o governador. Não somente a fato do assassinato de um Sem Terra em 2009, caracterizado pela própria mídia tradicional como político, mas também as conseqüências das políticas para a educação e saúde públicas, da criminalização da pobreza nas periferias urbanas e no campo, assim como sobre os movimentos sociais e sindicatos são bandeiras legítimas que vários setores do povo organizado vêm levantando a mais de ano contra este governo. Não há casos isolados, mas um endurecimento dos dispositivos de criminalização e repressão brutal a todos estes setores, como por exemplo, na greve dos bancários e dos professores estaduais em 2008 e a tentativa de criminalização da oposição dos servidores públicos liderada pelo CPERS-sindicato, de longa trajetória de lutas. Não podemos tampouco omitir o processo político deflagrado junto ao Ministério Público estadual contra o MST, uma conspiração de Estado, também com o firme propósito de criminalizá-lo.

Outro agravante deste governo são os efeitos a curto, médio e longo prazo do empréstimo com o Banco Mundial, por exemplo, a tentativa de venda da Pampa para os interesses das papeleiras, a prevalência do agronegócio sobre a agricultura familiar e o financiamento direto e indireto dos grupos e corporações nacionais e multinacionais. Enfim, se aplica o plano estratégico neoliberal para o RS publicamente conhecido na agenda 2020 e estas metas são responsabilidades de todos os que compõem o governo com funções políticas (1º, 2º e 3º escalão) e principalmente da governadora Yeda Crusius, evidente defensora do seu projeto de governo, ou melhor, do projeto das elites que a sustentam e dos interesses que estas representam.

Não ignoramos o papel das classes dominantes como agentes decisivos na política e da sua influência no jogo de interesses que caracterizam os governos de turno do estado do RS. Aqui estão presentes os interesses dos latifundiários e do agronegócio e toda sua cadeia depredatória, como a indústria da celulose, o deserto verde, a exploração das reservas de água, a tentativa de criminalização do MST, o fechamento das escolas itinerantes dos acampamentos, etc.. . Também estão em jogo os interesses daqueles que vivem do roubo sistemático contra o povo, da corrupção institucionalizada, da banca estelionatária e criminosa, da velha ordem de tirar vantagem, de desprezar o povo e fundamentalmente seus direitos e sua capacidade de rebelar-se. São inúmeras as denúncias e evidências de corrupção escandalosa assim como foram muitas as tentativas de desqualificar e impedir os sindicatos, as categorias e movimentos sociais de manifestarem seu repúdio, sua opinião.

A política de retirada de direitos dos trabalhadores, muitos deles conquistados orgulhosamente com muito combate desde os sindicatos de resistência há mais de cem anos, não é exclusividade do governo Lula. Aqui no RS o governo Yeda Crusius tomou e vem tomando várias medidas de cerceamento, repressão e criminalização contra os professores estaduais e seu o sindicato (CPERS), assim como de seus dirigentes. As escolas públicas estaduais passaram a ser um negócio entre o governo e organizações privadas, as fundações educacionais, verdadeiras cloacas de dinheiro público com sua lógica de gestão e seus interesses, onde quem ganha são os de sempre e quem perde é o povo. As conquistas de décadas de lutas das categorias dos trabalhadores da educação vêm sendo combatidas arduamente pela atual política para a educação no governo estadual, antes também personificado na figura de Mariza Abreu, ex-secretária de educação, logo também responsável pelas suas conseqüências do projeto que defende.

O CPERS junto a vários outros sindicatos dos serviços públicos estaduais organizados no Fórum dos Servidores e com diversos setores dos movimentos populares, sindical e estudantil vem denunciando e posicionando-se contrários publicamente a essas políticas e suas conseqüências. A campanha, chamada “Fora Yeda”, na qual somamos esforços é onde está contextualizada a luta de propaganda e agitação que motiva o processo contra a FAG.

Queremos registrar a solidariedade que foi manifestada prontamente por vários companheiros, entidades, sindicatos, veículos de comunicação alternativos, da comissão de direitos humanos do MST, do Cpers-sindicato na presença de sua presidente e vice já em nossa sede durante a operação policial, assim como da disponibilização das assessorias jurídicas deste e de outros sindicatos. Temos a solidariedade como um princípio e estamos enaltecidos com tantas manifestações que recebemos e certamente seguiremos recebendo de tantos estimados companheiros, como as já manifestadas pela Confederação Geral do Trabalho (CGT-Espanha) e nossa co-irmã, a Federação Anarquista Uruguaia (FAU).

Nos exemplos de Sacco e Vanzetti reafirmamos que a natureza criminal das classes dominantes, suas elites dirigentes, do sistema capitalista seguirá colidindo com o antagonismo e a vigência de nossas lutas, de nossos princípios e acima de tudo do direito a liberdade pelo qual seguiremos peleando. Com um olhar firme no horizonte libertário que buscamos, com a dignidade de combatentes e a solidariedade com as classes oprimidas, aos povos que lutam, suas ânsias por construir desde o presente caminhos rumo a uma nova sociedade, nenhum passo atrás é a palavra de ordem.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

PEQUENO BANDIDO

# escrituras marginais #

Um retrato do submundo das drogas
txt: Tiago Jucá Oliveira

V. é um carinha que vive no mundo do narcotráfico desde a adolescência. Passou um tempo na prisão e de lá não esquece algumas lições, do tipo "comia massa a alho e óleo e não podia reclamar". Fomos até a baia do cara, que foi logo tirando as cartas das mangas: "tenho o que tu quiser: maconha, haxixe, cocaína. Tem até umas notas de 50. Pra ti eu faço por 20".

Pra minha surpresa, o cara abriu uma dessasa pastinhas plásticas com mais de uma dezena de folhas de papel ofício, cada uma tendo impressa, bem ao meio, uma nota de 50 pronta pra ser recortada e cambiada nas ruas. As ofertas não param por aí. V. tem também chave pra orelhão e um quartinho de fumo por cem conto de reais.

Disse que tinha um pó violento, do qual me ofereceu uma carreira pra dar um teco. Respondi que não curtia, mas ele insistiu pra eu experimentar a qualidade. Diante de minha recusa, ele pediu pra eu passar uma cara na língua. Em pouquíssimos segundos, minha lingua estava toda dormente.

O som que rolava era Cypers Hill, RZO, Thaíde & DJ Hum. Manifestei meus raps favoritos: Public Enemy, 2 Pac, Snoopy Dogg Doggy, Dr. Dre. Pra este último V. fez cara feia porque é um cantor de funk. Expliquei que o cara também faz um hip hop da hora.

"Emoção é comigo mesmo"

Antes de V. me levar à casa de seu fornecedor, fui obrigado a conhecer as minas que o rodeiam. Observando uma delas, pergunto se ela não havia brigado com outra mina um domingo desses no parque. A resposta deixa V. perplexamente feliz: "tu anda brigando agora, mulher?"

Há um porquinho vigiando a zona. Precavido, V. entra na caranga meia quadra adiante. Quando chegamos na baia do traficante, V. entra sozinho.

Volta com uma bola de pó do tamanho de uma de tênis, junto com umas dez bolinhas de haxixe. "Não te falei que eu sou confirmado com o patrão?".

No caminho, V. conta que recentemente pagou dois mil reais pra uns policiais. Ele foi pego com drogas e não queria voltar pra prisão. De acordo com V., ainda hoje ele tem que dar uma grana pra um policial o deixar em paz.

"Quando saí da prisão, fiquei calmo por um tempo. Não usava nenhuma droga. Mas acabei voltando com tudo de novo. Não adianta, eu sou um criminoso. Mas não sou ruim, sabe? Eu não sou mau, faço isso de vagabundagem, pra gastar em besteira. Aqui no bar eu gasto setenta conto por dia. Esses dias vieram uns porco aqui na baia. Eu corrí os cara com o cano. Disse que sem mandato não podem ir entrando assim. Eu tô ligado, meus peso ficam numa outra baia, não deixo nada aqui em casa, só o de consumir. Não dá pra marcar bobeira, dusmeu. Vivo com o cano na cintura ou debaixo da cama. Aí eu fico a noite inteira acordado cheirando uma branca. Caminho por dentro de casa de um lado pro outro, espiando pela janela e jurando que há alguém lá fora me cuidando. Já teve vez que eu chorava de pavor, escondido atrás do sofá, vendo o demônio. Mas eu rezava pra Deus me proteger. Conheci o Senhor na prisão, e todos os dias eu rezo agradecendo a vida que tenho. Já disse, sou uma boa pessoa, rodeado de amigos e mulheres. Quer mulher e drogas? Fala comigo. Dinheiro falso também. Emoção é comigo mesmo"

Fugindo dos homens da lei

"Eu e o F. era, há bastante tempo, visado pelo polícia. Uma noite a gente pegou alguns quilos de pó e de fumo em outro pico. Alguém entregou a gente. Os homens seguiram nossa caranga até nos alcançarem. Foi aquele tiroteio. O carro ficou totalmente baleado. Tõ vivo porque as bala não atravessaram oo banco, mas o F. foi atingido de raspão. Mesmo assim ele manobrou o carro pra direita e pulou um barranco de cinco metros de altura e fugiu dos homem. Mas no outro dia a gente acabou sendo preso"

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

LES JUANITOS



# tapa na orelha #

Exotica

txt: Basket Selector
rsnh: Fabrice Wouters


Eu já havia recomendado o excelente site Jamendo, onde todas obras musicais estão disponibilizadas pra download por vontade dos artistas, e todas também licenciadas em Creative Commons.

Entre uma pesquisa e outra, descobri um som furioso, man! Bagulho doido da porra! Não vou me ater a resenhas. Pode me chamar de preguiçoso. Porém mais marolado é você, se não ouvir isso; ou se ouvir, gostar e não baixar.

Com vocês, a excelente banda LES JUANITOS, e o álbum "Exotica" (download e streaming aqui). Segundo definição do Jamendo, a banda é jazz latin spanish easylistening fusion lounge easy exotica latino samba.

Tá esperando o que, madureira? Abaixo a resenha oficial:

Je décerne sans aucune hésitation à Exotica le titre d'album le plus kitsch de l'année 2001 ! Ce CD, le quatrième de ce groupe de Chambéry, aurait pu être la bande originale de Pulp Fiction... ou de Dirty Dancing.

Pop psyché, rock, mambo, samba, cha cha cha, les Juanitos proposent un étonnant mélange qui fait toute leur originalité. Le groupe est grand fan des années soixante et les références et clins d'oeil aux 60's sont nombreux: des séries B de la télé, à Morricone et Duane Eddy, en passant par le boogaloo et le twist.

Drôle, décalé et enjoué, Exotica donne envie de se trémousser au son des guitares, des congas, des bongos, des tambourins et des maracas. Autant d'instruments qui apportent la touche... exotique à cet album.

Exotica nous emmène vers une île tropicale, sous le soleil et les cocotiers. Tiens, d'ailleurs nos cinq matadors proposent un mini cours de cha cha cha (Apprenons le cha cha cha).

Les textes, en anglais, en espagnol et en français, sont totalement surréalistes: "Yo soy el cha cha man, yo soy el supermán, yo soy el hombre de la fiesta de Sudamérica..." dans El Cha Cha Man.

Mais Exotica n'est pas simplement un album de plus des Juanitos, puisqu'il propose de surcroît les trois précédentes productions du groupe, Surfin' Matador (1992), Do The Cobra (1995) et The Crazy Vibrations of The Juanitos (1997), sous forme de fichiers MP3. Soit pas moins de 66 titres ! Ce qui permettra à ceux qui ne connaissaient pas encore les cinq "timbrés" de Chambéry de découvrir leur discographie délirante.

Sachez aussi que les Juanitos ont déjà planifié leur avenir: quatre albums jusqu'en 2011. Prochaine fournée en 2002 ! Je suis curieux d'entendre ça...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

LIBERDADE

# agência pirata #

Diploma de jornalista: uma questão já decidida
txt: Judith Brito

Duas propostas no Congresso querem - via Constituição - mudar decisão do STF que considerou inconstitucional a exigência do diploma de jornalista para o exercício da profissão

Apesar da recente decisão do Supremo Tribunal Federal de considerar inconstitucional a exigência do diploma universitário de jornalista para o exercício da profissão, tramitam no Congresso duas propostas - uma na Câmara e outra o Senado - cujo objetivo é exatamente incluir na Constituição essa exigência. A exigência do diploma vinha de um decreto-lei baixado pela Junta Militar que governava o Brasil em 1969, no auge da ditadura. Na época, tratava-se de tentativa de dificultar a vida de jornalistas sem o diploma que se manifestavam contra o regime. A perspectiva - felizmente, frustrada - de controlar as escolas de jornalismo também fazia parte do plano. Em junho, o STF decidiu que essa legislação é totalmente incompatível com a Constituição de 88, por ir contra o princípio maior da liberdade de expressão. Agora, pretende-se colocar dentro da Constituição aquilo que a mais alta Corte do país definiu como inconstitucional.

Que fique claro: não há quem seja contra a qualificação dos jornalistas por meio de cursos universitários. Jornalismo é uma atividade nobre, fundamental para a cidadania, pois visa servir a sociedade com a apuração e divulgação de fatos de seu interesse. Quanto melhor preparados os profissionais de jornalismo, melhor para os cidadãos, que terão à sua disposição informações de qualidade para formar suas opiniões, para melhor entender o mundo em que vivem. Os bons cursos de jornalismo, além de ensinar as melhores técnicas para o exercício da profissão nos diferentes tipos de mídia, dão a seus estudantes a formação humanista indispensável para esse papel de interlocução com a sociedade.

Mesmo com a decisão do Supremo, as empresas jornalísticas continuarão a contratar a imensa maioria dos seus profissionais dos cursos de jornalismo. Afinal, se o principal patrimônio de um veículo de comunicação jornalístico é a informação de qualidade, de credibilidade, ele é o maior interessado em ter os melhores profissionais. Tanto é assim que, antes da decisão do Supremo, mas quando já vigorava liminar que desobrigava as empresas jornalísticas de contratarem exclusivamente os formados em escolas de jornalismo, elas prosseguiram na contratação de profissionais com essa qualificação. É assim na maior parte das democracias do mundo, onde não há a exigência do diploma universitário de jornalista para o exercício da profissão, mas existem excelentes cursos de jornalismo.

A decisão do Supremo nada teve a ver com essa questão. Foi uma definição em favor do direito fundamental da liberdade de expressão, que é uma das chamadas "cláusulas pétreas" da Constituição (aquelas que não podem ser mudadas em nenhuma hipótese). Disse o Supremo que a liberdade de expressão não pode ser condicionada de nenhuma forma. Quem quiser ser repórter de um jornal, por exemplo, poderá pretender sê-lo independente da formação que tenha. Da mesma forma que não se pode exigir qualquer condicionamento prévio para quem queira escrever um livro. Esse respeito à plena liberdade de expressão permite que talentos que não tenham diploma de jornalista possam dar sua contribuição ao jornalismo e à sociedade.

Ao definir de forma tão clara e sábia esse alcance da liberdade de expressão em relação ao exercício do jornalismo, o Supremo deu continuidade a outra decisão que havia tomado poucas semanas antes, que foi o histórico fim da autoritária Lei de Imprensa, essa também fruto do regime militar. Naquela oportunidade, o STF já havia apontado o caminho da ampla liberdade de expressão como elemento essencial da democracia brasileira. Houve perfeita coerência entre os dois julgamentos- da Lei de Imprensa e da exigência do diploma- e o coroamento do espírito democrático que queremos para nosso país.

Agora, temos essas iniciativas parlamentares vindo na contramão da história. Na remota hipótese de prosperarem, serão julgadas inconstitucionais pelo Supremo, que já definiu categoricamente a questão. Mais do que isso, contudo, o que espanta é a pretensão de colocar tema tão específico na Constituição, como se ela fosse uma colcha de retalhos, onde cabe tudo: "Já que não pode por lei, vamos tentar na Constituição". O processo legislativo de emenda constitucional não pode ser uma instância a mais de recurso contra decisões do Poder Judiciário. E seria esdrúxulo ter na Constituição uma regulamentação para o exercício da profissão de jornalista, como para qualquer outra atividade profissional. A Carta Maior é um documento de princípios gerais, filosóficos mesmo, e por isso não contém absolutamente nenhum tipo de regulamentação profissional.

Há inúmeras questões que realmente importam no mundo contemporâneo da comunicação e que merecem ações do Legislativo brasileiro, como a da preservação do conteúdo nacional em meio à concentração em âmbito global - tanto de infraestrutura de distribuição quanto de sistemas tecnológicos -, trazida pela nova realidade digital. Não faz sentido e será perda de tempo - diante do claro posicionamento do STF em favor da plena liberdade de expressão - tentar a volta da exigência do diploma para o exercício do jornalismo. Vamos olhar para frente e concentrar nossos esforços e energia na modernização do país e na consolidação dos princípios democráticos.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

FOOL'S GOLD

# tapa na orelha #

Guitarrada americana
txt: Arlei Arnt

DJ Guga de Castro é um já renomado nome da noite de Fortaleza. Dele falaremos numa postagem em breve, a respeito de sua nova empreitada musical. Amigo da redação, Guga nos passou o link de um vídeo. Pra surpresa geral desta arca, foi uma descoberta inusitada. Trata-se de Fool's Gold, banda americana que misturou no caldeirão sonoro uma guitarrada paraense, um tempero afrobeat e uma vaga lembrança de Talking Heads.

O vídeo passado por Guga não é nem um dos dois abaixo. Mas a música é a mesma, "Surprise Hotel", a única que conhecemos até agora, além de alguns remixes feitos pra mesma, embora somente um deles mantem o charme, mas nem tanto quanto a versão original. O clipe é divertido, e o show parece um transe coletivo dos músicos. Observe a guitarra. Por hoje era só isso!

vídeo show ao vivo

vídeo clip



segunda-feira, 19 de outubro de 2009

TIAGO JUCÁ e LATUFF



Uma reportagem produzida por André Oliveira e Jeferson Pinheiro, do Coletivo Catarse, e veiculada dia 19 de março de 2008 na TV Brasil (assista ao vídeo), traz a revista O DILÚVIO como um dos exemplos de cultura livre feita no país. A matéria faz parte da série Outro Olhar, e mostra um panorama do novo jeito de abordar a questão dos direitos autorais. O programa entrevistou Tiago Jucá e Latuff

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

OTTO e BNEGÃO



# conection #
Brasil Rural Contemporâneo

txt, phts n vds: Júnior Godim


Choveu o dia todo, o lamaçal na porta da bilheteria da feira não era muito convidativo, mas valeu chegar na Marina da Glória, local da feira Brasil Rural Contemporâneo (sobre o qual eu falo mais tarde). A Marina é muito legal, com vista pra Baia de Guanabara e tal, mas pra chegar lá a pé é uma batalha. Falam muito sobre sustentabilidade, redução de emissão de carbono, etc., mas fazem uma feira que só se chega de carro...



Essa feira já acontece desde o ano passado, mas nunca tinha me despertado o interesse. Achei que era uma feira de negócios, ainda mais quando vi a logo do Ministério da Agricultura, me deu preguiça de ir. Preconceito puro: uma estrutura gigante, com uma decoração bem bacana, com produtos de todo país (desde roupas até comida, passando por móveis, cachaças, artesanatos) e mais um monte de coisas que não tive tempo de ver. Muito legal mesmo, ano que vem vou checar melhor.

Além do preço ser bem acessível (R$20,00, com meia entrada), o local dos shows (PALCO MULTICULTURAL), era digno de show gringo – iluminação de primeira, som potente, telões de led e edição de vídeos ao vivo, impressionante. Nem o Tim Festival, que cobrava pelo menos 5 vezes mais, tinha essa estrutura.

Os Seletores de Frequência começaram tocando uma base de funk 70, tipo blaxploitation, quando entra o Bnegão no palco com uma guitarra, fala com a galera e manda Funk (Até o Caroço). A banda é foda! Naipe de metais, uma batera fuderoso, percussão, guitarra, baixo estalando no peito, o show não podia ter começado melhor. Seguiram tocando seus clássicos com várias novas bem bacanas, que me pareceram mais pop que o primeiro disco e lembraram bastante o Funk Como Le Gusta. Bnegão até brincou, dizendo que o “segundo disco lendário vai sair em março, nas bancas, com um preço justo, pra não furar o bolso de ninguém”. Vamos esperar.



O primeiro convidado foi Totonho, de quem não sou fã, e cantaram “Tudo pra ser feliz” e “Segura a Cabra”, música de Genival Lacerda, com participação de Chico Correa nos beats eletrônicos, o que deixou a música melhorzinha. Depois entra Siba, ovacionado pelo público, e tocaram “Será”e “Toda Vez Que eu Dou Um Passo O Mundo Sai Do Lugar”. Foda! O público veio abaixo, com muita gente cantando junto. O que me fez pensar na hora: de onde esse povo conhece essas músicas, já que a mídia de massa o ignora completamente? Mas não era hora pra tese-cabeça.




O último convidado foi Lirinha, também ovacionado, com recepção de popstar por parte de algumas meninas, e tocaram “Pedra e Bala” e “Chover”, que virou uma samba-reggae-pesado meio estranho, mas divertido. Tem algumas músicas que ficam piores sem a banda original, fica faltando peso, e as do Cordel são dessas. No final todos entraram pra cantar o verdadeiro “hino nacional, com 509 anos de existência”, a Dança do Patinho. Final apoteótico, que Bnegão emendou num beatbox e o naipe de metais tocou “Minha jangada vai sair pro mar...”. Clássico! (veja o vídeo)



Depois teve uma tentativa de show de Naná Vasconcelos com alguns grupos folclóricos de caboclinho e maracatu que participaram da feira, que virou mais uma intervenção que show propriamente dito. O Naná, apesar de ser gênio, não conseguia se entender muito bem com o povo dos grupos, que pareciam meio deslocados naquela estrutura de show.



Otto entrou tocando “Filha” (assista ao vídeo), do novo “Certa manhã acordei de sonhos intranqüilos”, com a Jambro Band detonando no som. Também, uma banda que conta com Pupillo, Catatau e Bactéria não precisa de muito esforço. Tocando mais algumas novas e dos discos anteriores, o rebolativo Otto parecia bastante feliz, já que segundo ele “tem 5 ou 6 anos que eu não toco aqui, na cidade da minha filha”. O show só não foi melhor porque ele começou a beber muito uísque e meio que se perdeu um pouco, falando muito entre uma música e outra, e coisas sem sentido, ameaçando fazer striptease, gritando no microfone... Uma pena, por que como já escrevi, a estrutura do lugar era muito boa, tinha tudo pra ser tão bom quanto o Bnegão.



Os convidados do Otto foram: Maciel Salú, Danni Carlos e Lia de Itamaracá, que entrou no palco parecendo uma entidade africana, linda! Tocaram várias cirandas com Maciel tocando rabeca, mas como Otto já tava bêbado, ficou meio de qualquer jeito.



Danni Carlos, que cantou “Crua” e quase estragou a música, proporcionou um momento pitoresco na platéia: um grupo de 5 homens, que tomavam cachaça (bebida oficial, já que era vendida na feira), pareciam que tinham caído de para quedas naquele show. Eu acho que eles vieram pra feira de alguma cidade do interior, pelas roupas e pelo jeito como se comportavam: só andavam juntos, sempre bebendo, quando viam uma mulher dançando iam azarar em grupo e com pique de procurar briga. Como Otto dançava e rebolava no palco, começaram a rir e tirar sarro do show, até que Danni Carlos (leia-se “A Fazenda”) entrou. Os cinco foram pra grade, atropelando umas meninas que estavam lá, e ficaram estáticos, tirando foto com o celular e quase babando pela “celebridade” que apareceu. Foi ela sair do palco que eles saíram da grade.



A noite terminou com mais chuva, mais lama, e eu pensando que shows assim, com estrutura bacana e preço justo deveriam acontecer com mais frequência.



quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CALDEIRÃO BH



# conection #
Festival 53HC


txt: Alan Lopes
phts: Alan Lopes e Fernanda Torquetti



No último final de semana Belo Horizonte foi palco de um dos mais importantes festivais de música independente do país, o Festival 53HC, organizado pela loja/selo 53HC, comandada por Barth Ramos, este ano completou 10 anos de existência em grande estilo.

Na sexta-feira, com alguma chuva, conseguimos chegar ao local dos shows. Avistamos de início alguns gatos pingados, tomamos uma cerva quente na porta, e caímos pra dentro. A primeira banda a ser apresentar foi In verso, seguida da Monno e The Folsoms, figuras carimbadas do cenário independente mineiro. Logo em seguida tocaram os curitibanos do Hillbilly Rawhide, trazendo pro público Rockabilly de BH a nata do estilo, diga-se passagem o que não faltaram foram os topetes no meio da galera que tinha ido na sexta. Trouxeram pro palco, além de muita diversão, músicas autorais, através de um contra-baixo e um violino de fazer inveja a muita orquestra sinfônico e levaram o povo ao delírio com uma versão de Highway to Hell do AC/DC.



Terminada a apresentação, o público ainda tava eufórico, quando então entra no palco os hermanos do Motorama, com seus topetes asseados e uma presença de palco fantástica, o trio argentino tocou para um público louco, cantando em coro, os já clássicos da banda, Chicas Finas, Crisis e No Surfrise. Com certeza quem esteve presente no show desses hermanos, ficou com um gostinho de quero mais.



O público ainda estava se recompondo do estrondo que foi o Motorama, quando é anunciada a entrada dos conterrâneos do Manda-Chuva, Jucá, Cachorro Grande, que apesar de estarem lançando seu novo CD, Cinema, tocaram clássicos da banda como Dance, Hey Amigo, Dia Perfeito, Conflitos Existenciais, e no rol das novas tocaram A Alegria Voltou, Amanhã e Ninguém lembra mais de você. Confesso que não estava esperando muito dessa sexta, a galera que subiu no palco mostrou tudo que sabia. Quem acompanhou a festa junto conosco foi a galera do Skank, Henrique Portugal e Lelo Zaneti. Quando terminou os shows já varava a madrugada, e com certeza a expectativa para o sábado estava em alta.

Depois de ter dormido até tarde, estudado e ver mais chuva cair, eu e minha companheira de todos os frevos, como chamam qualquer festa na minha terra, encaramos o percurso novamente para o segundo dia de festival. Fomos agraciados pelo atraso nos shows, fato que também ocorreu na sexta, e, diga-se de passagem, motivo de muita reclamação por parte do público presente.

Como de praxe, as primeira bandas a ser apresentar foram bandas de casa, Deco Lima e o Combinado com sua levada funksoulpunkhiphopsamba e Transmissor, com uma pegada mais pop. No entanto, com o público ainda tímido e pequeno.



O aspecto mudou quando se viu no palco, uma moça com roupa preta de vinil e meia-calça de oncinha, um rapaz topetudo e um baterista de óculos moderno, era o pessoal do Autoramas que começava a botar fogo no palco. A galera toda dançou, pulou e cantaram embalados pelo carisma e energia da banda.



Depois de toda agitação, os belorizontinos puderam curtir um pouco mais de introspecção e muita viagem com os Nova-iorquinos, do Zigmat. Liderados pela bela Mônica Rodriguez, esse grupo que conta com uma miscelânea cultural, retratada na essência de sua musica, mostraram influências que vão do rock à musica eletrônica.



Apesar dos atrasos para o início dos shows, os cariocas do Canastra, atual banda do Rodrigo Barba (ex-los hermanos), fizeram o show mais empolgante da noite, com direito a cover de Redemption Song de Marley. Confesso que não havia escutado ainda, no entanto, sem poder reclamar, porque Canastra é uma daquelas bandas que quando começam a tocar coloca qualquer um pra dançar, ou pelo menos perplexo, cheios de ginga, com um trio de metais fantástico, foi certamente a melhor experiência do festival.

Quando o povo do Canastra saiu do palco já passava das 4:00 horas da matina, horário de verão começando e muita gente já cansada, mas super pilhada pra ver as próximas atrações da noite.



Tocando em seu quintal, Black sonora subiu no palco mais uma vez para animar a festa, destaque para Mâdera, Capoeira Mata um e Treta, que contou com a participação de Renegado.



Quando o Mundo Livre S/A subiu era visível o cansaço da galera, inclusive meu, no entanto, muita gente cantou junto com Fred 04 e companhia, em comemoração ao quinze anos de lançamento do memorável e histórico Samba Esquema Noise. Toda galera cantou Manguebit, Homero, o Jankie, Mêlo das Musas, O mistério do Samba e lógico, Samba Esquema Noise. Confesso que fui embora antes da última música, por já havia passado das 7:00 da manhã, meus pés doendo e com um sono dos infernos. Foi massa ver o M.L.S.A, além de ter batido um papo com os caras, Tom Rocha (Academia da Berlinda) me informou que pretende trazer pra BH sua banda, dependendo apenas de fechar um contato, me deixando eufórico só de imaginar.

Este foi o primeiro fim de semana de festival, que terá continuidade no próximo dia 24/10 e 30/10, com as bandas Ratos de Porão, DFC, Devotos e Móveis Coloniais de Acaju.

To be continued...

terça-feira, 13 de outubro de 2009

SARKOZY PIRATA

# agência pirata #

Sarkozy é flagrado com 400 DVDs piratas
txt: Geek

O presidente francês Nicolas Sarkozy, que defende o polêmico projeto de lei HADOPI - que pretende cortar a conexão do usuários que fizerem cópias ilegais de conteúdos protegidos por direitos autorais - foi pego com 400 cópias ilegais de um documentário sobre ele mesmo, segundo o jornal Le Canard Enchainê.

A publicação diz que o político queria distribuir o material para amigos e diplomatas que participavam de uma conferência na França. A obra “A visage decouvert: Nicolas Sarkozy” foi gravada pela Galaxie Presse, que forneceu apenas 50 cópias originais do filme ao presidente.

A publicação ainda informa que as cópias foram feitas pela própria equipe de recursos multimídia do governo, com direito a impressão de caixas e remoção do logotipo da produtora original.

Segundo o portal The Huffington Post , o absurdo foi tanto que a capa original e o logotipo da produtora Galaxie Presse foram substituídos por informações como ‘Service audiovisuel de la presidence de la Republique’.

Conforme notícia publicada pelo site Guardian.co.uk em fevereiro deste ano, não é a primeira vez que isso acontece: Sarkozy usou repetidamente uma música da banda MGMT em alguns vídeos sem a permissão do grupo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

AI QUE VIDA!



# agência pirata #
O fenômeno "Ai Que Vida!" e a pirataria digital

txt: Marcelo De Franceschi e Leonardo Foletto

O cartaz que abre este post é de “Ai que Vida!”, longa-metragem produzido no Maranhão e no Piauí, 24º filme do jornalista e cineasta maranhense Cícero Filho. É muito provavelmente o primeiro dos 24 que tu deve ter ouvido falar – se é que ouviu. Trata-se de um pequeno fenômeno do cinema (independente) nacional: produzido em 2007, ainda hoje encontra-se em cartaz em alguns cinemas da região Nordeste, especialmente nos estados do Piauí e Maranhão. Em sua semana de estréia, no já longínquo setembro de 2007, fez mais espectadores no Cinema Riverside, em Teresina, do que fez, no mesmo cinema, o badalado Harry Potter e Ordem da Fênix, 5º filme do bruxo criado pela hoje bilionária escocesa J.K. Rowling, em um mês.

Cícero e sua equipe de 25 pessoas começaram as gravações com R$ 800,00 no bolso e uma câmera digital mini-dv, emprestada por uma faculdade de comunicação de Teresina, além de três atores profissionais no elenco. Escolheram como cenário a pequena Amarante, distante 170 KM de Teresina, a capital piauiense, pois segundo o co-roteirista, diretor de arte e Diógenes Machado, :”A cidade é o berço da cultura de nosso estado. A terra do cavalo piancó, do inegualavel poeta Da Costa e Silva, das mais belas construções arquitetônicas do Piauí.“

Com ajuda da prefeitura, que hospedou a equipe de Cícero de graça, e dos moradores da cidade, que fizeram desde figuração até empréstimos de carros e casas para a gravação do filme, vinte e cinco dias depois estava finalizado o processo de gravação do filme. O orçamento extrapolou o inicial e chegou aos R$30 mil. Problema? Que nada, é costume, como de novo nos conta o co-roteirista Diógenes: “Como sempre, pouca gente acretitava no nosso trabalho, só quando terminamos de gravar foi que os empresários resolveram ajudar. Começou a aparecer mil reais dali, cinco mil de um lado, quatro mil do outro e felizmente conseguimos angariar fundos para começar a edição“.

Quatro meses na ilha de edição depois, Ai que Vida! estava pronto para estrear. Mas onde? A primeira rede de cinemas de Teresina que foi procurada pela equipe não topou exibir o filme, nem mesmo numa segunda-feira e com direito a 80% da bilheteria das sessões. “O diretor dos cinemas nos disse que não adiantaria 80% da bilheteria no contrato já que não ia dar ninguem mesmo“, conta Diógenes. Foram duas semanas de negociação, que de nada adiantaram. A equipe tentou outro cinema, o Riverside, localizado num shopping de mesmo nome, que aceitou; ficariam uma semana em cartaz, para ver no que dava. O resultado foi um sucesso estrondoso, com todas as sessões da semana lotadas e mais renda do que um mês de exibição do último Harry Potter. Como prêmio ganharam mais uma semana de exibição, também lotada, e a partir daí o filme se espraiou pelo Cine Praia Grande, em São Luís, capital do vizinho estado do Maranhão, e por festivais de cinema como o de Brasília e da Paraíba.

Dá uma olhada no trailer do filme antes de continuar lendo a postagem:




Através de um patrocínio do Governo do Estado do Piauí, foram produzidas 300 cópias de DVD, que logo foram distribuídas nas locadoras da capital Teresina. Mas a demanda foi maior que os 300 DVDs, tamanha a identificação dos espectadores com a história simples e popularíssima, carregada de citações à cultura local e ao modo de vida das pessoas da região. Então, a própria população tratou de trocar/vender/copiar adoidado os dvds nos camelôs, num fenômeno parecido com o do Tropa de Elite, que já era conhecido de boa parte do público brasileiro quando estreou oficialmente nos cinemas em 12 de outubro – e foi a maior bilheteria no período de uma semana no Brasil em todo o ano de 2007, com cerca de 180 mil espectadores.

A cópia/troca dos DVDs do “Ai que Vida!” não foi nenhum pouco condenada por Cícero, segundo o próprio afirmou em entrevista ao site Cabeça de Cuia:

“Ai que vida” se alastrou, tudo culpa da pirataria. Fico feliz, ao ver que o filme está sendo aceito de forma positiva pela população. Difundir o cinema para a população menos favorecida é um foco primordial do meu trabalho. Meu maior lucro é ver as pessoas comentando que gostaram muito do filme, que se retrataram com o enredo e as personagens!”.




Assim como Tropa de Elite, Wolverine, SICKO e outros tantos, “Ai Que Vida!” é prova de que uma coisa não necessariamente anula a outra. Ou em palavras mais adequadas: que a dita “pirataria” não necessariamente anula a renda obtida no cinema, como querem nos fazer crer os incomodativos comerciais exibidos antes daquele DVD que alugamos na locadora da esquina. Ao contrário, em alguns casos pode aumentar tanto o burburinho em torno da produção que ela vai circular ainda mais, o que fatalmente resultará em mais prestígio ao seu autor, o que, por sua vez, poderá render mais contatos e condições de produção de uma nova (e melhor) obra cinematográfica.

Como já falamos por aqui, a pirataria gera mais grana do que querem nos fazer crer. Nisso, o jurista Lawrence Liang, um hábil indiano que investiga questões relacionadas com pirataria, economia informal, direitos de autor e cultura livre no Alternative Law Forum de Bangalore, tem algo a nos dizer, via entrevista no Remixtures:

Todo o circuito da pirataria cria economias locais bastante dinâmicas. Gera emprego, permite a transferência de tecnologia, possibilita o surgimento de inovações locais. Se olharmos o fenómeno de um ponto de vista de uma economia global da informação, onde somos uma multinacional que controla os direitos de um filme ou de uma música, sim, é mau para a economia. Mas se estivermos interessados no desenvolvimento das economias locais, bem como da inovação local, diria que é algo positivo para a economia.

Pode notar: quem joga a culpa pela “morte da indústria cinematográfica” no vazamento de uma cópia dita “pirata” frequentemente são aqueles cineastas/produtores decadentes que estão vendo seu lucro fácil de décadas se esvaírem em milhares de mãos espalhadas pelos mais obscuros quartos ao redor do planeta. Aqueles que se escondem em castelos encantados por lucros de décadas gerado por multinacionais que se acostumaram a controlar os direitos de toda e qualquer produto cultural que o dinheiro lhes permite comprar.


O casal romântico Valdir e Charleni à frente de todo o elenco do filme


O cenário que se avizinha mui provavelmente permite espaço para todos que souberem aproveitar bem as potencialidades de cada mídia. Como disse Gilberto Gil no final desta postagem, não adianta buscar uma resposta pronta a pergunta-que-não-quer-calar “como vou ganhar dinheiro?. Ao que parece, as respostas estão por aí, escondidas em cada tipo de produção, em cada tipo de mídia, em cada tipo de orçamento, em cada tipo de objetivo desejado. O hábito secular de ir ao cinema não irá acabar duma hora pra outra, substituído pela solitária prática de ver um filme numa tela de 14 polegadas em um sistema de som abelhudo de caixinhas de sons toscas; vai, sim, é dividir espaço com esse novo hábito e outros tantos que surgem (e mais e mais vão surgir) de acordo com as possibilidades e criatividades de cada um.

Para fechar, vale citar o que Giba Assis Brasil, veterano cineasta gaúcho, disse em matéria na revista Aplauso de setembro, que infelizmente só circula no estado do Rio Grande do Sul:

“A industria está perdida. No caso do DVD, estão errando o alvo e deixando grandes corporações criminosas ganharem dinheiro as suas custas. Seria mais inteligente se mudassem a sua política de preços. Ou que arranjassem alternativas para vender cópias pela Internet a preço baixo. Em vez disso, preferem chamar garotos que baixam filmes de ladrões e criar uma ficção segundo a qual o compartilhamento está associado ao tráfico de drogas. Ninguém vai acreditar nisso. Eles vão perder de novo.”

Se relacionamos a fala de Giba com esse post do Remixtures começamos a entender que algumas coisas são mais complicadas do que parecem…


P.s: Antes que nos esqueçamos: se você ficou louco pra assistir ao filme “Ai que vida!”, baixe aqui o arquivo, que está em boa qualidade. E se você gostou também da trilha sonora, não deixa de assistir ao clipe da música tema.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CONVERGIR

# agência pirata #
Cultura da Convergência e o Próximo Passo

txt: Eric Harvey
tradução: coletiva


Se não dá para se ter saudade da caças a bruxas, a era da mídia de massa da música popular tem muito sobre o que se pode ser nostálgico. Em retrospectiva, um menu musical tão limitado significava que havia uma probabilidade muito maior de que a música que você estava ouvindo num momento qualquer estava sendo ouvida por muitos outros ao mesmo tempo. A ideologia da comunidade, mesmo uma comunidade imaginada, é difícil de sacudir – especialmente quando criadas por eventos como Elvis Presley ou os Beatles no “Ed Sullivan”, ou Michael Jackson na celebração “Motown 25″. Igualmente difícil de esquecer são aquelas imagens de jovens absolutamente frenéticas captadas em filme e vídeo – separadas de seus ídolos pelo que deve ter parecido anos luz, elas eram incapazes de se conter ao prospecto de estar à distância de um aceno. O sistema da estrela foi um produto inevitável do modelo de produção industrial do séc. XX que investiu milhões em um punhado de artistas na expectativa de um retorno que poderia subsidiar dúzias de outros.

No lugar do antigo sistema há um novo, que tem sido chamado de “cultura de convergência”. Englobando a hibridização de tecnologias e a colaboração de corporações em uma mão, ele também realça a penetração da própria audiência nas esferas de produção, promoção e distribuição. Muitos acadêmicos, comentaristas e os próprios fãs veem a cultura de convergência como a vitória definitiva dos fãs de música: finalmente a indústria tem que escutar seu público, por que sua estabilidade financeira futura depende disso. Embora haja um pouco de verdade nessa perspectiva, no final ela apenas confunde ainda mais as coisas. Os fãs se tornaram importantes de muitas maneiras que jamais poderiam ser previstas, mas também porque a própria palavra significa agora algo diferente, dependendo de quem esteja fazendo a definição.

Em qualquer ponto no século passado ou similar, é possível, com a diligência adequada, reconstruir as possibilidades para os fãs de música ao se analisar como os domínios dos negócios, da tecnologia e do direito trabalham para moldar o público ouvinte – mediante um trabalho que muitas vezes ocorre ao nível da linguagem. Quando os selos dizem “fãs”, por exemplo, eles muitas vezes querem dizer “trabalho grátis”. As companhias da tecnologia usam o conceito de “interatividade” para marcarar estratégias de marketing que invisivelmente coletam dados demográficos cruciais, enquanto guiam as performances de fãs simplesmente eliminando opções. Advogados, se quiserem ser bem sucedidos, têm de aplicar a racionalidade fria de códigos a comportamentos que são impulsionados principalmente pela paixão. Para funcionar adequadamente (em outras palavras, para ganhar dinheiro), essas três categorias têm de se sobrepor significativamente, com as possibilidades para os fãs ficando em algum lugar no meio, o qual está em mudança constante.

Se considerarmos todos os mitos que se construiram ao longo dos anos ao redor dos Beatles e de Michael Jackson – para MJ, esta é provavelmente uma boa coisa – e, até agora, pelo menos, desconsiderando-se o fato de que eles foram brilhantes músicos, podemos chegar a uma nítida idéia do motivo pelo qual eles têm tanto domínio sobre nossa imaginação. Afinal, sempre houve músicos brilhantes – Por que estes dois tem esse poder por tanto tempo? Uma grande parte da razão reside em momentos históricos específicos em que ambos surgiram, o que lhes permitiu definir novos avanços na tecnologia, arte e indústria em suas próprias imagens.

Tanto os Beatles quanto Michael Jackson emergiram em tempos áridos para a indústria da música – os Beatles, logo após a primeira onda do rock’n'roll, permitiram que o pop sem graça suplantado tomasse nova forma e Jackson, no momento entre as mortes do punk e da música disco e a ascensão do hip-hop, do novo “country” e do alt-rock. Os Beatles aproveitaram-se desta situação, ajudando a definir o que uma banda de rock poderia ser e no que o LP e estúdios de gravação poderiam se tornar. Jackson surgiu quando a MTV estava à procura de outras coisas além de Eddie Money e Rod Stewart para exibir visualmente, e sua obra ainda lança uma sombra contínua sobre a mídia da video music (que os Beatles, não vamos esquecer, ajudaram a criar). Ele era tão admirável de se ver, especificamente, porque trouxe a dança de volta ao pop – inspirado em fontes como o sapateado, breakdance, ballet, James Brown, Fred Astaire e música disco, ele construiu o modelo de pop star polivalente que tantos têm tentado replicar.

Ou, ao menos, é o que nós lembramos deles. A história nunca é feita por atores individuais, ou mesmo por pequenos grupos, mas realizada retroativamente de modo a se encaixar em uma narrativa. É assim que um “fandom” (”Fan Kingdom”, conjunto de fãs) costumava ser construído. Lembramo-nos de nossas conexões com a cultura popular através dos momentos e das pessoas que pareciam alterar a nossa consciência por pura vontade. Nós lhes permitimos substituir o elenco muito maior de colaboradores invisíveis, influências, tecnologias e alinhamentos comercial que lhes possibilitou assumirem a imagem transcendente que criaram.

Essas espécies de lembranças nostálgicas, em grande parte, são facilitadas porque a indústria antiga, baseada na venda de mágica, propositalmente obscureceu todos os colaboradores que, nos bastidores, ajudaram as super estrelas a emergir. Mas agora, nós nos encontramos num momento histórico que nos permite acesso a todos os aspectos anteriormente ocultos da criação musical. Ao invés de abordar esta situação como se a “mágica” tivesse desaparecido, não seria muito mais produtivo aproveitar a oportunidade para criar uma cultura inteiramente nova de ídolos? Em outras palavras, se ser “fã” continuará a ter alguma relevância como uma apaixonada estratégia de escuta, no momento em que sua definição ainda está no ar, está claro que os próprios fãs precisam se encarregar da definição. O primeiro passo neste processo – a criação de novas infra-estruturas e tecnologias – já aconteceu.

O segundo passo é muito mais difícil: usar estas novas ferramentas para lutar contra as restrições ilógicas daqueles que pensam que o antigo modelo ainda é viável e começar a redefinir o valor da música. Estamos condicionados desde o século passado a pensar em música como uma mercadoria. Apesar de sua boa fé (”apoio os artistas”), essa maneira de pensar apenas propaga o mais fundamental ideal do capitalismo: obter mais coisas por menos dinheiro. Mais conhecido como baixar arquivos. Artistas precisam ganhar dinheiro com sua música (se o desejarem) e precisam de um conjunto flexível de garantias legais e tecnológicas para assegurar isso. Mas estas garantias precisam ser suficientemente flexíveis para permitir aos fãs usarem sua inteligência coletiva e paixão para ajudar os próprios artistas, sem serem explorados, ou colocados em um script ideal para atores aposentados. Se a esfera pública moldada por mp3s pudesse, de forma colaborativa, reimaginar-se não como uma audiência ou um mercado, mas como membros de uma sociedade civil, que sentem merecer uma participação na sua própria cultura; então as regras, daqui por diante, e nossa apreciação dos valores sociais e afetivos da música deverão emergir como os próprios mp3s: de baixo para cima. Há muito descobriu-se a forma de se obter e fazer a música circular. Agora vamos fazer algo com isto.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

YES WE CRÉU




# agência pirata #
As Olimpíadas no país sem direito ao esporte


txt: Bruno Lima Rocha


Na sexta-feira dia 02 de outubro, o país dos extremos viveu mais um contra senso. O governo de Lula, o mesmo que cortou em 85,69% o orçamento do Ministério do Esporte (ME) para 2009, comemora a realização de uma Olimpíada no Brasil. Entramos em júbilo quando o Rio de Janeiro foi eleito como cidade sede das Olimpíadas de 2016. O presidente fez-se acompanhar por um verdadeiro séquito de atletas, ex-atletas, dirigentes esportivos, personalidades, ministros e políticos no exercício do mandato. Autoridades choraram copiosamente e cantaram com desenvoltura. Tudo estaria perfeito, caso não faltasse o principal elemento. Na festa olímpica brasileira, faltou o direito ao esporte.

Logo após o anúncio acompanhei toda a mídia possível, com especial atenção aos críticos da realização dos Jogos. A preocupação majoritária, muito justa por sinal, era a de superfaturamento das obras no Rio, a julgar pela balbúrdia no Panamericano de 2007. Infelizmente, nenhuma palavra foi dita a respeito do Ministério do Esporte, seu orçamento ínfimo e da ausência do esporte olímpico como base da educação física brasileira. Trata-se de um problema de fundo estrutural e não vejo autoridade neste governo de turno ou nos anteriores com disposição para aí intervir.

O Estado brasileiro faz tudo ao contrário. A educação para o desporto não deveria ser uma atividade vinculada somente à Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEED), órgão da pasta comandada pelo ex-presidente da UNE, Orlando Silva Jr, mas sim como parte do orçamento do Ministério da Educação. Subordinadas ao ME, as práticas desportivas ficam restritas a ações de tipo terceiro setor e repartindo as migalhas de um orçamento que, segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), em março deste ano foi reduzido de quase nada a nada, passando de R$ 1,37 bilhão para míseros R$ 196,8 milhões. Dentro deste parco recurso está a SNEED com os programas Segundo Tempo (com extensão para o Recreio nas Férias) e Programas Esportivos Sociais (PES projetos especiais para criança e adolescente). Ambos têm como base parcerias de entidades privadas, sendo que o PES é essencialmente financiado pela isenção fiscal. Ou seja, se não há universalização, não há política pública.

Estas atividades não deveriam passar pela via crucis de editais e entidades proponentes, mas sim existirem como disciplinas de contra turno da rede pública de ensino fundamental e médio. Se a prática de modalidades olímpicas é um direito, a juventude brasileira não poderia jamais ser vista como “público alvo” de projetos terceirizados. Ou a nação assegura esse direito através da motivação pelo empreendimento olímpico, ou não resolveremos este problema jamais. É a partir de agora ou nunca.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

MUSIC RULES

# agência pirata #
Música Digital e Direito Autoral

txt: Eric Harvey
tradução: coletiva


Numa época em que tudo o que se relaciona às instituições, rituais e valores da música popular se encontra num estado de fluxo sem precedentes em virtude de mp3s, qualquer preço é justo pela música digital, certo? A Apple de certa forma emergiu como um determinador de preço – antes U$ 0,99, agora US$ 1,29 – para singles digitais adquiridos legalmente; mas cortes federais tomaram para si a atribuição de fixar o valor de mercadorias ilegalmente obtidas. Que tal U$ 22.500 por cada mp3 ? Tal foi o montante a que Joel Tenenbaum – um graduando da Boston University – foi condenado a pagar por um juri por cada download admitido durante seu julgamento recentemente concluído. No início deste ano, a sentença aplicada a Jamie Thomas-Rasset, uma mãe de Minesota, foi ainda mais ridícula: US$ 1,92 milhões por 23 músicas, perfazendo US$ 80.000 por música. De tão ilógicos, tais números, determinados por raciocínios tão arcaicos, são surrealistas. Trata-se de um satânico domínio do absurdo, comparável ao senador Iselin colhendo de uma garrafa de ketchup o número de comunistas no congresso em Sob o domínio do mal. Talvez o mais assustador seja que advogados tenham se tornado, neste quadro, a mais lucrativa categoria de intermediários musicais a emergir nesta década.

Após nove anos e cerca de 20.000 processos movidos pela RIAA depois do primeiro caso contra o Napster em 2000, os julgamentos de Tenenbaum e Thomas-Rasset claramente complementam o quadro do direito relativo ao mp3 nesta década. Face às abundantes evidências de que processar ouvintes não resulta em nada salvo rechear seus cofres e pagar seus advogados, grandes gravadoras recusam-se a abandonar seu propósito de intimidar quem baixa. Trata-se de uma estratégia estúpida, da qual julgo estarem cientes, mas ao menos eles estão reconhecendo um dos pressupostos básicos da lógica legal. Do mesmo modo como a tecnologia é uma força social criada por humanos com poder para expandir ou restringir o que somos capazes de fazer, tal se dá com o direito. Se a lei dos direitos autorais pudesse nos convencer de que música, uma das mais inerentementemente colaborativas formas de expressão, deva ser regulada por um estatuto baseado no ideal romântico do autor solitário; e que um desses indivíduos sozinhos possa de fato ser o Universal Music Group, no que mais poderia nos fazer crer?

Na verdade, em muitas coisas. Especialmente quanto a como nos conhecemos em relação à música. A propriedade intelectual tem se expandido rapidamente por todos os cantos de nossa vida diária durante as últimas décadas, dando dois grandes passos até chegar à situação atual. Primeiro, a indústria do entretenimento percebeu, sob Ronald Reagan, que suas commodities culturais, se pudessem ser protegidas contra redes piratas estrangeiras, poderiam ser uma imensa fonte de lucro para os EUA no nascente mercado global. Segundo, Bill Clinton e Al Gore reconheceram, no início dos anos 90, que a “supervia da informação” era de fato um mercado vasto e superpopuloso, deixando a midia corporativa e seus advogados esboçarem a mais radical revisão do direito autoral desde que sua versão britânica foi adotada em 1790. O Digital Millenium Copyright Act, aprovado em 1998, redefiniu o ato de copiar uma música ou álbum como equivalente, mais ou menos, a ouvi-lo(a) – se baseando no fato tecnológico de que quando alguém clica duas vezes em um mp3 no iTunes, tecnicamente duplica a música na memória RAM de seu computador por toda sua extensão. Logo, cada vez que você ouve uma música em seu computador, está, de acordo com o DMCA, violando a lei dos direitos autorais.

Então, há o “não tão querido” defunto DRM. O DMCA permitiu aos proprietários de direitos autorais embutir o código em cada mp3, restringindo determinadas formas de ouvir antes mesmo que o consumidor legal pudesse pensar sobre elas. Ele também tornou ilegal remover essas restrições. O “equilíbrio” determinado constitucionalmente entre a proteção de direitos autorais e o uso justo, em outras palavras, já não estava a ser decidido por argumentos judiciais bagunçados, mas imposta pelo código digital criado por empresas de tecnologia. Esses inofensivo agregados de zeros e uns, iconicamente representando o trabalho criativo de muitas pessoas, estava te encarando de volta, com o pleno conhecimento de que você estava prestes a fazer algo ilegal. Como tais, elas se limitavam (porcamente no entanto) a cinco outros computadores, tendo como resultado a imposição de restrições artificiais aos rituais sociais que tinham permitido à música sobreviver e circular por milênios.

O que o DRM nos ensinou durante a sua vida curta é que para a lei funcionar as pessoas têm de acreditar nela. Isso não precisa de um desvio contracultural no nível do Pirate Bay, mas a simples idéia de que as regras estabelecidas são baseadas em bom senso e não na lógica fria de balanços corporativos. Os selos e os seus sócios lobistas da RIAA não são estúpidos, eles estão apenas desesperados. Eles sabem que quando as coisas não são lógicas, a forma mais inteligente de levar as pessoas a assinar embaixo é começar jovem e misturar a retórica da educação com uma porção razoável de alarmismo passivo-agressivo. Eu lhes ofereço “Music Rules“, um conjunto de material impresso para professores, que certamente não precisam de mais arcabouços externamente sancionados lhes dizendo como ensinar, muito menos de um que recorra a uma pedagogia construída para criar submissão irrefletida a uma lei ilógica. Aqui está um trecho real – isso não é uma piada – que recorre ao alarmismo da Guerra-Fria e a um termo novo, estrategicamente escolhido (songlifting, “furto de canções”) pelo seu efeito retórico:

Agora, descubra se o furto de canções é um problema real em sua comunidade. Use esta tabela para entrevistar membros da família e amigos sobre onde eles obtêm música. Traga os seus resultados de volta pra classe e compare-os com os de seus colegas. Use seus dados para descobrir quanto o furto de canções ocorre entre as pessoas que você conhece. Veja por si mesmo, completando o cálculo abaixo.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

TOP 10 SETEMBRO 2009





10 termos mais pesquisados na internet e que chegaram até aqui pro blog

1. Foder
2. Putas a foder
3. O DILÚVIO
4. Putas
5. Dilúvio
6. top 10 músicas agosto 2009
7. revista O DILÚVIO
8. Rafael Crespo
9. Se nada mais der certo download
10. Putas a pinar


10 músicas mais ouvidas em O DILÚVIO Space Radio

1. Michael Jackson n Olodum - They Dont Care About Us
2. Zumbira - Ainda Bem que Tenho a Nega
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009

P2P

# agência pirata #
Armazenamento, Compartilhamento e The Recording Angel

txt: Eric Harvey
tradução: coletiva


Em seu maravilhoso livro de 1987 The Recording Angel, Evan Eisenberg faz a pergunta: “O que aconteceu exatamente quando a música se tornou uma coisa?” Ele começa a respondê-la nos apresentando Clarence, um excêntrico amante da música que amontoou todos os cantos de sua casa suburbana com discos. Embora ele acumulasse discos obsessivamente, Clarence não via a si mesmo como um “colecionador”. Ele explica: “Minha idéia original … era compartilhar minha coleção com todo mundo. Você sabe, colecionadores – pense em colecionadores de pinturas a óleo – eles não fazem isso, eles compartilham apenas com eles mesmos. Compartilhe com todo mundo!” Para provar, ele acha Shall We Dance e A Damsel in Distress em cima da geladeira Frigidaire e força um Eisenberg inicialmente relutante – que havia mencionado anteriormente que ele era um fã de Astaire/Rogers – a levar os discos pra casa consigo. Clarence não agiria de outra forma. Ele era um acumulador, certo, mas acima de tudo Clarence era um compartilhador. Eisenberg abre seu livro com Clarence porque ele representa as possibilidades sociais da música-como-uma-coisa, tanto quanto as aquisitivas.

Cara, lembra quando pessoas como Clarence eram diferentes? Ele tinha pilhas de discos em seu forno, porque o espaço físico em que ele vivia não conseguia acomodar sua paixão pela música. Ele ganhava menos de US $ 300 por mês, e mesmo assim comprava discos. Duas décadas mais tarde, uma quantidade de músicas 10 vezes maior do que Clarence jamais poderia imaginar, não só não ocupa casas suburbanas inteiras, mas cabe em dispositivos menores do que rádios transistores. Pessoas com esta quantidade de música não só não são estranhas, mas os dispositivos que utilizam para o armazenamento atuam como símbolos de status. Esta pode ser a mudança social mais profunda da era do mp3: o acúmulo e partilha de música passaram de uma atividade de excêntricos para o modo padrão de apreciação musical para milhões. Pessoas como Clarence existiram porque os discos registravam o intangível e efêmero som da música em objetos, permitindo que aquela música fosse vendida, comprada, e colecionada. Os mp3s tiraram a música de objetos, liberando-a para mover-se e reproduzir-se em formas que os objetos físicos, e a indústria que eles apoiavam, nunca permitiriam.

Se deixarmos, as novas tecnologias alteram nossas certezas ao ponto em que tudo que faziamos rapidamente fica bizarro. O anúncio do Radiohead de um novo álbum em outubro de 2007 fez parecer, por pelo menos alguns dias, como se a maior banda da década tivesse encontrado uma forma de misturar a nostalgia dos velhos tempos do mercado unificado (os anos 90) com um inovador modelo econômico que escapava totalmente ao mercado. A façanha “pote de gorjetas” do seu In Rainbows foi um dos poucos momentos nos últimos 10 anos onde honestamente pareceu que todo mundo ficou empolgado por um novo lançamento – um que ninguém tinha ouvido, que a maioria não sabia sequer que estava saindo – exatamente ao mesmo momento. Foi um grande choque porque mp3s há muito haviam aberto o buraco de minhoca temporal no continuum espaço-tempo da música. Em 2007, a maioria de nós estava bastante acostumada a um estado de coisas em que a música intangível adquire valor antes mesmo de ser prensada em CD ou LP – isto é, antes que ela tivesse até mesmo existido, na década anterior.

Estranhamente, esse efeito especial de mp3s e redes de compartilhamento – onde a informação viaja muito mais rapidamente do que os bens materiais – mais se assemelha ao do telégrafo nos mercados de commodities do século 19. Antes dessa inovação – o bisavô da Internet – os mercados individuais com base nas grandes cidades estavam separados por centenas de quilômetros, e mercadorias só viajavam na velocidade das ferrovias. No entanto, porque a informação sobre as condições de colheita podiam chegar através do telégrafo exponencialmente mais rápido do que as colheitas reais, a troca de dinheiro por mercadorias físicas foi amplamente substituída por um mercado de futuros, baseado no que iria acontecer. Em outras palavras, o espaço foi eliminado em favor do tempo, por uma nova rede rápida. As apostas podem ser muito mais baixas no jeito que mp3s e compartilhamento reorganizaram o mercado da música, mas a idéia básica é a mesma. Dentro do mercado de futuros musical os vazamentos são negociados como mp3s através de peer-to-peer e blogs, muitas vezes adquirindo valores inflacionados antes de seus equivalentes físicos chegarem às prateleiras das lojas. Eles estão agregados na Hype Machine, o índice Dow Jones para este novo domínio de valor musical em que as formas primárias de capital são cultural e social, não monetárias.

Este novo sistema de comércio de música digital mais diretamente ameaçou o antigo pela eliminação dos intermediários – varejistas de lojas de CD, críticos musicais da imprensa, distribuidores de independentes, o rádio – substituindo por meios mais baratos e flexíveis como redes interpessoais de compartilhamento peer to peer, blogueiros e sites como Rapidshare, MySpace, Last.fm ou Pandora. O antigo modelo industrial era um sistema fechado, impermeável a infiltrações e projetado para retornar lucros diretamente a si próprio (para mais detalhes, confira o segundo capítulo de Ripped, de Greg Kot, ou todos do excelente Appetite for Self-Destruction, de Steve Knopper). Afora pontos de vendas oficiais como iTunes, eMusic e Amazon, o novo modelo em rede é quase o contrário: radicalmente descentralizado, oferece poucas barreiras à entrada, dispersando qualquer lucro monetário, por menor que seja, entre pessoas e entidades que, em sua maioria, não possuem qualquer interesse em perpetuar o atual modelo da indústria fonográfica.

Ao mesmo tempo, no entanto, a circulação global de mp3 é um dos mais populosos mercados culturais que jamais existiu. Ainda que o mp3 possa ter pulverizado a música em milhões de pequenos pedaços, cada um deles parece ter encontrado um publicitário. O fã musical médio posui agora uma dupla capacidade como promotor e distribuidor numa arena sempre crescente que faz e elimina regras a cada minuto, incluindo a necessidade de novos intermediários críticos (e, muito raramente, mulheres críticas) a se intrometer e fazer sentido das coisas. Não foi, é claro, por acaso que a própria ascensão do site de recomendações Pitchfork coincidiu com a superabundância do mercado mp3, ou que blogs mp3 emergiriam como uma rede eclética de fãs musicais no início da década.

De fato, um dos mais subestimados efeitos do mp3 é sua democratização ostensiva da função crítica. Antes que cada álbum começasse a vazar das fábricas ou arrancado de contas de armazenamento online, resenhadores musicais credenciados eram os únicos fora da indústria com o privilégio de escutar álbuns completos bem antes de suas datas de lançamento – uma necessidade inerente aos igualmente longos ciclos da imprensa e dos calendários promocionais dos selos. Vazamentos incomodam, que fique claro. Acontecerão, todavia, gostemos ou não. Então, se pensou, por que não se tentar torná-los algo produtivo ? Uma das premissas da cultura do vazamento era a possibilidade de que mil novos Greil Marcusese e Robert Christgaus, criticos renomados, florecessem – centenas de novos críticos-fãs, ou fãs-críticos, começando conversações sobre música que fossem acessíveis a qualquer um, mobilizando leitores-ouvintes suficientemente ao ponto de comprarem música do mesmo modo pelo qual o rádio e a imprensa o faziam. Até certo ponto isto aconteceu, e ainda acontece: busca cuidadosa e clicagem curiosa em listas de blogs revelarão muitos blogs musicais maravilhosos, em estilos que variam do pessoal ao acadêmico, com autores dizendo coisas mais pungentes, sofisticadas e engraçadas do que muitos escritores “profissionais”.

No transcorrer da década, entretanto, o grande número de blogs mp3 começou a ultrapassar a quantidade de escrita e conversação sobre música. Se começaram por mesclar zines com rádios pirata, no início de 2005 a cobertura em grandes jornais e revistas musicais levou à maldição de qualquer subcultura: a exposição generalizada. Como resultado, milhares de novos blogs foram criados nos anos seguintes, incluindo os que imitavam os blogs de fofocas, postando uma dúzia de atualizações ao dia e vendendo espaço publicitário. Quando a velha guarda de fontes críticas e promocionais secou, selos e empresas de RP rapidamente desenvolveram estratégias para redirecioná-los em troca de acesso a faixas pré-selecionadas para promoção gratuita. Como resultado, blogs de mp3 se tornaram um dos principais exemplos de modelo promocional curado, em pequena escala, refletindo preferências de blogueiros individuais e o giro incrivelmente rápido da economia de atenção indie. Pode-se argumentar que a primeira era industrial do rock durou exatamente 50 anos, de 1955 a por volta de 2005, o ponto de inflexão do ipacto da Internet, cinco anos após o TRL (”Disk MTV”) e a última bolha pop estourada.

Se, como tantos artigos na imprensa sustentam, o número de “formadores de gosto” proliferou exponencialmente através do acesso irrestrito à música, isto significa que, em média, preferências individuais também estejam em alta. É difícil contestar tal fato a não ser por meio de evidências anedóticas. Conquanto a Internet não represente “o mundo”, havendo ainda muitos sujeitos satisfeitos apenas mantendo seus velhos hábitos, aqueles que acompanham a evolução da música online tem a capacidade de se transformar em pouco tempo em honestos diletantes musicais ou, por vezes, em respeitáveis especialistas. Ampliando-se o olhar ao conjunto, tal tendência se afigura diferente, e menos otimista. O ideal seria que uma nova rede de amantes independentes da música tivesse consagrado diferentes tipos de música, ou mesmo descoberto novos, do mesmo modo que rock’n’roll nascente, honky tonk, bluegrass e R&B se beneficiaram do 45 rpm. Mas online, novos gêneros correm risco de serem estrangulados no berço antes que qualquer um saiba que existam e as pessoas estão “fartas” de novos álbuns antes que suas capas sejam aprovadas. Este aspecto de compressão do tempo da cultura musical baseada no mp3 não advém naturalmente da tecnologia em si – resultando, outrossim, de muitas pessoas deixando publicamente, ao mesmo tempo, de resistir a seus mais básicos impulsos de aquisição. Experimentar música em pequenos e interminaveis goles é, certamente, excitante. Mas está longe de ser sustentável.

Parte de mim quer chorar, como tantos críticos, pelo que “poderia ter sido”. Outra parte sabe, entretanto, que não há por que chorar sobre uma meta utópica. Tal como é, a esfera do público musical criada pelos blogs mp3 e filtrada através da Hype Machine é mais variada e aberta à participação de uma audiência baseada em gosto do que o modelo industrial norte-americano tem sido em anos recentes (apesar de bem distante de como foi durante a maior parte da era do rock) e uma crescente quantidade de musica de todo o mundo vem obtendo mais exposição do que se poderia imaginar há apenas uma década atrás. Então não me entristece que revistas e jornais estejam morrendo; me entristece que crítica musical e jornalismo estejam ameaçados. Me entristece que editores, anunciantes e empresários tenham estado incrivelmente atrasados por tanto tempo, apegando-se cegamente a um modelo crítico ultrapassado, deixando tantos escritores talentosos no limbo. Pessoas expressando suas preferências musicais para uma audiência ávida nas horas de folga de seus empregos diurnos é uma coisa e certamente uma coisa muito boa. Concomitantemente a estes sujeitos, precisamos desesperadamente de pessoas a serem pagas para escutar, discutir, contextualizar e criticar música em tempo integral. Até que alguém descubra como fazer com que isto funcione, uma cultura musical permanecerá machucada. A imprensa está morta: longa vida à crítica.

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