#CADÊ MEU CHINELO?

terça-feira, 30 de junho de 2009

UM NOVÍSSIMO JORNALISMO



# agência pirata #
Jornalismo em um mundo em transição

txt: Ronaldo Lemos
art: Andy Warhol



Em paralelo às notícias da morte do Rei do Pop, outra notícia que ganhou destaque em menor escala foi a de que as TVs, os rádios e os jornais do mundo foram "furados" pelo site TMZ, especializado em fofocas de celebridades.

Enquanto a mídia tradicional lutava contra o tempo para confirmar a morte do astro, o TMZ já proclamava que ele havia sofrido uma parada cardíaca. E, pouco tempo depois, destemidamente afirmava que Jackson havia morrido.

Essa notícia paralela chama a atenção por pelo menos dois pontos. O primeiro é o mais óbvio. A internet, em toda a sua diversidade e complexidade, estabelece um canal direto muito mais rápido para a produção de notícias. Cada vez mais, ela terá impacto mais direto na esfera pública.

A criação de "notícias", antes privilégio da mídia tradicional, tornou-se e irá se tornar cada vez mais descentralizada, valendo-se de Twitter, Facebook, YouTube, blogs, celulares e o que vier depois. Esse fato, em si, chama para a reinvenção da mídia tradicional. É preciso se reinventar para não se tornar caixa de ressonância do que todo mundo já ficou sabendo antes. Já vi teses de doutorado e editores de jornal dizendo que a situação atual é a inversa. Que a internet é a caixa de ressonância da mídia tradicional. Há um quinhão de verdade nisso. Mas a tendência, como o caso Michael Jackson denota, é que a situação se inverta.

O segundo ponto é verificar que o TMZ, que vem sendo apontado como herói das "novas mídias", na verdade é ligado à Time-Warner. Nada mais mídia tradicional do que isso. No entanto, vale notar que seu formato é muito mais próximo de um blog/tablóide do que de um jornal tradicional.

É como se o navio Time-Warner tivesse lançado uma lancha de alta velocidade no oceano das notícias. Essa "lancha" não tem as amarras do jornalismo tradicional, pode se mover a uma velocidade muito maior e, sobretudo, não tem de obedecer aos protocolos de segurança do grande navio.

Em outras palavras, as regras de cautela, apuração e confiabilidade não são as mesmas para o site. Ele pode correr riscos. E, por conta disso, por ser um produto híbrido entre nova e velha mídia, talvez tenha sido destemido ao afirmar com tanta segurança a morte de Michael Jackson.

A morte de Michael Jackson e a forma como foi noticiada simbolizam um mundo em transição. Ninguém sabe ainda para onde irá o jornalismo e como será formada a esfera pública nos próximos anos. E os desafios são enormes. Como reinventar não só as formas de participação, mas também uma ética nova para a rede, uma ética que não seja nem ingênua nem obsoleta? E que não seja imposta, mas sim construída.

O fato é que não existe marcha a ré nesse processo, para desespero dos saudosistas e das viúvas do velho mundo. Vamos ter de aprender a reinventar tudo a 1.000 quilômetros por hora. É hora de experimentação. É hora de renovação de paradigmas. E de lembrar que o mundo em que foi possível existir alguém como Jackson não existe mais.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

BLACK OR WHITE? GRAY




# manda chuva #
Bye, Mike

txt: Tiago Jucá Oliveira

Eu era um piá de bosta e pela primeira vez pisava meus pés de patos em Sampa. Naquele fevereiro de 1984, eu mais meus pais e ermãos voltávamos da casa de minha vovó em Fortaleza, e fizemos uma escala de 10 dias que abalaram o meu mundo. Na capital bandeirante, fomos visitar meu tio Chico, antes de retornar a Sanch Fritz.

Leandro e Rogério, meus primos, só queriam saber de dançar break e de ouvir um tal de Michael Jackson. Eu, na época, morava numa colônia alemã, pra onde meu pai havia sido transferido, distante 500 milhas da capital petropolitana. Então imagine comigo: guri novo, residente numa pequeníssima cidade de maciça imigração germânica, na divisa com a Argentina, tri distante de Porto Alegre, longe demais das capitais. Haveria alguma hipótese de conhecer e gostar de Michael Jackson?

A princípio aquele som e aquela dança não me soaram tão bem, era macaquice de meus primos e seus amigos de rua. Bastou uma ida às regiões centrais de São Paulo para notar que a cidade era um verdadeiro thriller. Aos ouvidos e olhos quase só havia espaço praquela onda contagiante. Mike já era rei.

Sábado agora a MTV reprisou um especial sobre o astro produzido naquela mesma época pra emissora gringa. E nessas horas, a morte de Mike pelo menos tem uma curiosidade legal: a releitura da obra. E redescubro meus oito anos de idade, de olhos arregalados, perdido na grandeza duma megalópole que recém adotava uma nova trilha sonora.

O que dizer da trípice funkeira 'I Want You Back', 'ABC' e 'The Love You Save', dos tempos de Jackson Five? Desde menino, Mike já era fabuloso. O pequeno príncipe era um gênio em três aspectos: voz, dança e expressão. Diante dos holofotes, dançava e cantava sem nenhuma timidez.

Durante quase uma década, me distanciei de Mike. Nossa amizade foi refeita no dia em que vi numa loja um CD dele. Thriller. Como eu não poderia deixar de ter o álbum que mais de 100 milhões de personas do mundo inteiro tinham. Redescobrir "Billie Jean" e "Beat It" foi fundamental no meu DNA musical.

Há uma segunda separação de meus ouvidos com o jackson beat. O reencontro se dá quando viro músico e DJ. As duas músicas citadas no parágrafo acima entram definitivamente no meu set list pra nunca mais sair. Certa vez, numa festa, vem aquele estereótipo de menina hiponga reclamar pra mim: "tira isso e põe um Mutantes ou um Raul". Dei nos dedos: "a festa do PSOL não é aqui". Não sei o que é pior: o preconceito contra música pop universal (Madonna, New Order, Prince) ou contra música popular brasileira (Odair José, Wando, Wanderley Andrade, Calypso, Zezé di Camargo e Luciano).

E eis aqui eu, entre encontros e reencontros com o maior astro da música de todos os tempos. O cara que botou os Beatles no chinelo, nos mostrando o que é música de qualidade, e não ieieiê. Agora que ele se desencontra definitivamente do mundo, eu prometo que não o deixo de lado jamais.

Ouça nossa homenagem a Mike em O DILÚVIO Space Radio. Versões originais, versões inusitadas, dubs, instrumentais, mixadas e mashups. Seleção musical by DJ Basket Sound System.

domingo, 28 de junho de 2009

MAIS +ou- MENAS #007

FISL, PORTO ALEGRE, BRASIL
que dia é hoje?

O único caderno dominical publicado no sábado e lido na segunda





TAPA NA ORELHA

dj basket sound system

editor sonoro de O DILÚVIO Space Radio

Acabo de conquistar dois espaços ao mesmo tempo. Uma coluna no caderno dominical +ou- e outra no blog Chicultura, também semanal. Minha função é fazer o que mais curto: ouvir música e indicar os caminhos pra tomar um bom tapa sonoro na sua orelha, prezado cágado ou prezada pomba.

E pra de começo de conversa, quero indicar o site Jamendo, que tem um acervo de mais de 20 mil álbuns disponibilizados em Creative Commons por artistas e bandas de todo o mundo. Entre tantas coisas, encontrei disponível um álbum Latino Tracks vol. 1, do Flu . Uma licença em CC é bom pra quem baixa tanto quanto pro artista. Pra quem curte pesquisar, ir a procura de novos sons, entre no site e se divirta.

  


Disco novo na parada. A banda Luisa Mandou um Beijo tá com novo trabalho. Não é muito a minha praia, mas talvez você possa curtir. É um rock levado. Mas a banda é boa, as músicas tem corpo e está bem produzido. É só uma questão de onda. Saiba mais no myspace da banda. Vale por "A Odalisca e o Pirata".

Sensacional é como defino a banda Instituto Mexicano del Sonido (ou Mexican Institut of Sound). Os chicanos mandam bem na explosão de latinidades e eletrônica. O verdadeiro tapa na orelha pra fazer jus ao nome da coluna. Procurem no oráculo pelo novíssimo CD dos moleques, Soy Sauce. Os porros caribenhos fizeram efeito na aparelhagem. Viaje ao som de "Sinfonia Agridulce". De curiosos títulos, "White Stripes" e "Karate Kid 2". É video-game com salsa. Acesse o myspace do MIS.



Quem lança EP e está perto de acabar o segundo disco é CéU. O EP, Cangote, tem apenas quatro músicas e já dá uma breve noção do que pode ser "Vagarosa", novo disco da cantora e previsto pra ser lançado em breve. Tá menos Beto Villares e mais Sonantes. Não que isso seja melhor ou pior. Mas a característica samba cede espaço a etiqueta jamaica, embora rótulos nem sempre são bons. Quer saber mais? Ouça a página de Céu no Myspace.







PIRATE BAY

Aracele Torres

colunista do Trezentos


Suécia: Tomas Norstrom não foi tendencioso. Brasil: Peter Sunde: Continuem a copiar!

Como se já não bastasse os absurdos de ter condenado os quatro administradores do site The Pirate Bay a um ano de prisão, ter estipulado o pagamento de cerca de 3,6 milhões de dólares em multa e depois ter congelado suas contas bancárias, agora a justiça sueca recusou a apelação feita pela defesa do TPB, que alegava que o juiz responsável pelo caso teria sido tendencioso.

Os advogados do TPB haviam pedido um novo julgamento tendo em vista que o juiz, Tomas Norstrom, responsável pela sentença de condenação do grupo, é membro da Associação Sueca do Direito Autoral. Mas, nesta quinta-feira (25), a corte sueca determinou (pasmem!) que Tomas Norstrom não foi tendencioso.

Se a condenação de um site de Bit Torrent, que facilita o compartilhamento não autorizado de arquivos sob copyright, como é o caso do The Pirate Bay, não seria interessante ou desejável para um membro da Associação Sueca do Direito Autoral, então, eu não sei para quem poderia ser. Isso é uma piada!

Enquanto isso…

Enquanto lá na Suécia a justiça tenta, descaradamente, favorecer às indústrias fonográfica e cinematográfica, aqui no Brasil, Peter Sunde, um dos cabeças do TPB, lança várias críticas ao modelo de negócio delas. Durante sua palestra no FISL (Fórum Internacional de Software Livre), que está acontecendo em Porto Alegre, Peter, disse que por se recusarem a achar um novo modelo de negócio essas indústrias estão fadadas ao fim.

Ele defendeu, ainda, o direito do público de copiar obras para qualquer finalidade: “Se uma obra tem licenças, então ela tem restrições. Sou contra qualquer tipo de restrição. Todo mundo deveria ter o direito de baixar o quanto e o que quiser, seja para qualquer finalidade, comercial ou não. O público já decidiu que não deseja pagar nada pelo conteúdo.”

E segue o principal recado de Sunde: Não parem de copiar!


photo: Mariel Zasso







P2P

Cristina De Luca

autora do blog Circuito

87% dos usuários não sentem criminosos

O "Primeiro Relatório MuyComputer" sobre o uso de serviços P2P está dabdo o que falar. Os números atestam mais uma vez a percepção de legalidade dos usuários de redes de compartilhamento. Nada menos que 87% dos 3.830 internautas consultados não acreitam estar cometendo nenhum crime ao compartilhar arquivos protegidos por direitos de autor. Tem mais: 86% garante que as campanhas oficiais de combate a pirataria não afeta a todos os que fazem uso da tecnologia P2P.

Clique aqui para ver a íntegra da pesquisa.






ÁGUAS PASSADAS

Tiago Jucá Oliveira

ex-aluno do Pereira Coruja

Filhote de Coruja


Professora Luzia me pergunta em tom de lamento, por e-milho: "VIU SÓ O QUE ACONTECEU COM A NOSSA PEREIRA CORUJA? ESTAMOS DESOLADOS, MAS COM MUITA ESPERANÇA NA SUA RECONSTRUÇÃO. ABRAÇO, LUZIA"

Pereira Coruja foi onde fiz todo o meo segundo grao, em São José do Tibiquari, pequeno e bonito município interiorano da Província de São Pedro. Mais que isso. Fui presidente do Grêmio Estudantil dacoela escola estadual. Época dos caras pintadas, geração pós-lata, que ainda não tivera o prazer de levantar uma Copa do Mundo. Pelé, Gérson e Rivelino eram mitos; e Dunga era a triste realidade, marcado em brasa perché esqueceu de anotar a placa do Maradona.

Eu diria que vivíamos uma era final. Muita coisa se encerrava nacoele final de século antecipado. Fim que dera o primeiro sinal na queda do muro de Berlin, enquanto a utopia populista Brizola-Lula desmoronava perante o Caçador de Marajás. Ao som quase mórbido do Nirvana. Reclamávamos que nossos pais tinham sido manipulados pela mídia em 89, mas em 92 foi nossa vez de entrar pro circo. Elite jornalística e política depositaram a merda na patente na histórica eleição pós-Sarney, mas nacoela altura do certame queriam dar a descarga. Então pintaram nossa cara de preto, e nos levaram às ruas na missão de descollorir o planalto.

No Tibiquari, cidade conservadora nas coestões políticas - o cruel Costa e Silva não era de lá por acaso -, mobilizamos os estudantes e os partidos de oposição. Em palanque montado na Praça da Matriz, bradei ao microfone: "onde estão os partidos que apoiaram a eleição do Collor? Per chè não aparecem para falar e ficam se escondendo atrás das árvores?" Era ano de eleições municipais, e o candidato a vice-prefeito do então PDS espiava entre os galhos minha inocente rebeldia e a de outros candidatos a prefeito e vereador, que se aproveitaram da posição nacional de seos partidos pra ganhar mais votos.

Pode parecer mentira, mas eu era envolvido na política. Além de presidente do Grêmio, eu era vice-presidente da Juventude Socialista do PDT local. O brizolismo que corria em minhas veias não foi suficiente pra me calar diante do desgoverno de meo quase padrinho de batismo Alceu Collares. Sem consultar meu partido - nem creio que devia ter feito isso -, convoquei, através do Grêmio, um ato de protesto contra o hilariante e caprichoso calendário rotativo da Neusa. E durante o dia inteiro fechamos a rua em frente ao Pereirão.

Naquele dia passei a dar mais prestígio a um político tibiquarense. Gênis Muxfeldt, candidato a vice na chapa PMDB-PDT-PT e principal quadro dos trabalhistas, transitava de carro coando foi barrado por nós. Deu total apoio. Jamais me repreendeu em público ou em particular. Pelo contrário. Ele parecia acreditar nacoele projeto humano de 16 anos que se negava a calar. Passei a marcar presença no horário eleitoral, sempre soltando tiro pra tudo que é lado. A reação foi forte. Fui insultado nos comícios do PDS-PTB por um candidato a vereador e intimidado na rua por meia dúzia de covardes, entre eles o filho do atual prefeito, que também vencera o pleito daquele ano.

Fora do universo político, nossa gestão foi recordista em vários aspectos. Realizamos os maiores campeonatos de basket e de voley de dupla. O concurso mais rentável e com maior número de candidatas ao Miss Brotinho da cidade. Assim como o Municipal de Voley de Duplas, recordista em participantes. Creio que alguns números ainda não foram batidos, 16 anos depois. Agilizamos jornal, projeto de lei municipal em defesa dos animais, protestos e constante diálogo com alunos e representantes de turma. De ruim, só meo momento pop-getulista a la Jânio: em vez do suicídio, renunciei por uns meses, chocado com a morte de meo pai e chapado com diversas doses diárias de erva. Retomei coando notei que os inimigos cultos se aproveitavam de minha ausência pra retornar ao Grêmio.

Apesar do engajamento, eu também era enganjado. E em muitos momentos de deslucidez aprontei tudo que é tipo de malandragem na escola. Uma meia dúzia de bicicletas costumavam aparecer penduradas nas árvores. Botei fogo num rabo de papel que haviam laçado nas calças do Luís Sérgio. Rasguei alguns cadernos do Quimico. Entreguei uma prova coase em branco pro Juca Bala. Coase, pois havia um FUCK YOU bem grande ocupando a folha. Impedido de ir ao banheiro, pulava a janela escondido e voltava pela porta, deixando o professor Pedro Paulo desconcertado e perplexo. E costumava entrar pela janela nas salas de outras turmas. Uma professora (esqueci o nome, a mãe da Paula, minha colega) abriu a porta e pediu pra eu sair. Saí pela janela, ouvindo gritos de "volta aqui, seu praga"!

Roubei uma prova de Física, guardada dentro da sala da direção,com um esquema bem bolado por mim e meos colegas (exceto a inimiga culta, inteligente demais pra participar da sabotagem, embora não tenha dado com a língua nos dentes), a fim de evitar que Pedro Paulo reprovasse mais da metade da turma. Irritados pela minha constante perturbação em sala de aula, meos colegas Bira e o Rincão treinavam karatê pruma luta que marcaram comigo. Sabedor da preparação deles, me fiz de loco. A escola inteira, após o turno da manhã, parou pra ver uma briga, mas acabou por assistir a uma legitima palhaçada. Desengoçado que eu era, mexia meos longos braços e pernas pra tudo que é lado, aos gritos de YAH, YAH, YAHYAH!, imitando um samurai japonês. Meos adversários não se agüentaram e caíram na risada também. E refizemos a amizade.

Não há como negar. O Pereira Coruja foi muito importante no pouco que sou hoje. Briguei e brinquei, colei e dei cola. Professores, colegas e amigos marcaram acoele momento único em minha vida. Após ler e-mail da Luzia, pesquisei no orkut e em um minuto descobri que o Pereira Coruja havia pegado fogo semana passada. Queimou coase tudo, mas não minhas lembranças duma juventude sadia e pitoresca, sonhadora e dorminhoca. Mesmo com tantas dificuldades por coais passam as escolas estaduais - desde o professor Ruy Ostermann até o atucanato de hoje coase nada de bom foi feito -, o Pereira Coruja me encaminhou pra universidade. Formou um jornalista, mas acima disso, acoelas pessoas com as coais convivi me fizeram um homem de caracter. Não posso mentir pra você, professora Luzia. Se um vidente me garantisse que nem Deus impediria as chamas de queimar nossa querida escola, eu mesmo trataria de riscar o fósforo. Só um protesto. Eu seria o vilão, mas pelo menos a desgovernadora viria a público dar uma voz de carinho ao ensino público. "Vejam o que esses marginais estão fazendo com nossas escolas", diria ela ao vivo na televisão. Ironia ou coincidência, mas meo cartaz de protesto dizia a mesma cousa. Colou de mim? Vejam vocês!


sexta-feira, 26 de junho de 2009

MICHAEL JACKSON




# noéditorial #

O adeus

txt: da Redação dO DILÚVIO
chrg: Latuff


Os anos 80 trouxeram ao mundo um novo formato de artista: o popstar. E dois deles foram popstar ao extremo. Madonna e Michael Jackson. E por que eles foram o extremo? Pow, além de fama, sucesso, vida polêmica, não há como negar que ambos eram mais do que isso. Os dois fizeram naquela década um som extraordinário em todos os sentidos. Ninguém foi melhor ou mais influente.

Sim, não há como negar o peso que a indústria cultural tem no processo todo, com jabá e todas jogadas típicas de um Don Corleone da música. O foda do jabá é quando faz tocar música ruim. E porcaria, Michael Jackson não fazia. Nem Madonna.

A notícia da morte do astro maior do breve século XX chegou tarde a redação, e nos pegou de surpresa. Pedimos desculpas aos leitores pelo pequeno texto de hoje. Pedimos perdão por não aprofundar o assunto no exacto momento. Mas nos entretantos do porém, aqui vai nossa singela homenagem aos fãs do cara que revolucionou o conceito de artista e mudou a estética da música. Sem ele e sem Madonna, a gente seria hoje muito Beatles e Janis Joplin. Felizmente, não somos!

quinta-feira, 25 de junho de 2009

JUPITER MAÇÃ



#conection #

Uma noite no STUDIO SP

txt: Fábio Balaio
phts: Julio Ferreira
prstt: Dona Augusta


Fazia muito tempo que eu não subia a serra pra ver algum show, ou ir em algum lugar em especial. Na última quinta feira, dia 18, resolví subir pra conhecer alguns amigos virtuais pessoalmente e aproveitei pra ir no show do Jupiter Maçã, já que um destes amigos é fã do cara e mora pertinho do local onde seria o show. Sempre lí e ouví falar dele, só conhecia poucas músicas, a maioria regravadas por outras pessoas, e não conhecia por puro desinteresse mesmo, pensava qual seria a causa de tanta devoção, porque seria que quem gostava não se limitava a gostar, adorava-o.

Procurei o último disco (Uma tarde na fruteira) lá na comunidade d'O DILÚVIO e baixei pra não ir às cegas no show, e saber se eu gostaria pelo menos um pouco. Fui escutando durante a viagem, escutei duas vezes seguidas, e algumas músicas eu repetí até mais. Chapei com a mistureba sonora do senhor "neo-tropicalista" como o próprio Júpiter se define.

Eu e meu camarada, o Natta, nos encontramos com outro amigo de orkut, Nei, e ficamos esquentando as guelas no buteco em frente ao StudioSP, vendo a fauna da Rua Augusta passar e esperando o lugar encher pois tínhamos chegado cedo, quando vímos que o lugar estava mais florido nos animamos a entrar. Pelo jeito o nome na lista deve funcionar, assim paga-se 10 REAU$ a menos, o nosso nome estava lá, foram duas cervejas a mais, bem carinha a long neck lá dentro, além de só servir Skol de verdade no bar do outro lado da pista, no bar principal só skol beats(bicha) e Bohemia, mas eu atravessava a pista só pra olhar o mulherio, já que estava cheio de "Menina super Brasil" no lugar.



A banda que se apresentou este dia tinha entre seus integrantes Luiz Thunderbird, que pelo que fiquei sabendo depois tem tocado com o Jupiter já faz algum tempo (interessante vê-lo apenas como integrante da banda, e o próprio se comportou bem fazendo seu trabalho, pois afinal o "estrelo" era Flávio Basso), e Astronauta Pinguim, que participou do disco, o guitarrista não reconhecí nem o baterista, e nem estava lá pra ficar perguntando...he.

Começaram tocando um música instrumental dos anos 60 da qual eu esquecí o nome, mas todo mundo já ouviu pelo menos uma vez. Logo depois emendaram com "Plataforma 6", o Jupiter ainda "esquentando", seguida de "Mademoiselle Marchand", pelo menos eu acho que foi esta a ordem, não estava num estado mental propício pra guardar a ordem das músicas tocadas, nem muito menos iria ficar anotando. Mas me lembro muito bem que tocou muitas do ultimo CD. Na "Marchinha Psicótica do Dr.Soup" errou um pouco a letra e quando cantou "Beatle George" já estava cansado e mandava a platáia cantar.

Não me lembro se cantou "As mesmas coisas" (que eu já conhecia da trilha sonora do filme do Angelí), só sei que já faz quase uma semana que ela não sai da minha cabeça, deve ter cantado. O Natta me disse que eu tive muita sorte, que no último show dele ele nem conseguia cantar, apenas declamava as músicas, reconhecí algumas do "7ª efervescência" como "Querida Superhist x Mr.Frog". Antes de terminar de cantar teve um momento de egocentrismo explícito auto-elogiativo no meio da música, dizendo-se super talentoso y otras cositas más...



Quando terminou de tocar teve neguinho gritando desesperado pra ele voltar, e ele voltou pra tocar mais duas ou três músicas se não me engano, só lembro que tocou "Miss Lexotan 6mg" e terminou com "Lugar do caralho", esta todo mundo gritando aos berros, inclusive eu. Natta e eu não arredamos pé sem tirar uma foto com a loira e depois de tomarmos várias, fomos descendo a Augusta tomando outras e gritando "Rock'n'roll" pras putas. Muito louco o rolê. Tomara que o próximo seja pra ver o Wander.

(Agradeço ao camarada Julio que conhecí no show e me mandou as fotos e os vídeos, eu estava sem câmera lá).

quarta-feira, 24 de junho de 2009

ARLEI É DEMITIDO

# extra extra #
Picadinho de xuxu

txt: Manda Chuva

O escritor e jornalista Arlei Arnt, vulgo Xuxu Beleza, foi demitido nesta terça-feira, em torno das nove da night, por injusta causa. O elemento de muitos serviços prestados a casa teve um dia muito normal. Passou a tarde na redação, por onde também passaram DJ Basket e Marexal, ao som do primeiro e chá do segundo.

Arlei sempre foi do bagulho islâmico, e ao ouvir Marexal proferir Shazan, pode ter debulhado a coisécula toda. É nessa teoria que pode crer DJ Basket: "pode crê, galo".
Os mistérios que lhe faziam sombra, da coal não o segue por substâncias óbvias, são reticentes.

Ninguém sabe ao certo de onde Arlei vem, quem é e pra onde vai. E toda vez que perguntamos, ele se esquiva, foge e dribla, como se fosse um fenômeno sobre um índio. Não sabemos se Arlei é jornalista formado ou não, nem onde estudou. Ele mente? Ele mente.

Os butiás caíram dos bolsos. Não sabemos perché ele foi demitido. Aliaz, não saberemos. Arlei era a acidez desta arca.

De Nardi vai e volta. Sampa e Beagá. Instituto e Mineirão. Caio e Pablito. Vem e voltam.

terça-feira, 23 de junho de 2009

CURUMIN



# agência pirata #

Japan Pop Show

txt: Romulo Fróes


JapanPopShow, programa de TV exibido nas manhãs de domingo nos anos de 1980, era um karaokê produzido e protagonizado por imigrantes japoneses e seus descendentes no Brasil. Curumin, neto de japoneses e nesta época ainda criança, se encantava com as performances um tanto cômicas dos anônimos candidatos à cantores de sucesso. Já a atração seguinte ao programa de calouros da comunidade japonesa não despertava o mesmo interesse, se entediava com o culto eletrônico do americano Jimmi Sueger. Talvez já chamasse mais sua atenção a musicalidade dos pregadores negros, que as preces sem swing do branco pastor Jimmy.
JapanPopShow é o nome do segundo disco de Curumin e se o título faz referência à sua descendência, o som do disco traz no seu DNA, o que já conhecíamos de Achados e Perdidos, primeiro álbum de Curumin, uma profusão de ritmos e influências, com matriz fundamentalmente na música negra. Mas há muito mais caldo nesse mocotó.

O disco se abre num Salto com joelhada no vácuo. Somos recebidos com o clássico golpe de Sawamur, herói do animé japonês, que nomeia a vinheta instrumental. A caixa de música de Curumin é acionada, nos revelando parte de seu vasto universo sonoro: uma melodia delicada de timbre oriental, um trompete jazzy e um coro gospel, aliados ao groove de beats graves e enérgicos. Uma mistura de festa e contemplação nos conduz a faixa seguinte, Dançando no escuro, canção de elaborada melodia, interpretada magistralmente pelo mestre do Sambasoul Marku Ribas, que adiciona mais tempero ao caldeirão de Curumin, com seu baixo, bateria e percussões de inspiração no afrobeat. Em Compacto(que tem a participação de RV Salters, tecladista do Honeycut, banda pertecente ao casting da Quannum, gravadora de Curumin nos Estados Unidos) a fusão sonora característica de seu trabalho, toma contornos mais claros. Canção levada por um violão percussivo e teclados de sotaque soul, Compacto une suas influências brasileiraa e americanas. Jorge Ben encontra Stevie Wonder. Na sequência, em Magrela fever, entramos num travelling, embalados por um rock com sabor de jovem guarda e pelas guitarras de Fernando Catatau da banda Cidadão Instigado que parecem tiradas de uma trilha sonora de Enio Morricone para um filme de Sergio Leone. Curumin nos leva na garupa de sua magrela, através de seus pensamentos, com o vento batendo na cara, guidão torto, roda amassada/vou de qualquer maneira/e eu assumo o risco e despisto com meu riso/na maciota, na boa/não vou ficar marcando tôca/que a maldade corre solta. O rock aparece em outro dois momentos no disco, mais ao modo de Curumin, transformado, misturado à suas influências. Em Malstar Card, com seu riff setentista e groove funky e em Saída Bangu, uma construção/desconstrução da grande canção de Jards Macalé e Waly Salomão, Revendo Amigos. O Rock torto de Macalé e a bateria descontrolada de Tuty Moreno, são organizados num beat poderoso que mantém da letra original da canção apenas o verso "volto pra curtir". Curumin traz o gênio de Macalé pra sua festa e o apresenta as suas próprias armas na reinvenção da música popular brasileira.

Em Kyoto, nos damos conta do caminho percorrido por Curumin desde seu primeiro disco até agora. Ele nos mostra sua profunda intimidade com um lado da música americana atual. Sua sucessão de versos em tom de improviso parece tirada de uma sessão de freestyle, talvez este o motivo de Kyoto ser creditada a tantos autores, além de Curumin e Anelis Assumpção, estão entre seus compositores, Chief XCel e Gift of Gab do Blackalicious e Lateef, MC do Dj Shadow, todos estes, artistas e sócios da Quannum. No momento em que aparentemente deixa para trás suas influências brasileiras, Curumin se lança na difícil tarefa de mandar um hip-hop ao lado dos “pais da matéria”, correndo o risco de não passar de um pobre arremedo. Pois corre o risco e se dá muito bem! Sem diminuir a importante participação de seus companheiros de gravadora, muito menos a mixagem pilotada pelo cultuado produtor Scotty Hard, mas ainda que sob a inspiração do modelo de Lateef e seus pares, Curumin adiciona a este, uma ginga estranha, um sotaque, um modo de pronunciar as rimas que o traz de volta ao Brasil. Também na sua construção poética, Kyoto se destaca de seu modelo americano. Seja, por exemplo no cruzamento inventivo do verso ligue Jah, em que o célebre bordão do charlatão Walter Mercado é usado pra evocar a figura de Jah, seja quando recorre às figuras do Pajé e do Paxá, onde talvez mais importante que justapor autoridades de povos muito diferentes, como o indígena e o árabe, na causa pela salvação do planeta terra (tema da canção), seja a similaridade que as duas palavras contém. Ou ainda, quando Curumin explora no canto, a proximidade fonética da palavra-título da canção, Kyoto, repetindo apenas sua primeira sílaba, com o início do verso qué que você tem a ver com isso cabloco. Todas, imagens talvez difíceis de se explicar a um estrangeiro e por isso mesmo muito originais.

Outra apropriação, se é que aqui cabe o termo, de um estilo que talvez não seja natural a Curumin, se dá em Caixa Preta, um funk carioca pesadão em que é acompanhado pelos vocais furiosos de Bnegão, um dos compositores da faixa, ao lado de Curumin, Lucas Santana e Tejo. Também aqui dá a volta. Com um apuro na produção, estranho ao som propositadamente tosco do funk carioca, Curumin se aproxima antes do miami bass, principal influência do estilo. Em Caixa Preta também, acontece algo que se repete ao longo do disco, que é uma estranha e interessante junção de engajamento e diversão. Em canções dançantes, impossível de serem ouvidas sem se mexer, Curumin manda textos contundentes, encharcados de indignação, sobre temas que acredita que precisam ser discutidos. Sob camadas de grooves arrasadores, a agressão ao meio ambiente, a ganância humana, a má distribuição de renda, a corrupção, tudo o que lhe perturba é dito nestas canções. Ainda que o som poderoso de Curumin nos quer balançando as cadeiras, não quer que nossas cabeças parem de funcionar.

Mas todo mundo quer amor e paz na terra, diz a letra de Esperança, canção de Lucas Martins e Deon(da banda sergipana Lacertae) e o disco também tem seus momentos de pura contemplação como em Fumanchu, tema instrumental hipnotizante com a presença de Daniel Ganjaman nos teclados. Românticos também, como não. Mistério Stereo, uma balada de linda melodia e ótimos versos é levada por um violão incrivelmente simples, de acampamento. Curumin declara seu amor: eu fiz um par de brincos pra brincar todo dia / pra vibrar cada canto dominante no seu coração, rodeando, balançando, enfeitando seu ouvido, seu pescoço, seu corpo, sua casa, seus jardins, contrapondo seu ritmo, seu som, tornando sua alma dissonante enfim.
JapanPopshow, a faixa título do disco é uma espécie de reencontro de Curumin com seu passado, como se finalmente subisse ao palco do programa de TV de sua infância para cantar, com algum filme fazendo parte do cenário de sua apresentação, como acontece nos Karaokês. O filme? Um velho e embriagado samurai que nos convida à tomar o chá da sabedoria, sentados em nossa própria sombra debaixo de alguma árvore em uma paisagem ao cair tarde no Japão. A canção? Poderia ser Sambito, sua parceria com Flu, cantada em japonês e o mais próximo que podemos chamar de um samba japonês, com o ritmo construído através de samplers. Sai o batuque, entra teclados e a guitarra de seu parceiro Tommy Guerrero, músico americano autor de aclamados álbuns e uma lenda do skate nos anos de 1980, que retribui a participação de Curumin em seu disco mais recente.

Na biografia de Tim Maia escrita por Nelson Mota, lançada em 2007, é relatado sua angústia com os métodos de gravação no início dos anos de 1970 no Brasil. Recém-chegado dos Estados Unidos, Tim não compreendia como os técnicos não conseguiam tirar o som de baixo e bateria que ele ouvia ali no estúdio, no momento da gravação e nos discos americanos que tanto o influenciavam. Chegou até a importar equipamentos, acreditando ser este o problema. Curumin faz parte de uma geração com total acesso às tecnologias de gravação e tem mesmo, apreço pelo ofício. Pesquisa modos de captação, estilos de produção, equipamentos, instrumentos, novos e antigos. Junto a seus grandes parceiros, Gustavo Lenza e Lucas Martins, é responsável pelo fenomenal som do disco, um dos melhores já produzidos na música brasileira e que certamente virará referência de produção daqui pra frente.

JapanPopShow foi lançado no ano em que se comemorou cem anos da imigração japonesa no Brasil, uma feliz coincidência que nos leva a pensar sobre quanta riqueza provocou nossa miscigenacão, e no caso de nossa música, o quanto essa característica a tornou numa das mais reconhecidas no mundo. No disco de Curumin, essa miscigenação é levada a outro patamar. O brasileiro, nascido na cosmopolita e globalizada São Paulo, o baterista profundamente influenciado por nossas raízes africanas, reencontra seus antepassados vindos do oriente, de uma cultura tão diferente da nossa e de uma música diametralmente oposta, se relaciona com tudo isto à sua maneira, antenado com o modo de produção atual, com a tecnologia existente nestes primeiros anos do século XXI e cria uma nova coisa, a sua música. É curioso, que mesmo depois de todas estas transformações, podemos ainda chamá-la: Música Brasileira. Se a vaga de síndico do condomínio Brasil ainda está vaga, Curumin, eis aqui um forte candidato. Tenho certeza que mestre Tim Maia aprovaria a indicação.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

MANIFESTO CONTRA ZUMBI



# over12 #
Quando pensamos que vamos parar de comentar o diploma...

txt: Tiago Jucá Oliveira e Arlei Arnt

Poi Zé, os dois últimos resquícios do AI-5 caíram, mas ainda tem muito mané chorando e organizando protestos. E pelo orkut, twitter, blogs, e no momento em que escrevemos, até o Nando Gross tá dando sua sniffada ao vivo na rádio Gaúcha, umas das 26 emissoras de rádio e tv de Porto Alegre que estão com a concessão vencida e que deveriam estar fora do ar. E, claro, ele não tem coragem suficiente pra falar disso.

Como diria o açougueiro, vamos por partes. No twitter, metade de um neurônio convoca seus seguidores para um protesto pelo fim da exigência do diploma. No cutucar da raiva alheia, lá se foi nossa provocação: "o Decreto-Lei 972/1969 foi baixado durante o regime militar, logo após o AI-5. E quem baixou esse decreto foi uma junta militar formado pelos ministros das Forças Armadas". A resposta da meio neurônio veio a galope: "e não é porque essa lei surgiu no AI-5 que ela deve ser desmerecida.". CUMA? Esse Decreto-Lei, que ela crê ser algo justíssimo, só tinha como objetivo calar intelectuais e políticos que frequentavam redações, bem como escreviam e opinavam suas oposições ao regime militar.

O argumento utilizado pela rapariga foi o mesmo debatido ao vivo no auditório da Famecos/PUC pelo presidente da Federação Nacional dos Papagaios, ops, dos Jornalistas. Observe, cágado ou pomba: os jornalistas que clamam por democracia, acreditam radicalmente que o Decreto-Lei, num ato de censura, autoritário e anti-democrático, deva continuar valendo, apesar de ser criado pela ditadura.

Observe novamente: censurar, calar e proibir que pessoas se comuniquem é justo e merecido, apesar de ser criado pela ditadura. Então o problema não é a censura, e sim o censor de então? No seguir do raciocínio, é de se acreditar que estuprar também é algo justo e não deveria ser proibido. O problema não é o estupro, e sim o estuprador. "Que mal há um padastro violentar sua enteada de 12 anos? Eles se conhecem, moram juntos, há carinho na relação", é bem provável a outra metade do neurônio argumentar.

Vamos pular a ignorância e partir pra idiotice. No twitter, outra pessoa em total falta de sintonia entre o tico e o teco (deby & loyd, em inglês), lança a idéia: "agora que acabaram com o diploma de jornalista, vamos acabar com o de juiz e assumir uma vaga no STF". Mas pra isso, pra julgar as leis, é preciso conhecer a constituição. Nós até podemos não conhecer e concordar com a carta magna, mas o Supremo Tribunal Federal deste país precisa sabe-la decor e validá-la. É essa a sua maior função e responsabilidade. O Supremo não pode nem deve, de jeito maneira, ir contra a carta, aprovar inconstituicionalidades. E o artigo 5, inciso IX, da constituição é claro: "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença". O problema da maioiria dos jornalistas deste querido Brasil é que eles se argumentam na base do "eu acho". Nenhuma surpresa, pois quem já estudou em faculdade de comunicação sabe que nas aulas não se ensina porra nenhuma, e fica aquela roda de bate papo: alguém acha que a ana paula é padrão, porém o outro prefere felipe, pois é massa.

Dentre os tantos livros que sempre carregamos debaixo do braço, que são nossas bases, pois aqui ninguém "acha aquilo que acha", está o já clássico Manifesto Contra o Trabalho, do grupo Krisis. É uma crítica contundente à sociedade do trabalho. E quando se vê jornalistas e estudantes desocupados no marchar favorável da ditadura e contra a constituição, unicamente preocupados com a cadeira de empregado onde vão sentar o cu, lembramos do Krisis. Repetimos um importante trecho: "Tanto do ponto de vista do trabalho quanto do capital, pouco importa o conteúdo qualitativo da produção. O que interessa é apenas a possibilidade de vender de forma otimizada a força de trabalho. Os trabalhadores das usinas nucleares e das indústrias químicas protestam ainda mais veementemente quando se pretende desativar as suas bombas-relógio. Não só porque eles precisam obrigatoriamente se vender só para 'poder' viver, mas porque eles se identificam realmente com a sua existência limitada. Para sociólogos, sindicalistas, sacerdotes e outros teólogos profissionais da 'questão social', trabalho forma a personalidade. Personalidade de zumbis da produção de mercadorias, que não conseguem mais imaginar a vida fora de sua Roda-Viva fervorosamente amada.”

Neste domingo em que se escreve este manifesto, um dia antes de você, cágado ou pomba, nos ler, um belo texto cai aqui na redação. E como é bom ler aquilo que gostaríamos de ter escrito. A façanha é da professora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ivana Bentes. O artigo tá fresquinho, acaba de sair do forno. De acordo com Ivana, "estranho e triste é ver jovens que acham que só podem ter direitos 'adquiridos' com 'diploma' e carteira assinada e dentro da relação patrão/empregado. Ou seja, acham que a única luta que vale a pena é , como diria Spinoza, a luta pela sua própria 'escravidão'". Brilhante!

Não há, naquelas cabeças miúdas, outra a coisa a fazer a não ser trabalhar como escravo zumbi da grande imprensa. A única possibilidade, de quem pensa assim, é qualificar e dar credibilidade aos quatro padrões de manipulação da grande mídia, vide Perseu Abramo, através do diploma. Eles não querem acabar, ou atacar, ou contrapor a mídia manipuladora. Eles querem que essa manipulação seja mais profissional e qualificada, praticado por pessoas formadas, com canudo. Portanto, o que eles querem é sustentar a manipulação diária, em vez de subverte-la.

E essas pessoas são oriundas de faculdades que mais formam mulas do que cidadãos. Nem todos, é bom lembrar, se formam e viram mula. Se você, cágado ou pomba, souber distinguir o que é bom do que é ruim na universidade, você nao será mula. Recordar é viver, e o professor João Gato sempre dizia: "eu tinha um cão, ensinei ele a não comer; uma semana depois ele morreu". Resumo: se a faculdade nos ensina a ser mula, obedece quem quer.

Interessante também o ponto de vista do sociólogo Sérgio Amadeu via twitter: "a rede afetou todas as indústrias de intermediação: fonográfica, cinematográfica, de softwares e a imprensa... com intensidades diferentes". No acrescentar das idéias, podemos dizer que assim como a internet, o mp3 e o Naspter sacudiram a indústria fonográfica, no diminuir dos lucros e no democratizar do livre acesso a cultura e conhecimento; os blogs e o youtube estão a balançar o conceito de mídia.

Baseado no que diz Amadeu, e resgatando uma entrevista feita semana passada por uma estudante de jornalismo da PUC/RS, Bruna Ostermann, que visitou a redação pra colher nossa palavra, é possível responder perguntando: mas afinal, o que é jornalismo? Onde se limita a liberdade de expressão?, que a menina disse que não deve acabar, com o exercitar da atividade jornalística exigido por diploma.

Um caso, hipotético, mas não duvide que exista: imagine que um grupo de pessoas, nenhuma delas formada, crie uma conta no You Tube. Esse grupo cria um roteiro, faz reportagens, entrevistas, usa uma pequena ilha de edição, escolhe um bom apresentador e monta um tele jornal a ser exibido no próprio You Tube. Com um bom material e uma divulgação bem planejada, a audiência cresce e o telejornal se torna um sucesso na rede. Digamos também que outras experiências aconteçam simultaneamente em todo o país. Quem dirá que isso não é jornalismo? E se for, vamos exigir diploma? E se não tiver diploma, vamos proibir o programa?

Se no You Tube há uma certa complexidade pra fazer um telejornal, com muito mais facilidades se faz jornalismo em blogs. Entrevistas hoje podem ser feitas por msn, por gtalk, por skype. Resenhas de discos e shows são feitos diariamente. E que lei é capaz de distinguir se blog, ou determinado blog, é ou não jornalismo? Qual lei vai obrigar que blogueiros necessitam de diploma? E quem vai tirar do ar os blogs feitos por não diplomados? O blog da Petrobrás deu, dias atrás, que pode ser muito mais útil ao jornalismo e a sociedade do que os grandes jornais. E os blogs e usuários de twitter do Irã tem mostrado ao mundo que não há paz e calma como o jornalismo oficial de estado afirma.

E nesse mesmo raciocínio podemos ilustrar casos como as web rádios, os flicks, os vídeos documentários. Agora imagine se o AI-5 da comunicação não caísse e se dentro de algumas semanas o senado aprovar o projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo, proposta devidademente apelidada de AI-5 digital. Recém acabou uma encrenca, vem outra maior por aí.

Por tudo isso, nunca o STF foi tão sábio em abolir mais um resquício do AI-5 em pouco espaço de tempo (dias antes, o Supremo acabou com a vergonhosa Lei de Imprensa). A mesma junta militar que nos censurava até semana passada, fez a seguinte presepada, como bem faz lembrar Carlos Brickmann, do Observatório da Imprensa: "Pois não é que os mesmos oficiais-generais que generosamente regulamentaram o exercício da profissão de jornalista cuidaram também de regulamentar o que os jornalistas poderiam publicar? Um texto engraçadíssimo, que vale a pena pesquisar, é o de regulamentação das revistas de mulher pelada. Está escrito que, nas fotos, poderia aparecer um mamilo nu; dois, não. Mas, se a foto fosse feita com camiseta molhada, ambos os mamilos poderiam aparecer através do tecido. Pelos púbicos, nem pensar. E ficavam proibidas as fotos de nádegas frontais. Alguém já terá visto nádegas frontais?".

E aqui, neste finalizar de letras, deste Manifesto Contra Zumbi, citamos o grande jornalista, não diplomado, André Forastieri: "toda escola serve para esmagar o espírito e a imaginação do ser humano para que ele se torne um escravo zumbi da sociedade". Os direitosos nos chamam de esquerda, os esquerdas caviar nos rotulam de direita. Nem pra direita, nem pra esquerda. Como dizia o Superman: "para o alto e avante"! Comunicadores do século XXI, uni-vos!

domingo, 21 de junho de 2009

MAIS +ou- MENAS #006

PORTO ALEGRE, BRASIL
21 DE JUNHO DE DOIS MIL E NOVE

Esse é único suplemento dominical que é publicado no sábado e acaba sendo lido na segunda. Querem alguma opinião forte sobre algo? Nein! Ciao Itália!


+ou-

um ep



download >>> AQUI <<<



+ou-

um livro




Machado de Assis - A Reforma pelo Jornal (1859)

baixe >>> AQUI <<<



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um vídeo


Cristiano, Sujeito Simples
per Pablo Francischelli e Tiago Jucá, 2003





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uma foto


Laguna dos Patos, Pelotas
per Larissa Viana





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uma charge


Yes, I Can
per Latuff






+ou-

um lugar


Espaço Cultural, 512
João Alfredo, 512, Cidade Baixa, Porto Alegre




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um parágrafo


Em que democracia você vai votar?
per Júlio Valentim


Creio que esse cenário de participação política que a democracia representativa possibilita é muito triste e afasta do cidadão a possibilidade de tomada de decisões sobre questões realmente importantes. Afinal, escolher quem vai decidir no nosso lugar não é ter poder de decisão, é o contrário disso; principalmente, se não temos a garantia de que esse representante decidirá o que decidiríamos (e na maioria das vezes não decide). Portanto, criar o mito que o problema democrático é o de escolher bons políticos (ou o “menos pior”, afinal, em algumas eleições nenhum pode ser considerado bom) é responsabilizar o cidadão-eleitor pelas mazelas sofridas pela sociedade. Ou seja, a sociedade anda mal porque os cidadãos não sabem escolher e elegem maus políticos. De vítima o cidadão vira culpado, o responsável pelas falhas do sistema democrático representativo. Mas o que a maioria de nós não percebe é que é o próprio modelo de democracia representativa que é débil e precisa ser urgentemente substituído. O que precisamos eleger (e exigir) é um novo modelo de democracia, não novos políticos e representantes. Mas qual?

leia mais >>> AQUI <<<


+ou-

um blog


Remixtures



+ou-

um myspace


Balkan Beat Box

sábado, 20 de junho de 2009

MADUREIRA



# águas passadas #
, como ele gosta de ser chamado

txt: Tiago Jucá Oliveira, vulgo Jajá
ilstrçs: Nelson Azevedo e Monty Pellizzari


A redação da Arca recebeu a visita de um dos melhores trafí da city. Mió per que o bagulho quase sempre é da massa e per que o preço é camarada. Madureira, como ele gosta de ser chamado, conta que o baixo preço se deve per que ele mesmo é quem vai buscar na república Guarany. E, per causa disso, ele acaba repassando diretamente aos clientes sedentos por uma boa causa. Madureira, como ele gosta de ser chamado, explica que o preço é baixo não só per causa da ausência de intermediários, pero que sin és un hombre ousado. De acordo com que nos conta, Madureira, como ele gosta de ser chamado, não molha a mão dos porcos que patrilham a up town. Ele parla que recebe ameaças dos porcos e que até seu fone já foi grampeado.

Pero que los riscos que el hombre corre são maiores, arriégua! Seus concorrentes no milionário world of the traffic têm inveja de Madureira per que ele acaba lucrando muito. Óbzio, né: é a massa, não tem intermediários, não tem choro pros porco e o preço é super camarada. Mas a inveja tem seu preço también: Madureira, como ele gosta de ser chamado, lembra que um carro, com seis cabeça dentro, ficou rodeando ao redor de sua baia uma madrugada inteira. Deu um pavor no loco, tanto é que ele pegou os cria e sumiu per uno bom tempo: “achei que ia durmir de sapato e palitó! Sabe, assim de pezinho juntinho um com o outro, fera?”



Madureira, como ele gosta de ser chamado, conta histórias incríveis da república Guarany: “Jajá, imagina essas imensas lavouras de mandioca. Sabe, eu tive numa lavoura lá no Guarany, mas era de baura. Cara, os pés eram de dois metros de altura. Eu fiquei perdido naquela mata verdinha e cheirosa. 30 conto o quilo, imagina Jajá, imagina só.” Seus olhos brilham quando lembra da enorme plantação de baura. Pergunto como foi trazer a bagulhada até São Pedro e ele me responde toda a falcatrua: “Bah, da fazenda até a divisa de Guarany com São Pedro passei por uns dez postos policiais guaranis. Em cada posto eu deixava uns 50 conto. Eles nem revistavam o caminhão.” Na real, a miséria da república Guarany é tão grande que o achaque diário corresponde a muito mais do que ganha um policial por mês. “Não tem como não se corromper”, afirma Madureira, como ele gosta de ser chamado.- MAS BAH!

Fomos atrás de pessoas que consumiram a massa do Madureira. Titichong é um jovem que usou a dita cuja: “Ô meu, enrolei o lance numa borracha, tá loco, é o bicho, mesmo, hein! É o melhor béq de São Pedro”, sorri Titichong de zoio vermeio. Outro jovem, o Sem Malandragem, relata como ficou após dar uns tapa no veneno: “Caramba, cremei uma baga e fui pra baia. Aí comecei a dançar, mas bem depois é que eu me dei conta que o som tava desligado.” A massinha acabou recebendo vários apelidos, tipo: genérico, semi skank, meu querido, primo, da arca, american airlines, mas bah!

sexta-feira, 19 de junho de 2009

PEGA O DIPLOMA E LIMPA SUA BUNDA



# manda chuva #
Chora, não vou ligar, pode chorar

txt: Tiago Jucá Oliveira
pht: Thais Brandão
msc: De Leve


Nas últimas três semanas, participei de três debates sobre a obrigatoriedade do diploma. Em todos eles ouvi muita cousa sem fundamento por parte dos outros debatedores, e,principalmente, ouvimos cada asneira vinda do público. Também lemos inúmeras pérolas pela internet, entre postagens, comentários e twittadas.

E sempre afirmei: não sou o cara indicado pra debater, a discussão é inútil, não vai mudar nada, não represento ninguém pra debater. Mas mal sabia eu que o debate era mais inútil ainda, por ser inconstitucional, graças as minhas consultas aos textos do advogado Túlio Vianna, após os debates. Ele trouxe à tona o que mal percebi na carta magna: diz ela no artigo 5º, IX – "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença".

No mesmo artigo, XIII, diz a constituição: "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer". Em outro artigo, o 220, está escrito: "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição".

Eu também não tinha conhecimento do fato do Decreto-Lei 972/1969, baixado durante o regime militar, logo após o AI-5. E quem baixou esse decreto foi uma junta militar formado pelos ministros das Forças Armadas: Aurélio de Lyra Tavares, ministro do Exército (presidente da junta), Augusto Rademaker, ministro da Marinha, e Marcio de Mello e Souza, ministro da Aeronáutica. Era o começo da fase terrorista dos milicos, e calar era a missão. Quanto menos pessoas exercendo o jornalismo, mais fácil de controlar.

Ah, se eu soubesse disso antes. Talvez não perdesse meu tempo pesquisando nomes de ótimos jornalistas sem diploma. Somente com a constituição debaixo do braço e o argumento que a ditadura acabou, eu teria desmontado os debates já de início. O Supremo Tribunal Federal não pode ir contra à constituição. E contraditório que pessoas que clamam por democracia, queiram a continuação de um dos principais pilares da era do terror estatal.

E agora que o STF derruba esse pesadelo, por goleada (8 votos a 1), já posso dizer o que estava entalado na garganta. A hora só poderia ser após a definição do Supremo, caso contrário haveria muita gente ridícula de nariz em pé, no soltar dos foguetes. Todos os quatro debatedores, incluindo os puxa-sacos de platéia, são medíocres. Os debatedores são jornalistas frustrados. Excluídos pelo mercado exigente de qualidade, foram fazer carreira em sindicatos e federações. São pessoas sem talento, sem importância pro jornalismo. Ah, se os debates fossem hoje! Nada como um dia após o outro, mano! Procurem levantar uma bandeira mais importante pro jornalismo. Nenhum de vocês defendeu o Ungaretti; ninguém condenou o governo Lula por fechar tantas rádios comunitárias. Rabo preso? Pelas coisas ridículas ditas em público, não duvido de nada. Pelo contrário. Um brinde, amigo leitor, a derrubada dos herdeiros da ditadura. Adeus cancer do jornalismo brasileiro!

Diploma (De Leve)

Cê se formou advogado, mas nao passou na OAB
Relaxa, tem mais de cinco mil neguin, que nem você
Que estudaram mais de quatro anos, e hoje limpa o chão
Ou tão em fila de loja pra ficar atrás do balcão
Não adianta anunciar serviço no balcão
Salário é uma merda, mercado só tem falcão
Pede emprego pro tio vereador senão
Se vai ficar anos procurando e levando nao
Então

Pega o diploma e limpa sua bunda
Não tem emprego, tenta na segunda !
Pega o diploma e limpa sua bunda
Não tem emprego, tenta na segunda !

Sê achava maneiro andar de terno no sol
Hoje já nao acha, tá no eternosol
Da burocracia sem democracia de verdade
Decide acordar, gravata e nem tem variedade
Achava a faculdade um trampolim pro sucesso
Mas comprou com cambista, era falso o ingresso
Deu mole, não come nem no lamole
Só baba o ovo do chefe servindo um outro gole

Pega o diploma e limpa sua bunda
Não tem emprego, tenta na segunda !
Pega o diploma e limpa sua bunda
Não tem emprego, tenta na segunda !

Voce é jornalista, a família acha lindo
O exemplo pros irmãos, pela mae sempre bem vindo
Tira mó onda no choppinho da sexta
Mas o que ninguem sabe é se trabalha no extra
E o jornal é uma bosta
Voce tem acessoria nas costas
O que se escreve é deprimente
Mas tira onda quando tá com a gente

Pega o diploma e limpa sua bunda
Não tem emprego, tenta na segunda !
Pega o diploma e limpa sua bunda
Não tem emprego, tenta na segunda !

Pega seu diploma, e limpa o seu rêgo
Não tem trabalho hoje, muito menos um emprego !

quinta-feira, 18 de junho de 2009

FESTIVAL 7.1.9 DE BANDAS DE GARAGEM


Face Okulta

# conection #
Um tiozinho no meio do playground.

txt, phts n' vds: Fábio Balaio



O “Festival 7.1.9 de Bandas de Garagem” é um encontro de bandas iniciantes que acontece mensalmente, ou bimestralmente (me desculpem as imprecisões, mas ainda não recebí e-mail confirmando as datas e há quanto tempo o festival é organizado) no Delta Bar, aliás, deixo aqui os meus parabéns para o proprietário pois é um dos únicos a abrir espaço para artistas e bandas iniciantes ou independentes na cidade, e bandas e músicos não faltam pelo que percebí no dia. O festival é organizado pelo William,que conhecí através da mãe dele, Tânia Fontana, no show do Caio Bosco, William é baterista de uma banda chamada DelReys, também da cidade, mas vamos às impressões.


Dry System

Primeiramente me sentí velhinho pois a média de idade era de no máximo 20 anos, acho que até menos, tanto das bandas quanto do público, e ainda estava acompanhado da minha filha, o que contribuiu bastante. A maioria das bandas tem integrantes que estão começando como músicos, mas quase todas têm um integrante que se sobressai e músicas próprias.


Skaconuts

Cheguei no finalzinho da apresentação da primeira banda, FIREFOX, a única com vocal feminino, e pelo jeito com média de idade bem baixa, fazendo covers de quem? Avril... Mas o baterista me chamou a atenção pela pegada firme e certeira. A segunda banda foi NELTROX5, seguindo a linha do roquinho nacional do momento(leia-se bandas com siglas e X no nome). Logo depois quem se apresentou foi a banda Face Oculta, fazendo um cover de Foo Fighters logo no início, a molecada toca bem, tudo redondinho, apresentando músicas proprias, e quem me chamou a atenção foram o baixista e o vocalista/guitarrista, que mandaram bem.


CtrlAltDel

A banda seguinte foi CTRL ALT DEL,novamente seguindo o estilinho das “teenage rock bands” nacionais. Logo depois quem entrou no palco foi a DRY SYSTEM, que como o nome entrega, se propõe a fazer covers do System of a Down, mas tocaram música própria também, a molecada é esforçada, o vocalista tem muito chão ainda pra percorrer se quiser chegar aos pés do ídolo, mas tocaram com muita vontade e principalmente atitude, me divertí bastante com o guitarrista Bob, ou Galeno(sei lá como gosta de ser chamado), o moleque tem 18 anos e toca faz três anos apenas, mas a performance é de parar pra ver, não pela técnica ou virtuosismo porque ainda falta muito pra ele desenvolver ambos, mas pela grande presença no palco, rí muito, não que ele seja uma piada, mas por ver que ainda existem moleques com atitude rock'n'roll na veia.


Bad Cookies

A próxima banda se chama POEMS OF LIFE, me surpreendeu pela aparente pouca idade dos integrantes e por tocarem bem mesmo, na minha opinião só o vocalista precisando se concentrar mais na voz, já que toca guitarra também, o som deles me lembrou muito MINERAL (não sei se eles conhecem ou imitam,mas é a banda que é o supra sumo do chamado emocore, o verdadeiro, até eu gosto de Mineral,he). Agora vem a banda que eu mais curtí, SKACONUTS, pensei que ia escutar um ska, me enganei, tocam o mais puro hardcore “califa”, Pennywise e NOFX na veia, logo que ví um dos guitarristas tirando aquela baita guitarra pensei, ”ô modeuzio, tocarão rockabilly?”, mas não, tocam muito bem o outro estilo, com o baixista Hugo mandando ver no vocal, encerraram com “Linoleum”, uma das minhas músicas preferidas do NOFX, mas não sem antes tocarem músicas próprias.


Poems of Life

Logo após veio outra banda que me enganou com a aparência dos integrantes, BAD COOKIES, pensei que escutaria um trashblackmetalgore mas tocaram até um cover do Bidê ou Balde(??!!) e uma música com o refrão “ainda estamos todos bêbados e ninguém comeu ninguém” no melhor estilo Velhas Virgens. A última banda se chama LORENZA, que pelo que ví a molecada curte bastante porque foi a que mais juntou gente pra ver e que novamente segue por uma linha pré-existente, a do “nu metal”, até dois vocalistas têm, um só pra fazer o vocal “gutural”, são competentes e etc, todos os integrantes tocam bem, só pecando um pouco no vocal principal.


Skaconuts

No final, a impressão que me ficou é que todas as bandas,desde as mais novas até as com mais experiência,precisam buscar um som próprio,original,além de terem me deixado a impressão de faltar um pouco de união entre elas,pois a maioria das bandas tocava e ia embora,não ficando pra ver o som da outra,confraternizar,trocar idéias,etc.Mas a iniciativa é muito boa,e espero que a cena independente se fortaleça cada vez mais na baixada santista, e o 7.1.9 é um bom começo.


Firefox




Neltrox5




Comunidade 7.1.9 MUSIC:



Lorenza

quarta-feira, 17 de junho de 2009

LAWRENCE LESSIG FALA DE REMIX




# agência pirata #
O mundo é um remix

txt: Edson Andrade de Alencar

O remix e o plágio criativo são duas pedras no sapato do espírito de regulamentação jurídica do novo panorama tecnológico de produção cultural. O debate sobre os efeitos econômicos de uma cultura livre, como Reuben bem apontou, tem suplantado o debate sobre produção e criatividade pelo simples fato de se concentrar exaustivamente no âmbito da distribuição de obras intelectuais. Todos estão discutindo “como faremos para distribuir os mesmos filmes milionários de sempre da forma mais proveitosa para todos” e esquecem da proteção a novas formas criativas.

O plágio criativo e o remix são modalidades criativas que crescem em efetividade à medida que nós, seres humanos copiadores por natureza, percebemos que não há mais nada pra ser “inventado”. É muito difícil ver algo puramente novo por aí, principalmente quando ganhamos a ciência de que tudo aquilo que sempre consideramos original na verdade é uma colagem de influências e idéias retransmitidas. O remix, por exemplo, já é amplamente aceito por vários artistas e muitos destes já o encorajam abertamente. É o que faz a banda Nine Inch Nails ao disponibilizar seu álbum The Slip em versões de alta qualidade (próprias para remixagem) com as seguintes palavras: we encourage you to remix it/share it with your friends, post it on your blog, play it on your podcast, give it to strangers, etc (tradução: nós o encorajamos a remixar este álbum/compartilhá-lo com seus amigos, postá-lo no seu blog, tocá-lo no seu podcast, dá-lo a estranhos, etc).

Mas, como eu dizia, o Direito ainda tem um longo caminho pela frente. É difícil permitir brechas na exclusividade de autoria para fomentar a criatividade alheia quando o ciúme e o orgulho ainda são marcas registradas da figura do autor. Não estou escrevendo esse post com intuito de propor qualquer solução para o tema, mas gostaria de deixar umas poucas palavras de um dos maiores doutrinadores (senão o maior) da cultura livre em um âmbito acadêmico. Lawrence Lessig, professor da Faculdade de Direito de Stanford, fala de maneira simples e bem direta da importância das novas ferramentas criativas, sem juridiquês, no pequeno vídeo que você pode ver clicando aqui.

terça-feira, 16 de junho de 2009

90 ANOS DE JACKSON DO PANDEIRO

# conection #
Maurício Sandália e Cia. Corisco de Coco e Rojão - SESC-Santos

txt and vds: Fábio Balaio


Conhecí o Maurício (Rayel) "Sandália" através de uma amiga em comum, a Renata Fernandes, que trabalha com produção de programas para rádio AM em Santos (inclusive o programa que ela produz faz um trabalho interessante de resgate musical, mas isso fica pra outro dia). Eu estava atrás de artistas que estão despontando ou que tem projetos, ou seja, quem faz acontecer na minha região e ela me deu alguns nomes.



Quando fui entrevistá-lo ele me contou que estava com um projeto em homenagem aos 90 anos de nascimento do Jackson do Pandeiro, me contou que era fã e que ao ler uma biografia se deparou com a data e imediamente veio a idéia do show. O próximo passo dele foi chamar a Sandra Magalhães, que tem um espaço alternativo e uma produtora em Santos chamados Corisco Mix, onde o Maurício apresenta um projeto chamado "Noites na Lapa", tocando sambas tradicionais,aliás,no Corisco se apresentam regularmente músicos e artistas independentes (mais assunto pro futuro), a Sandra entrou em contato com o Jorge Lampa, violonista, músico conceituado e doutor em música popular pela Unicamp, para cuidar da concepção artística e musical do show.

Chamaram então o acordeonista Tião César e o pandeirista Edinho Schmidt, músicos que já tocaram com grandes nomes da música nacional, Fernando Santos(zabumba) e Paulo Infante (triângulo e percussão), da ONG "Percutindo Mundos" de São Vicente, além de Monique Cunha, do "Coral Zanzalá" de Cubatão, para dirigir o coral formado por ela mais Juliana Finamore e Wendy. Quando escutei as músicas que eles tinham gravado para o show já percebí que tinha ficado muito bom, então fiquei ansioso pra ver no palco como aquilo ficaria ao vivo.

Bem, dia 10 chegou, véspera de feriado, o show marcado para 21:30h, mesmo horário do jogo da selecinha do anão, chuva caindo, quando cheguei o show já tinha começado e pra minha grata surpresa o lugar estava lotado, o povo já estava ensaiando uns passos na frente do palco, mais umas duas músicas e logo tinha uma dúzia da casais ralando bucho, batendo coxa, arrastando pé e similares.

A banda está muito bem entrosada, a qualidade dos músicos é indiscútivel, todos senhores dos seus respectivos instrumentos , o coral além de ser afinadíssimo é bonito de se ver, visualmente e cenicamente, e como disse o Maurício, sem elas o show perderia todo seu charme. A alegria da banda contagiou o público, no show tocaram todas as músicas consagradas de Jackson e algumas menos conhecidas ou lembradas, e virou um grande "arraiá" no meio, todo mundo dançando quadrilha, no encerramento tocaram "Jack sou brasileiro" do Lenine.

Mas é claro que tiveram que voltar pra um bis, pois se não fosse por estar sendo realizado no SESC e com horário pra acabar, tenho certeza que 3h de show seria pouco pra quem estava lá dentro. Fazia tempo que não me divertia assim.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

PUTAS A FODER



# manda chuva #
Ainda o chato assunto do diploma

txt: Tiago Jucá Oliveira


Primeiramente, eu gostaria de criticar e elogiar o pessoal do Jornalismo B. Criticar por que acho que debater exigência de diploma de jornalismo não leva a nada. Não vai mudar porra nenhuma, independente da obrigação ou não. E também pelo fato que não sou eu a pessoa indicada pra defender um dos lados das questões. Não pertenço a nenhuma entidade, movimento, coletivo ou ong que defenda a não obrigatoriedade. E por último, criticar por ter chamado uma pessoa do sindicato que não quer que vocês exerçam o jornalismo. Duvido que haja mais de cinco blogs, em Porto Alegre, melhores que o Jornalismo B. E eu, uma pessoa formada, sou muito pior fotojornalista do que a Thais, que é bióloga, e que faz fotos pro Jornalismo B, prO DILÚVIO e pro Jornal Já. Se depender do sindicato, seus dias de jornalismo e fotojornalismo estão contados. Vocês convidaram o inimigo pra trincheira.

Mas eu os elogio ao mesmo tempo, pois debater jornalismo sempre é bom. E também agradeço as palavras do Alexandre Lucchese sobre minha pessoa e sobre O DILÚVIO ao nos qualificar como um dos debatedores. Diz ele, no próprio blog, semana passada: “O Jucá e sua O DILÚVIO representam o que há de mais independente, autônomo e livre na imprensa de Porto Alegre – quer o próprio Jucá queira reconhecer isso ou não. Desde seus temas e pautas, até sua organização e ’sede’, passando pela diagramação e textos, O DILÚVIO congrega a grande maioria das características que qualquer veículo alternativo e informal gostaria de ter. E, acredito, é alguém que tem este tipo de experiência durante tantos anos que poderá levantar esta discussão de maneira genuinamente rica perante a entidade que busca formalizar o exercício do jornalismo.”

E acho que ele tem uma certa razão no que disse. O DILÚVIO é uma referência nacional em cultura livre, em reciclagem de idéias, em autonomia editorial, em jornalismo cultural. Já ganhamos uma bolsa da Fundação Avina pra produzir uma série de reportagens sobre licenças livres e multiplicação do conhecimento. Entre os 50 veículos contemplados com a bolsa de investigação, somente O DILÚVIO era uma publicação independente, no meio de grandes como CNN, Rádio CBN, Carta Capital, El Clárin, La Nación, Jornal do Conmércio, etc.

Também já fomos convidados pra debater jornalismo, com outras 40 experiências bem sucedidas de modelos alternativos de comunicação, no evento Onda Cidadã, promovido pelo Itaú Cultural. Recentemente, fomos escolhidos a 6º melhor publicação impressa do país, através do Prêmio Dynamite.

Portanto, se não sou o apropriado pra debater diploma, tenho uma certa credibilidade pra discutir jornalismo. Também temos forte personalidade pra dizer que ninguém vai nos obrigar a ter somente jornalistas com diploma em nossa revista. Leis que não consideramos justas, nós não obedecemos. Isto se deve ao nosso maior inspirador que é Henry Thoreau, autor do clássico A Desobediência Civil. Diz ele, em certo trecho do livro:

"Deve o cidadão, sequer por um momento, ou minimamente, renunciar à sua consciência em favor do legislador? Então por que todo homem tem uma consciência? Penso que devemos ser homens, em primeiro lugar, e depois súditos. Não é desejável cultivar pela lei o mesmo respeito que cultivamos pelo direito."

Conclui o mestre: "A lei jamais tornou os homens mais justos, e, por meio de seu respeito por ela, mesmo os mais bem-intencionados transformam-se diariamente em agentes da injustiça."

O DILÚVIO é uma revista que comete dezenas de desobediências, ilegalidades por dia. É só dar uma olhada na nossa comunidade no orkut, que tem quase 3.500 membros subversivos. Milhares de downloads de músicas protegidas pelo direito autoral são realizados a partir dos links disponibilizados lá na comunidade. Nosso perfil no orkut já foi denunciado por desrespeito aos direitos autorais e excluído duas vezes. Já criamos o terceiro, e rapidinho já chegamos a 500 amizades solidárias. E criaremos pela quarta vez, se for necessário.

No nosso blog, estamos cometendo outro delito, quase que diariamente. Utilizamos fotos, ilustrações e charges de outras pessoas sem pedir permissão e sem dar créditos ao autor. Motivo: são obras licenciadas em copyright, e não em Copyleft, Domínio Público ou Creative Commons. A gente faz pirataria e plágio com aqueles que não liberam a obra pra livre reprodução. E incentivamos isso. A propriedade é um roubo, disse Proudhon. Eu digo: a propriedade intelectual também é um roubo.

Duas pessoas da redação criaram uma obra que critica a desgovernadora Yedinha, e omitimos o nome destas duas pessoas. Ela está lá, nua, esperando que qualquer pessoa a use, que a plagie. E já vimos que ela já se espalhou por aí, no orkut já vi vários álbuns de fotografias com a obra lá, como se fossem de autorias de outras pessoas, e não nossa.

Não queremos ser donos de obras jornalísticas e artísticas. Queremos que as idéias se espalhem aos milhões. Pra mim é muito mais importante ver uma idéia minha sendo difundida e ampliada, modificada pra melhor e plagiada, do que dizer e obrigar que eu sou o autor dela. Esses dias eu vi no site do jornal O Globo a reprodução integral dum texto que já havia sido publicado na revista O DILÚVIO. Eles não citaram o autor da matéria. Problema nisso? Pra gente não.

Manu Chao, grande referência musical pra gente, também já reproduziu no seu site a entrevista que fizemos com ele, na íntegra e citando a fonte, sem nos pedir permissão, pois como usamos uma licença Creative Commons, já está pré-autorizada pra qualquer pessoa do mundo reproduzir nossas fotos e reportagens, da maneira como ela quiser, sem precisar nos contatar pra pedir autorização. Depois de publicado, nosso conteúdo deixa de ser de nossa propriedade e passa a ser do mundo. Assim como nossos filhos, dos quais somos pais, mas não somos donos. Depois de criados, eles também passam a ser do mundo em que vivem, sujeitos a ser justamente o oposto daquilo que os pais eram.

Quando alguém pega uma idéia nossa, não deixamos de possuir esta idéia, não nos sentimos roubados ou sem idéias. Assim como alguém acende uma vela na nossa, a gente não fica sem luz. Quem disse essa frase bonita não fui eu, foi o Thomas Jefferson, e está em domínio público. Se estivesse em copyright, eu diria que a frase era minha, ou não citaria o autor.

Enquanto isso, no senado federal, tramita o projeto de lei Azeredo, que vai vigiar e punir qualquer pessoa que fizer download ilegal de conteúdo protegido pelos direitos autorais. Se eu quiser fazer uma resenha do novo álbum da Sandy Junior, a filha do Chitãozinho e Xororó, eu vou precisar baixar o disco na web. A gravadora e a produtora dela não nos enviam CDs. Enviam somente a grandes meios de comunicação. Se eu quiser agir de forma legal, ou compro na loja, ou pago pra baixar no itunes. Isso vai me custar mais de 20 reais, quase 30. Ou seja, eu vou ter que pagar pra ajudar na divulgação do novo disco dela. Quem deveria me pagar era ela, pra eu ter que ouvir aquela bosta e ainda escrever uma resenha.

Ao mesmo tempo, aqui na província, um professor universitário e jornalista é censurado por uma empresa, que usa um cascateiro como laranja. A crítica mais contudente ao péssimo jornalismo que esta empresa faz está calada. Dizem que é uma pessoa processando outra por difamação. Não. É uma empresa censurando um jornalista por trazer a verdade a tona.

Há somente em Porto Alegre 26 emissoras de televisão e rádio com as outorgas já vencidas. Quem diz isso não sou eu, é a Anatel, é só entrar no site deles e conferir. E pra trabalhar nessas empresas que deveriam estar fechadas pela justiça, há pessoas aqui defendendo que se tenha o diploma. Como não vejo muita diferença em uma quadrilha de traficantes e estas emissoras, creio que vá se pedir diploma pra ser avião de traficante. Jornalista que trabalha numa dessas emissoras é um criminoso também. É cúmplice disso que eu qualifico como o pior jornalismo já feito na história no país. Nem nas ditaduras de Vargas e dos militares se fazia coisa pior.

Este ato contra a liberdade de expressão vai calar diversos comunicadores de rádios comunitárias. Já são calados na base da porrada pelo governo Lula, que é que mais fechou rádios comunitárias. Rádios comuntárias que são criminalizadas pelas rádios comerciais, são denunciadas e chamadas de piratas. Pirata é a rádio Gaúcha, a rádio Guaíba, a rádio Band, a rádio Cultura, a rádio da Universidade, a rádio Atlântida, a rádio Itapema, a RBS TV, a Band TV, etc. Todas elas estão com concessão pública vencida. Note, há duas rádios públicas que deveriam estar fora do ar. E nas rádios comerciais, governos municipais, estaduais e federal investem verbas publicitárias, pagas pelo nosso bolso.

E fiquei sabendo semana passada que meus amigos da Black Sonora e a Lica Tito tiveram que conseguir liminar pra poder se apresentar ao vivo. O que mais vai ser preciso ter diploma pra poder se expressar? Só falta os tucanos apresentarem um projeto que impeça analfabetos de concorrerem a presidência.

Então você soma tudo disso: censura a jornalistas + limitar que somente uma elite possa se comunicar + fechamento de rádios comunitárias + grandes emissoras funcionando sem outorgas + proteção da não difusão do conhecimento + proibir artistas de se apresentarem ao vivo + concentração de emissoras de radio e TV em poucas mãos = menos democracia e péssimo jornalismo

Esta exigência besta de diploma quer é calar a voz da maioria. Somente uma elite formada e diplomada poderá ser capaz de fazer o serviço sujo de uma dúzia de famílias que comandam a comunicação e a mídia no Brasil. Não me venham com esse papo furado que é preciso diploma pra segurar um microfone, alisar o cabelo e dizer que hoje vai chover na fronteira e fazer frio na serra. O cara que tinha mais talento pra fazer isso não tinha diploma de jornalista, e hoje é deputado estadual. Era muito mais divertido ele do que essas menininhas formadas na Fabico ou Famecos de cabelo alisado. Qualquer Maísa dá a previsão do tempo.



TOMATE CRU

Duas meninas comentaram, uma no nosso blog, e outra no twitter: então me devolva o dinheiro que gastei na faculdade. Não pude deixar de responder: se tivesse estudado como eu estudei, tinha passado numa federal. Porra, a preocupação delas é somente dinheiro. Em nenhum momento parou pra pensar que elas, com diploma, tem uma qualificação a mais de quem não tem.

Não é exigido, pra ser jornalista, estudar inglês, francês e castelhano, fazer mestrado e doutorado, tirar um curso de fotografia no SENAC, freqüentar algumas aulas na história, cursar photoshop, ler livros sobre a profissão que os professores nunca exigiram ou jamais recomendaram. Vou eu pedir a livraria meu dinheiro de volta porque a lei não obriga ler Darcy Ribeiro pra exercer a profissão de jornalismo? Claro que não. Eu procurei me qualificar. Por isso que entrei numa faculdade. Foi lá que conheci, além do Darcy Ribeiro, o Eric Hobsbawm e o Marshal McLuhan.

O presidente da Fenaj ilustrou um caso pra defender a obrigatoriedade do diploma. Um cara que pediu carteira de jornalista, mas que era analfabeto. Eu pergunto: você tem medo de concorrer e perder emprego pra um cara analfabeto? Então vaza, meu filho, enquanto é tempo. Desista do jornalismo e vá fazer outra coisa, vá plantar batatas.

Também tem alguns que dizem que blog não é jornalismo, eu pergunto: mas pra trabalhar no blog da folha online? Ou num blog da rede globo? Neste caso blog é jornalismo? Levo a crer que jornalismo então é somente aquilo feito na grande mídia. O blog da Petrobrás foi um bom exemplo esta semana de um bom jornalismo, muito melhor que os jornais. O blog d’O DILÚVIO, o blog do Jornalismo B, o blog do Celeuma, o blog do Marcelo Tas, o blog do Luis Nassif, o blog do Wladymir Ungaretti, entre outros, não são jornalismo? Digo mais: se você estuda jornalismo e ainda não tem um blog, escolheu a profissão errada.

E livros como “Estação Carandiru”, do Drauzio Varela; “Noites Tropicais” e “Tim Maia – Vale Tudo”, do Nelson Motta; “Os Sertões”, de Euclides da Cunha; “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, de John Reed; “A Sangue Frio”, de Truman Capote; “O Mistério do Samba” e “Mundo Funk Carioca”, de Hermano Vianna. Todos esses livros, entre tantos, não são jornalismo? Preciso de diploma pra escrever um livro reportagem?

E filmes? “Ônibus 174”, do José Padilha; “Notícias de uma Guerra Particular”, do João Moreira Salles. Estes filmes não são jornalismo? Se forem, preciso ter diploma pra fazer um documentário?

E quanto a esses caras que vou citar. MINO CARTA – Quatro Rodas, Carta Capital, Veja; ANDRÉ FORASTIERI – Bizz, Set, General, Conrad, Folha, MTV; ZIRALDO – O Pasquim, Bundas, Palavra; MACOS FAERMAN – Versus, Singular e Plural; SEBASTIÃO OLIVEIRA – Caac – centro de artes e alternativas de cidadania; ELIEZER MUNIZ – projeto canal motoboy; LOBÃO – Outra Coisa, MTV; IDELBER AVELAR – brilhante cobertura dos ataques israelenses à Palestina; REGINA CASÉ – Central da Periferia; HERMANO VIANNA – Música do Brasil, Overmundo e Central da Periferia; ARNALDO JABOR – Jornal da Globo; RONALDO LEMOS - Overmundo. Em comum entre todos estes nomes é que nenhum deles tem diploma. Vamos queimar a Carta Capital? Vamos tirar o Overmundo do ar?

Também dizem que assim que não for mais exigido o diploma, as empresas vão demitir os jornalistas formados. Alguém aqui acredita que a Globo vai demitir o Caco Barcelos ou o Carlos Eduardo Dornelles? Alguém acredita que O DILÚVIO não vai mais querer entre seus colunistas nomes como Bruno Lima Rocha e Wladymir Ungaretti. Só os medíocres acreditam nisso, pois só eles tem medo de perder emprego, porque sabem que são medíocres.

Nessa sexta que passou houve outro debate sobre o assunto, e ouvi várias vezes a palavra patrão. Que com diploma o patrão não vai nos explorar, vai pagar melhor, não vai nos demitir pra contratar outro em seu lugar. E notei que a grande preocupação dessas pessoas é não perder emprego nem ganhar mal na grande mídia. Elas não querem abolir a grande mídia, não querem boicotar a grande mídia. Não. Elas querem continuar sustentando, com diploma e mais qualidade, a grande mídia. Quere continuar dando coro a manipulação, engrossando o caldo da mentira. Mas com diploma, claro, a mentira terá mais qualidade. Um cara que não estudou jornalismo dificilmente estudou e sabe os quatro padrões básicos de manipulação utilizados pela grande imprensa. Ou será que eles acham que vão inverter a pauta do MST para um novo ângulo, para uma nova ótica?

Cito o grupo Krisis, autor do brilhante livro Manifesto Contra o Trabalho: “Trabalho e capital são os dois lados da mesma moeda. A esquerda política sempre adorou entusiasticamente o trabalho. Ela não só elevou o trabalho à essência do homem, mas também mistificou-o como pretenso contra-princípio do capital. O escândalo não era o trabalho, mas apenas a sua exploração pelo capital. Por isso, o programa de todos os "partidos de trabalhadores" foi sempre "libertar o trabalho" e não "libertar do trabalho". Tanto do ponto de vista do trabalho quanto do capital, pouco importa o conteúdo qualitativo da produção. O que interessa é apenas a possibilidade de vender de forma otimizada a força de trabalho. Os trabalhadores das usinas nucleares e das indústrias químicas protestam ainda mais veementemente quando se pretende desativar as suas bombas-relógio. E os "ocupados" da Volkswagen, Ford e Toyota são os defensores mais fanáticos do programa suicida automobilístico. Não só porque eles precisam obrigatoriamente se vender só para "poder" viver, mas porque eles se identificam realmente com a sua existência limitada. Para sociólogos, sindicalistas, sacerdotes e outros teólogos profissionais da "questão social", trabalho forma a personalidade. Personalidade de zumbis da produção de mercadorias, que não conseguem mais imaginar a vida fora de sua Roda-Viva fervorosamente amada.”

O jornalista Hélio Paz, que pensa parecido comigo sobre o diploma, disse: “os sindicatos vivem essa atrasada visão dicotômica de burguesia x proletariado quando o jornalista JAMAIS se constituiu em um proletário ou em um escravo miserável. Além disso, não enxergam bem outra possibilidade que não seja a de serem empregados injustiçados de um patrão totalitário.” Citei ele porque também ouvi muitos argumentos do tipo “jornalista é diferente de comentarista e colunista; o primeiro faz reportagens e os outros opinam”. Então jornalista não deve opinar? Jornalista é o pau mandado do editor que o coloca pra cobrir o que interessa a empresa?

Vou procurar adaptar a situação do jornalismo pra outra profissão bem parecida com a nossa. Digamos que haja diploma pra ser prostituta. Você acredita que uma diplomada diz pro patrão dela na zona e diz: “olha, eu só transo com o Brad Pitt e com o Rodrigo Santoro”. Mesmo com diploma, ela vai transar com qualquer um que pagar, seja gordo ou magro, alto ou baixo, bonito ou feio, vascaíno ou flamenguista, cabeludo ou careca, cepacol ou desdentado. E se pensar que nem pensam os favoráveis a exigência de diploma, vai fazer passeata em Brasília pra impedir que qualquer puta sem nível superior faça programa nas esquinas.

Eu digo: com diploma ou sem diploma, quem pensa assim vai sempre acabar se fudendo. E sendo assim, só posso dar este conselho: jornalista com caráter de puta que nem você tem mesmo é que tomar no cu.

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